Ministros usam jatos da FAB para turbinar suas pré-campanhas
Agendas oficiais pelo país mal disfarçam eventos que reforçam candidaturas
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De todos os ministros candidatos, a maior ofensiva, com a utilização escancarada dos programas Minha Casa Minha Vida e entrega de caminhões e retroescavadeiras do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC2) a prefeitos de seus estados, tem sido da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, que enfrenta dificuldades para emplacar sua candidatura contra o governador tucano Beto Richa, no Paraná.
Gleisi é seguida nessa lista pelos ministros da Saúde, Alexandre Padilha, prioridade das prioridades do PT em São Paulo, e o da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, escalado para enfrentar o reduto aecista em Minas Gerais.
Na penúltima semana de novembro, por exemplo, Gleisi e o vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PT), fizeram uma propaganda maciça, nas redes sociais, sobre uma nova rodada de entrega de máquinas e caminhões em cidades do interior, realizada no sábado da semana passada, dia 23: “No sábado, governo federal vai entregar 54 caminhões basculantes a cidades do Paraná através do #PAC2”, anunciou a ministra, em sua página do Twitter.
Três dias antes, Vargas, que sempre acompanha a ministra, junto com o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) a eventos políticos com os prefeitos, já tinha anunciado o evento no Twitter: “54 municípios do Paraná receberão caminhões com caçamba neste sábado. Estarei na Lapa ao lado da ministra Gleisi”.
E não é só em viagens e eventos públicos no estado que Gleisi tem participado de atos com conotação político-eleitoral. No gabinete da Casa Civil também recebe uma romaria de prefeitos e políticos locais — tudo devidamente registrado nas redes sociais por André Vargas: “Prefeitos de diversas cidades do Paraná foram recebidos hoje no gabinete da ministra Gleisi Hoffmann”, alardeou em 23 de novembro. Também postou registro do evento no Palácio do Planalto, com a foto oficial da presidente Dilma ao fundo.
No dia 9 de novembro, um sábado, Gleisi fez novamente um ato com prefeitos de Londrina, com Vargas e Zeca Dirceu. À FAB, ela requisitou um jatinho para duas pessoas; em nota, sua assessoria chegou a anunciar a presença do ministro da área, Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, mas ele não apareceu.
Em 4 de outubro, Gleisi viajou ao Paraná duas vezes com Dilma para entregar máquinas e anunciar bondades do governo. Em sua página na internet, após a passagem de Dilma e Gleisi pelo Paraná para entregar máquinas, Zeca Dirceu mostrou fotos de “banners” gigantes dele, ao lado das duas, com o logotipo do PT, pregado em uma das caçambas.
Gleisi e Dilma tinham entregue pessoalmente a prefeitos paranaenses 179 chaves de caminhões, retroescavadeiras e motoniveladoras. Mas nos dias seguintes, Zeca percorreu os municípios e, em novos eventos com os prefeitos, entregou de novo as mesmas máquinas. As “reentregas” foram realizadas com discursos e faixas de agradecimentos ostentando os nomes de Zeca, candidato à reeleição, de Dilma e de Gleisi.
Padilha recepciona médicos
A ministra mantinha agenda discreta de candidata até outubro. Os voos solicitados por ela à FAB, até aquele período, tinham Curitiba como destino, onde ela reside. Porém, em novembro ela começou a circular mais pelo Paraná.
Executor do programa-vitrine com o qual Dilma quer alavancar sua reeleição, o Mais Médicos, o ministro da Saúde também tem mantido uma intensa agenda de viagens, com prioridade para São Paulo. Com o mote de receber médicos estrangeiros e discutir a necessidade dos profissionais nas cidades, ele percorre o país, sempre com profissionais para registrar seus passos e suas declarações. Material que poderá servir para sua candidatura ao governo de São Paulo e à presidente, à reeleição.
No domingo, 27 de outubro, por exemplo, Padilha requisitou um jatinho para ir de São Paulo a Recife, com equipe de assessores e fotógrafo, para receber mais uma leva de médicos estrangeiros; depois voltou a São Paulo, também em aeronave da FAB — o que é legal. Na véspera, viajara de Brasília a Goiânia, para recepcionar outros médicos. Viagens também devidamente documentadas por sua equipe.
Até mesmo ministro que não tem o que entregar — uma vez que a pasta que comanda não tem como finalidade conclusão de obras ou serviços — aparece assinando ordem para liberação de verbas ou entregando obras.
Caso de Fernando Pimentel, que também vem assumindo o lugar de Dilma na entrega de máquinas do PAC2 a prefeitos mineiros. Em 18 de outubro, ele visitou Juiz de Fora, Montes Claros, Paracatu e Belo Horizonte, onde mora. Um dia após o presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência, senador Aécio Neves (MG), participar de um grande encontro regional no Triângulo Mineiro, em outubro, Pimentel foi a Uberaba, onde entregou caminhões e tratores. Em 20 de novembro foi a vez de ele entregar, em Governador Valadares, 70 máquinas retroescavadeiras a prefeitos e prefeitas do Vale do Rio Doce.
