Final da manhã de sábado, 24 de setembro de 1932. Os três aviões constitucionalistas voavam escalonados: o Curtiss Falcon prateado, novo em folha, batizado de “Kavuré-y” e pilotado pelo Capitão José Ângelo Gomes Ribeiro a uma altitude de 1.800 metros; duzentos metros abaixo seguia outro Falcon, conduzido pelo Major Lysias Rodrigues, que comandava a patrulha aérea, e, mais abaixo, completando a formação, um Waco CSO, que tinha nos controles o Capitão Arthur da Motta Lima Filho. Sua missão: atacar os navios da 1ª Divisão Naval da Marinha de Guerra que realizavam o bloqueio marítimo ao porto de Santos.

Quando a pequena esquadrilha sobrevoava a baía de Santos, um dos observadores localizou um navio de grandes dimensões fundeado diante do farol da Ilha da Moela.  Era o cruzador Rio Grande do Sul, belonave que liderava o bloqueio. Um alvo compensador como aquele era convidativo para um ataque, e assim foi decidido: os três aviões atacariam o navio.  O Falcon, de Gomes Ribeiro, levando como observador o Tenente Mário Machado Bittencourt, partiu para o ataque, mergulhando quase verticalmente em um pique  na direção do navio para lançar suas bombas com a máxima precisão; os dois outros aviões seguiram seu trajeto.

Suplemento 36 O Estado SP-Aviação Paulista

Alertada pelo inconfundível ronco dos motores dos aviões, a tripulação do cruzador guarneceu seus postos de combate e começou a disparar contra as aeronaves atacantes com suas metralhadoras antiaéreas Hotchkiss, de 7mm.  Pouco antes de atingir a altitude adequada para lançar suas bombas, o Falcon de Gomes Ribeiro foi atingido pelo intenso fogo das metralhadoras e explodiu; completamente envolto em uma bola de fogo, caiu no oceano bem próximo ao navio, levantando uma enorme coluna de água.  Diante do ocorrido, os dois aviões remanescentes desistiram do ataque e rumaram para a segurança do continente.

O infeliz ataque ao cruzador Rio Grande do Sul foi a última ação de vulto realizada pela aviação paulista durante a Revolução Constitucionalista de 1932.  Há oitenta e um anos irrompia em São Paulo um levante político-militar contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas.  Sob a bandeira da constitucionalização do país, unidades do Exército Brasileiro sediadas no estado, todo o efetivo da Força Pública de São Paulo e milhares de voluntários partiram para a luta.  O Governo Federal, por sua vez, empregou todos os meios à sua disposição para sufocar o movimento.  Durante quase três meses, cerca de 300 mil homens se enfrentaram em combates que, muitas vezes, lembravam a guerra de trincheiras da 1ª Guerra Mundial.

Cratera de bomba de aviação no Campo de Marte

Nesse cenário, uma nova arma se impunha no seio das forças armadas brasileiras: a Aviação.  E foi exatamente durante a Revolução de 1932 que os aviões de combate foram empregados com intensidade até então nunca vistas no Brasil.  Pelo lado federal, o Exército e a Marinha utilizaram suas respectivas aviações e, no campo oposto, os paulistas organizaram uma força aérea improvisada, porém, eficiente.  A Revolução Constitucionalista foi marcada por combates aéreos, bombardeio contra tropas e contra cidades, aviões abatidos pelo fogo antiaéreo, lançamento de panfletos de propaganda e culminou, em seus derradeiros dias, com um ataque aéreo contra um cruzador da Marinha que bloqueava o porto de Santos.

Um céu cinzento: a história da aviação na Revolução de 1932 é o resultado de quase sete anos de detalhada pesquisa e tem, como propósito, contar a história dos homens e máquinas voadoras que escreveram, nos céus de São Paulo, um importante capítulo da História Militar brasileira.

Efeito de bombardeio em Guará

O autor, Carlos Roberto Carvalho Daróz, é historiador militar, pesquisador e professor e possui dezenas de artigos e trabalhos de História Militar, publicados na Revista do Exército Brasileiro, A Defesa Nacional, Revista da Universidade da Força Aérea e outros periódicos especializados.  É palestrante frequente de temas relacionados à História Militar, tanto no meio militar, quanto na academia.  Neto de ex-combatente da Revolução de 1932, produziu Um céu cinzento: a história da aviação na Revolução de 1932, como contribuição para a história de tão importante episódio do Período Republicano e da aviação brasileira.

FICHA TÉCNICA:

  • Um céu cinzento:
  • A história da aviação na Revolução de 1932
  • Carlos Roberto Carvalho Daróz, 324 páginas / 68 fotografias, gráficos e perfis de aviões
  • Publicado em: 2013
  • Editora: Editora Universitária UFPE
  • ISBN: 978-85-415-0195-8
  • Preço: R$ 45,00 + frete (R$ 5,00 para todo o território nacional)
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