Mectron lança livro dos seus primeiros 20 anos e revela detalhes de seus programas
Alexandre Galante
O livro “No caminho da precisão” descreve a história da empresa e de seus sócios, inclusive contando um pouco sobre o “grupo do míssil” que trabalhou no Iraque – prestando assistência numa pesquisa para o desenvolvimento de uma arma guiada – e foi surpreendido pela guerra de 1991, contra o Kuwait.
Durante a apresentação do livro pudemos conversar com três dos sócios-fundadores da empresa, Antonio Rogerio Salvador, Wagner Campos do Amaral e Azhaury da Cunha e também com André Paraná, da Odebrecht Defesa & Tecnologia (ODT).
No bate-papo fizemos muitas perguntas sobre a situação atual da Mectron e de seus programas de desenvolvimento, sua atuação no mercado internacional e as perspectivas da empresa após a aquisição pela ODT.
Começamos perguntando sobre o míssil ar-ar Piranha MAA-1, cujo primeiro lote foi entregue à FAB. Segundo os diretores da Mectron, o desempenho do míssil foi considerado satisfatório pela FAB e agora a empresa se dedica ao desenvolvimento do MAA-1B (Bravo), que terá melhores capacidades que a primeira versão.
Ao perguntarmos se o MAA-1B não compete com o A-Darter, foi dito que os dois mísseis são de nichos diferentes. O MAA-1B é mais barato e visa o emprego em aviões de combate de gerações mais antigas, enquanto o A-Darter se destina a caças de 4a. geração.
Com relação ao míssil antirradiação MAR-1, a Força Aérea do Paquistão também está satisfeita com o desempenho do arma e agora a Mectron trabalha para integrá-la ao caça chinês JF-17 (FC-1). A Mectron desenvolveu um planejador de missão e simulador de sequência de lançamento para os pilotos dos Mirage-III/ V ROSE paquistaneses, que permite o treinamento de todos os procedimentos para missões de supressão de radares inimigos. O painel do planejador é idêntico do Mirage III/5 modernizado pelo Paquistão.
Depois do bate-papo, fizemos um tour por algumas instalações da Mectron e pudemos conhecer a sala de integração de sistemas na qual o engenheiro Antonio Salvador brincou conosco apontando para uma caixa e dizendo: “Você pode não acreditar, mas dentro daquela caixa existe um Mirage 5”. Ele depois explicou que o “bus” de dados do Mirage 5 paquistanês estava ali dentro, possibilitando a integração do míssil nas instalações da Mectron. Quando o míssil foi levado para o Paquistão e plugado no Mirage 5 do Paquistão, funcionou perfeitamente!
Quanto ao míssil anticarro MSS1.2 AC, a Mectron está entregando um lote piloto de testes para o Exército Brasileiro (EB) homologar, enquanto o Corpo de Fuzileiros Navais deve receber um lote de combate. O CFN também está participando dos testes de tiro de homologação do EB.
Com relação ao míssil antinavio MANSUP, o desenvolvimento prossegue sem percalços e o próximo passo será integrar uma plataforma de navegação inercial nacional. O MAN-1 será totalmente compatível com o Exocet MM-40, usará as mesmas interfaces e será totalmente compatível com seu lançador. Desta forma o MANSUP poderá substituir o MM-40 com facilidade e custo baixo, o que facilitará a exportação para países que já empregam Exocet.
Após o desenvolvimento do MANSUP mar-mar, deve ser desenvolvida a versão ar-mar para lançamento a partir de aeronaves.
Uma empresa inspiradora
Os fundadores da Mectron, formados no ITA, após terem assistido à falência da Engesa e ao quase fechamento da Avibras, decidiram mesmo assim abrir uma empresa em 1991 para oferecer soluções de automação industrial no Vale do Paraíba em São Paulo. A ideia inicial não era participar mais de projetos militares, pois a experiência anterior não tinha sido boa.
Mas o destino prega peças e a Mectron foi convidada pela Marinha para desenvolver a modelagem em software que testou os sistemas antiaéreos oferecidos para a modernização das fragatas classe “Niterói”.
A Mectron depois acabou pegando a continuação do desenvolvimento do míssil Piranha, que já tinha passado por duas empresas, DF Vasconcelos e Órbita, que faliram. Mais tarde a empresa também foi encarregada de continuar o desenvolvimento do antigo míssil anticarro Leo, que virou o MSS1.2.
Enfrentando crescentes crises econômicas, alta inflação, a falta de investimentos e encomendas, a Mectron esteve diversas vezes perto de fechar, mas persistiu e conseguiu sobreviver devido à confiança e dedicação de todos os seus profissionais.
De 2007 a 2011, a Mectron conseguiu o apoio do BNDES, o que permitiu um maior aporte e melhor governança para os projetos da empresa. Com a aquisição pela Odebrecht Defesa & Tecnologia em 2011, a Mectron agora poderá crescer e disputar o acirrado mercado internacional de mísseis guiados.
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