Em 2 meses, Ideli foi dez vezes a Santa Catarina
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que terá de dar satisfação à Comissão de Ética da Presidência sobre o uso de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal para participar de agenda política, intensificou suas viagens a Santa Catarina em agosto e setembro. Foram cinco viagens em cada mês — incluindo o episódio no qual se deslocou a bordo da aeronave que tem convênio com o Samu para transferir acidentados. A oposição tem explorado o caso.
— Enquanto a dona Ideli passeava no helicóptero do Samu fazendo campanha, ele deixou de atender 116 casos graves em acidentes com mortes. Isso é uma barbaridade! — disse o líder da minoria no Senado, Mário Couto (PSDB-PA).
De acordo com relatório dos voos divulgados pela FAB, as viagens de Ideli para Florianópolis ou outras cidades de Santa Catarina se deram, na maioria das vezes, às sextas-feiras. Porém, há outras atividades que ela desenvolveu durante a semana. Em 29 de agosto, por exemplo, uma quinta-feira, Ideli visitou obras no campus da Universidade Federal de Santa Catarina, em Joinville, e anunciou a liberação de recursos para a cidade.
Entrega de caminhões-pipa
Menos de um mês depois, em 13 de setembro, lá estava Ideli novamente na cidade, dessa vez para receber o título de cidadã honorária de Joinville. Em 18 de outubro, ela foi à cidade de Gaspar para tratar das obras de uma ponte.
Outro que tem cuidado muito bem de suas relações políticas no seu estado é Aguinaldo Ribeiro, ministro das Cidades. É difícil uma semana em que ele não receba alguém da Paraíba ou viaje para lá. Em 1º de novembro, por exemplo, esteve em Mamanguape para entregar casas. Em 24 de outubro, concedeu audiências para três prefeitos paraibanos das cidades de Bayeux, Coxixola e Várzea. No véspera, outros dois prefeitos estiveram com ele: os representantes de Lucena e Algodão de Jandira. No dia 18 de outubro, uma sexta-feira, passou o dia em João Pessoa onde, entre outras atividades, entregou caminhões-pipa.
Uso de aviões em atos com viés eleitoral é negado
Os ministros negaram que estejam usando os jatinhos da Força Aérea com o objetivo de se ir aos seus estados para fazer campanha. A assessoria de imprensa da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, informou que ela participa de eventos para os quais é convidada, desde que não interfiram em suas atividades em Brasília.
“Vale lembrar que é competência da ministra–chefe da Secretaria de Relações Institucionais a interlocução com estados, Distrito Federal e municípios”, afirma a assessoria.
A assessoria da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, declarou que ela foi a cidades paranaenses recentemente para representar a presidente Dilma Rousseff em eventos oficiais. Por meio da assessoria, Gleisi disse que “fazer entregas de equipamentos e obras de programas de governo é parte das atribuições dos ministros, inclusive da Casa Civil, que coordena implantação e execução de muitos programas”.
A Casa Civil segue: “A inauguração de obras e a entrega de equipamentos são também prestação de contas à população. Um governante se elege, assume compromissos com a sociedade e tem que fazer as entregas. A equipe auxilia o governante. Como auxiliar da presidente, a ministra Gleisi tem colaborado nesse sentido”.
O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, negou, por sua assessoria, que priorize atendimento a políticos de seu estado: “O ministro tem a prática de manter as portas abertas do ministério para todas as autoridades que o procuram”.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio informou que Fernando Pimentel segue as regras para o uso das aeronaves da FAB. “O texto autoriza aos ministros de Estado a utilização das aeronaves da FAB nas viagens a serviço e nos deslocamentos entre Brasília e suas cidades de residência permanente, que, no caso do ministro, é Belo Horizonte. O ministro passa os finais de semana na capital mineira desde que assumiu o ministério. É onde mora a família”, afirmou.
O Ministério da Saúde informou que a agenda de Alexandre Padilha não é pautada por diretrizes político-partidárias, nem eleitorais: “O ministro cumpre extensa agenda de trabalho, composta de compromissos e atividades para o acompanhamento e o monitoramento de programas e ações desenvolvidos pelo Ministério da Saúde, em parceira com as secretarias estaduais e municipais de Saúde. Além disso, o ministro vistoria o andamento de obras e acompanha a execução dos programas federais para a Saúde em unidades de saúde em todos os estados brasileiros”.
FONTE: O Globo via resenha do Exército (reportagem de Maria Lima e Chico de Gois)
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