F-X2: espionagem dos EUA fez Dilma rever posição favorável ao Super Hornet

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Tentando separar o joio do trigo – John Kerry faz esforço diplomático para que espionagem não atrapalhe negócios dos Estados Unidos com Brasil

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, pediu ontem que o Brasil não misture as denúncias de espionagem, feitas pelo seu governo, com as agendas bilaterais. Como pano de fundo, entre os vários interesses comerciais dos dois países, está a delicada negociação para a compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira, onde os Estados Unidos, através da Boeing, estariam ganhando a preferência da presidente Dilma Rousseff. Porém, depois do episódio da espionagem, a presidente teria revisto sua posição favorável ao negócio com os EUA — estimado em R$ 15 bilhões.

Em coletiva, após encontro com o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, Kerry ignorou o apelo do chanceler brasileiro para que cesse a investigação e afirmou que os EUA vão continuar monitorando conversas de cidadãos por todo o mundo.

Ao falar sobre a parceria estratégica que vem sendo traçada entre Brasil e Estados Unidos, Patriota foi incisivo ao afirmar que, caso as implicações do episódio não sejam resolvidos de maneira satisfatória, “corre-se o risco de se projetar uma sombra de desconfiança sobre o nosso trabalho”. O ministro brasileiro lembrou que não só o Brasil, mas todos os países do Mercosul adotaram a postura de levar o assunto ao Conselho de Segurança da ONU. “É uma preocupação legítima com práticas que possam ser atentatórias à soberania dos estados e aos direitos dos indivíduos”, afirmou Patriota. Parcerias, disse o ministro, têm que ser feitas de forma transparente “e quando há desconfiança do método adotado, não é mais possível manter a confiança”.

“Eu devo ser muito claro, não posso discutir aqui as questões operacionais”, disse, por sua vez, o secretário Kerry, ao afirmar que por causa dos atentados de 11 de setembro o Congresso dos EUA aprovou a criação de um programa, supervisionado pelo Judiciário, que permite aos Estados Unidos fazerem as investigações seguindo padrões legais. “Nosso serviço de inteligência protege nossa nação, assim como acontece com outros povos. Por isso, vamos continuar fazendo”, afirmou.

Depois, o secretário pediu que se separe um tema do outro. “Peço ao povo brasileiro que se concentre nas realidades importantes entre os nossos países, que compartilham valores democráticos”, disse, citando programas nas áreas de educação, meio ambiente, ciência e tecnologia e comércio exterior. “Vamos nos esforçar para que esse problema (espionagem) não interfira sobre todas essas coisas”, apelou.

A Presidente Dilma Rousseff deve decidir ainda este ano entre a americana Boegin F-18E/F, a francesa Dassault a Rafale F3 e a sueca Saab Gripen NG. Segundo o Itamaraty o assunto não seria tratado na visita de Kerry, mas fontes do governo afirmam que a presidente, que estava fortemente propensa a optar pela Boeing, ficou com o pé atrás desde as denúncias de espionagem foram divulgadas e deve colocar o tema na reunião que terá com Barack Obama em outubro, nos Estados Unidos.

Ontem, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do ar Juniti Saito, disse, em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que a escolha da presidente Dilma terá como base não apenas questões técnicas, mas também geopolíticas. Saito se recusou a manifestar sua preferência, “já que primeiro é preciso ouvir a decisão da presidente”.

O comandante informou que a decisão sairá “no curto prazo”, o que deve acontecer até o fim deste ano, porque os atuais Mirage 2000 serão desativados até dezembro. “Tenho muita expectativa de que a presidente anuncie a decisão no curto prazo”, disse, informando ainda que em constantes reuniões das quais participa, com a presença do ministro da Defesa, Celso Amorim, “a presidente Dilma tem sinalizado diversas vezes que também está preocupada”.

A compra dos caças vem se arrastando desde 2001, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu substituir os Mirage III BR. As negociações foram paralisadas em 2005, por razões econômicas, e retomadas em 2008. Em 2010, quando o governo Lula estava para se definir por comprar os Rafale da França, o negócio parou novamente.

FONTE: Brasil Econômico (reportagem de Edla Lula), via Notimp

NOTA DO EDITOR: o título original é a primeira frase do subtítulo

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