FAB subsônica
Eliane Cantanhêde
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Os caças que fizeram o tradicional voo rasante foram dois Mirage da década de 1970* que vão virar sucata em dezembro. Uma homenagem aos velhos guerreiros, é verdade, mas também uma lembrança contundente de que os substitutos nunca chegaram.
À porta do coquetel, o vice Michel Temer, o ministro Celso Amorim e os padrinhos e os agraciados com a medalha da Ordem do Mérito Aeronáutico tinham à disposição exemplares da revista “Aero”, editada pela FAB e cheia de recados.
A reportagem “Adeus, Mirage” registra um lamento –ou advertência?– no subtítulo: “Em 31/12, a FAB aposenta seus Mirage 2000. Caças F-5, mais lentos e com alcance menor, vão se revezar na defesa do espaço aéreo da capital federal”.
O texto vai além: “No critério velocidade, o Brasil perderá uma capacidade (…) presente nas Forças Aéreas de Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela”. Num país continental como o nosso, velocidade é fundamental.
Mas a indefinição dos novos caças traz muitos outros prejuízos além da perda em velocidade para praticamente toda a América do Sul, onde o Brasil é líder natural. Uma delas é a derrota para o tempo numa área essencial: tecnologia. Quanto mais atraso, maior o prejuízo.
Quem acompanha o leilão do FX-2, que se arrasta há 18 anos e tem cópia única e trancada a sete chaves no gabinete de Dilma, informa que o Rafale, francês, pelo qual Lula tanto se bateu, está fora de cogitação. Restam o Gripen NG, sueco, e o F-18, dos EUA. Um foi o vencedor do relatório da FAB, o outro foi o que mais melhorou sua oferta a partir de 2010.
Que Dilma bata logo o martelo.
FONTE: Folha de São Paulo, via Notimp
*NOTA DO EDITOR: a colunista faz uma pequena confusão (bastante comum na imprensa) em relação ao modelo de Mirage atualmente em uso na FAB, e não é pedantismo de nossa parte apontar o engano: os caças adquiridos na década de 1970 foram os Mirage IIIE/D (um lote de 16 recebidos novos de fábrica em 1972 e recompletado por outros tantos, fornecidos usados pela França nas duas décadas seguintes) e que foram desativados no final de 2005. Já os que vão “virar sucata em dezembro” são modelos Mirage 2000 C/B, recebidos usados entre 2006 e 2008 dos estoques franceses e fabricados em meados da década de 1980.
Os caças Mirage III e Mirage 2000, apesar do nome comum (na verdade, uma estratégia de marketing) são de gerações bastante diferentes tecnologicamente, embora isso não tire o mérito do artigo em chamá-los de “velhos guerreiros” pois os Mirage 2000 em uso na FAB, apesar de terem desempenho até hoje competitivo em velocidade, raio de combate e manobrabilidade, de novos não têm nada, e seus sistemas eletrônicos estão mais do que ultrapassados.
Porém, apesar de um ou outro escorregão técnico mais do que desculpável, o Poder Aéreo concorda plenamente com a posição da articulista: “Que Dilma bata logo o martelo”. E aproveitamos para parabenizar Cantanhêde pelo recebimento da Medalha do Mérito Aeronáutico (abaixo, vídeo da FAB sobre a cerimônia realizada ontem). Na lista de links mais abaixo, colocamos alguns dos artigos da articulista que foram replicados aqui como “clipping”. Os textos servem como uma boa retrospectiva sobre esta interminável novela de compra de caças.
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