Um céu cinzento
Quando a pequena esquadrilha sobrevoava a baía de Santos, um dos observadores localizou um navio de grandes dimensões fundeado diante do farol da Ilha da Moela. Era o cruzador Rio Grande do Sul, belonave que liderava o bloqueio. Um alvo compensador como aquele era convidativo para um ataque, e assim foi decidido: os três aviões atacariam o navio. O Falcon, de Gomes Ribeiro, levando como observador o Tenente Mário Machado Bittencourt, partiu para o ataque, mergulhando quase verticalmente em um pique na direção do navio para lançar suas bombas com a máxima precisão; os dois outros aviões seguiram seu trajeto.
Alertada pelo inconfundível ronco dos motores dos aviões, a tripulação do cruzador guarneceu seus postos de combate e começou a disparar contra as aeronaves atacantes com suas metralhadoras antiaéreas Hotchkiss, de 7mm. Pouco antes de atingir a altitude adequada para lançar suas bombas, o Falcon de Gomes Ribeiro foi atingido pelo intenso fogo das metralhadoras e explodiu; completamente envolto em uma bola de fogo, caiu no oceano bem próximo ao navio, levantando uma enorme coluna de água. Diante do ocorrido, os dois aviões remanescentes desistiram do ataque e rumaram para a segurança do continente.
O infeliz ataque ao cruzador Rio Grande do Sul foi a última ação de vulto realizada pela aviação paulista durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Há oitenta e um anos irrompia em São Paulo um levante político-militar contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas. Sob a bandeira da constitucionalização do país, unidades do Exército Brasileiro sediadas no estado, todo o efetivo da Força Pública de São Paulo e milhares de voluntários partiram para a luta. O Governo Federal, por sua vez, empregou todos os meios à sua disposição para sufocar o movimento. Durante quase três meses, cerca de 300 mil homens se enfrentaram em combates que, muitas vezes, lembravam a guerra de trincheiras da 1ª Guerra Mundial.
Nesse cenário, uma nova arma se impunha no seio das forças armadas brasileiras: a Aviação. E foi exatamente durante a Revolução de 1932 que os aviões de combate foram empregados com intensidade até então nunca vistas no Brasil. Pelo lado federal, o Exército e a Marinha utilizaram suas respectivas aviações e, no campo oposto, os paulistas organizaram uma força aérea improvisada, porém, eficiente. A Revolução Constitucionalista foi marcada por combates aéreos, bombardeio contra tropas e contra cidades, aviões abatidos pelo fogo antiaéreo, lançamento de panfletos de propaganda e culminou, em seus derradeiros dias, com um ataque aéreo contra um cruzador da Marinha que bloqueava o porto de Santos.
Um céu cinzento: a história da aviação na Revolução de 1932 é o resultado de quase sete anos de detalhada pesquisa e tem, como propósito, contar a história dos homens e máquinas voadoras que escreveram, nos céus de São Paulo, um importante capítulo da História Militar brasileira.
O autor, Carlos Roberto Carvalho Daróz, é historiador militar, pesquisador e professor e possui dezenas de artigos e trabalhos de História Militar, publicados na Revista do Exército Brasileiro, A Defesa Nacional, Revista da Universidade da Força Aérea e outros periódicos especializados. É palestrante frequente de temas relacionados à História Militar, tanto no meio militar, quanto na academia. Neto de ex-combatente da Revolução de 1932, produziu Um céu cinzento: a história da aviação na Revolução de 1932, como contribuição para a história de tão importante episódio do Período Republicano e da aviação brasileira.
FICHA TÉCNICA:
- Um céu cinzento:
- A história da aviação na Revolução de 1932
- Carlos Roberto Carvalho Daróz, 324 páginas / 68 fotografias, gráficos e perfis de aviões
- Publicado em: 2013
- Editora: Editora Universitária UFPE
- ISBN: 978-85-415-0195-8
- Preço: R$ 45,00 + frete (R$ 5,00 para todo o território nacional)
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