Governo questiona pensão a viúvas de acidente com foguete brasileiro
Tragédia que matou 21 pessoas completa dez anos em 22 de agosto. Famílias questionam valor recebido de indenização em 2003.
Os 21 profissionais que morreram no acidente trabalhavam no VLS, principal projeto do programa espacial brasileiro. Todas as vítimas eram civis, embora subordinadas ao Instituto de Atividades Espaciais (IAE), órgão da Aeronáutica. O foguete pegou fogo ainda na plataforma a três dias do lançamento em agosto de 2003. Cada família das vítimas recebeu R$ 100 mil de indenização em 2003, mas elas acham que têm direito a um valor compatível com o que as vítimas ganhariam ao longo da vida profissional e entraram na Justiça. Os processos já duram nove anos.
“As indenizações giram em uma média de R$ 3 milhões por vítima. Alguns estão em estágio final, mas outros tiveram atrasos na Justiça. Em um dos casos, não foi concedido o benefício da justiça gratuita e a viúva teve que arcar com as custas do processo”, disse José Roberto Sodero, advogado das famílias.
Este foi o caso do processo movido pela viúva de Gines Ananias Garcia. “Depois de tudo o que eu passei, ter essa dor prolongada pela justiça. Aí você vê realmente o quanto não foi valorizada a vida deles. Eu passei nove anos provando pra Justiça que ele morreu”, diz Aparecida Garcia.
Além da indenização, as famílias recebem pensões mensais, proporcionais ao salário de cada vítima. Há cerca de um mês, as famílias receberam um comunicado da Aeronáutica informando sobre uma auditoria do Ministério do Planejamento que questiona o cálculo da pensão.
Em nota, o Ministério do Planejamento informou que as auditorias em folhas de pagamento são constantes e que o questionamento sobre o cálculo das pensões está sendo feito conforme a lei, já que o cálculo feito pela Aeronáutica prevê o pagamento de 100% do salário das vítimas, quando deveria ser 50%.
“Foi uma surpresa enorme para a gente. Não sei o que vai acontecer. Na época, para não mexer no salário e não criar confusão, eles deixaram do jeito que estava e agora, do nada, resolveram falar que ia diminuir. Entramos com uma ação, mas se acontecer de ter que devolver esse dinheiro eu não tenho condições”, afirmou Dóris Cezarini.
As famílias foram convocadas a apresentar defesa. Caso estes recursos sejam indeferidos, há possibilidade de que elas devolvam a diferença paga nos últimos nove anos. Por meio de nota, a Aeronáutica informou que a devolução de parte do valor recebido pelas famílias das vítimas depende do processo que ainda está em andamento.
FONTE: G1
COLABOROU:L. Ogusuko