Ana Maria, os Ovnis e a Força Aérea Brasileira

21

Jorge Luiz Calife

Ana Maria Braga anda doida para ser abduzida. Terça-feira passada ela esqueceu momentaneamente as receitas de bolinhos de carne e a vida das celebridades, e dedicou o programa “Mais Você” aos objetos voadores não identificados. Toda empolgada, a loira recebeu um ufólogo e comentou os documentos do Ministério da Aeronáutica, recentemente liberados para consulta. A apresentadora contou que seu sonho é ser capturada por alienígenas e levada para outra galáxia. Mas não conseguiu o apoio do Louro José, que se recusou a entrar em uma fria dessas.

Essa conversa de discos voadores e alienígenas nunca sai de moda. Quando eu era criança eles estavam em toda a parte. Nos filmes, nas histórias em quadrinhos e nos álbuns de figurinhas, como o “Conquistas Modernas” aí da foto, que é de 1960. O artista que fez a colorida capa imaginou uma batalha entre humanos e alienígenas. Com um jato Douglas X-3 Stilleto explodindo um colorido Ovni. Na vida real esse tipo de encontro foi bem mais pacífico do que imaginava a ficção. E aconteceu no Brasil, e não no espaço sideral.

Em 1986 eu era um jornalista recém-formado, trabalhando no diário de maior prestígio do Rio de Janeiro. Ele mesmo, o falecido Jornal do Brasil (JB). Na noite de 19 de maio daquele ano, 21 objetos estranhos foram detectados sobre o Brasil, no céu em torno de São José dos Campos. O então coronel Ozires Silva viajava para o Rio de Janeiro em um avião bimotor e teve contato visual com as luzes. Que eram amarelas e se deslocavam com velocidade supersônica. Caças F-5 do Campo dos Afonsos, no Rio, e os Mirage de Anapolis, no Planalto Central, foram acionados. E não conseguiram alcançar os objetos.

Na época, o Ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Moreira Lima, prometeu um relatório oficial sobre o incidente, no máximo em 30 dias. Na verdade o documento, que só foi liberado no ano passado e estava nas mãos da Ana Maria Braga, mostra uma reprodução das telas de radar do Cindacta, com os contatos de radar marcados. E conclui que o movimento dos objetos, voando em formação com os caças da FAB, indica que eram controlados por algum tipo de inteligência.

Na época escrevi uma matéria para o JB comparando o caso brasileiro com outro idêntico, que aconteceu em Washington, em 1952. Nos dois casos a presença de objetos luminosos foi detectada no radar, e visualmente, por pilotos de aeronaves civis que se aproximavam da capital americana. O governo enviou caças subsônicos, os F-94 Starfire, para perseguir os Ovnis, que estavam muito perto do corredor restrito da Casa Branca. Como no caso brasileiro, a perseguição foi infrutífera. Os pilotos relataram luzes azuis voando em velocidade hipersônica. E a coisa toda foi atribuída a uma suposta inversão térmica. Que poderia explicar os contatos de radar, mas não as luzes brincando de pique com os aviões de caça.

Sem importância. O fato é que depois de meio século de “avistamentos” ninguém dá muita importância aos misteriosos Ovnis. Nem a Rede Globo, com 25 quilos de documentos secretos da FAB, relatando a presença de objetos estranhos nos céus do Brasil, de 1952 a 2010. A equipe de jornalismo podia ter feito uma bela matéria para o Fantástico ou o Jornal Nacional. Mas preferiram entregar tudo para a Ana Maria Braga.

Afinal, os arruaceiros destruindo ônibus e agências bancárias fazem muito mais barulho do que os discretos discos voadores. Que continuam andando por aí, junto com os aviões de carreira.

Pessoas como a Ana Maria Braga sonham com um contato imediato de terceiro grau. Com os alienígenas pousando e convidando os humanos para embarcarem em suas luminosas espaçonaves. Mas o fato de eles manterem distância de nós é uma prova de que existe inteligência lá em cima.

Algo que ainda não foi comprovado aqui em baixo.

FONTE: Diário do Vale (RJ)

wpDiscuz