Boeing está otimista com licitação dos caças da FAB
Sérgio Lamucci
Embaixadora no Brasil entre 2002 e 2004, Donna disse que o caso envolvendo a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) é muito sério para o Brasil, e também para muito cidadãos americanos. “Mas acho que o governo brasileiro deixou claro que essa é uma relação complexa, com interesses diferentes, e que se deve separar esse assunto do resto da relação, para que se faça progressos em outras áreas enquanto se resolve isso”.
Para ela, isso é sinal de maturidade na relação. Donna lembrou que, quando era embaixadora no Brasil e Rubens Barbosa era o embaixador em Washington, os dois conversavam sobre a importância de não transformar toda questão comercial num grande problema da relação bilateral. “Acho que nós chegamos ao ponto em que vamos abordar as alegações sobre a NSA sem que isso afete a relação ou coloque obstáculos a ela.”
No governo Lula, os franceses eram os grandes favoritos. Há informações, contudo, de que o jogo teria mudado no governo Dilma, e os aviões da Boeing tenderiam a ser os escolhidos. Um dos trunfos da Boeing são as parcerias com a Embraer. A empresa brasileira venceu neste ano uma licitação para vender 20 Super Tucanos para a força aérea americana, num contrato de US$ 427 milhões, que pode chegar a quase US$ 1 bilhão. A colaboração entre a Embraer e a Boeing na área de sistema de armas é um dos fatores que pode ter pesado na decisão dos EUA.
Donna disse ver potencial de crescimento no mercado brasileiro de aviação, apesar dos desafios enfrentados pelas empresas do setor. Segundo ela, no Brasil, os gastos com combustível representam cerca de 40% dos custos operacionais das companhias aéreas, acima da média de um terço nos outros países, devido ao peso dos impostos. A Boeing estima que a América Latina deverá precisar de 2,5 mil aviões comerciais nos próximos 20 anos, dos quais 40% no Brasil. Donna disse que deverá inaugurar o seu Centro de Pesquisa e Tecnologia, em São José dos Campos, em novembro ou dezembro.
A executiva disse que continua otimista quanto às perspectivas do país, mesmo num cenário de crescimento mais fraco. “Eu digo que sou otimista em relação ao Brasil desde quando isso não era chique”, brincou ela, para quem a euforia de alguns anos atrás era exagerada, assim como é exagerado o pessimismo que marca algumas análises atuais sobre a economia brasileira. Donna observou que o país continua a receber volume expressivo de investimentos estrangeiros diretos, ainda que mais concentrado em alguns setores.
As manifestações que ocorreram em várias cidades brasileiras a partir de junho não mudam os planos da Boeing no Brasil, disse ela. “A Boeing não vai alterar os seus projetos no Brasil por causa dos protestos, e acho que a maior parte das empresas com um histórico no Brasil também não.”
FONTE: Valor Econômico, via Notimp
FOTO DO ALTO: Min Def Austrália