Sim, ele ainda voa
O único Sea Harrier FA2 em condições de voo no mundo pertence a um civil. E ele está em Oshkosh este ano
O ano de 2006 foi particularmente triste para a aviação naval britânica. Em março a Royal Navy se despediu do seu único jato, o BAe Sea Harrier (na versão FA2). Daquele momento em diante os únicos aviões a operar nos convoos dos “Harrier Carrier” da RN seriam os Harriers da RAF.
Mas quem disse que seria o fim dos FA2? Ainda em 2006 o inesperado aconteceu. Um americano chamado Art Nalls, adquiriu um dos exemplares (o XZ439) para uso civil. Nalls, um militar da reserva que serviu no Corpo de Fuzileiros Navais (USMC) dos EUA nas décadas de 1970 e 1980, voou por vários anos o antigo AV-8A. Em 1985, Nalls tornou-se piloto de provas do USMC e passou a avaliar o AV-8B, então sendo introduzido na frota do USMC.
Foi ele também quem auxiliou os europeus nos primeiros anos de vida do AV-8B na “Armada Espanhola” e na “Marina Militare” italiana, sendo responsável pelas primeiras decolagens nos porta-aviões Giuseppe Garibaldi e Principe de Asturias com o uso da rampa ski-jump.
Após deixar o serviço militar em 1990, Nalls passou a trabalhar no ramo de imóveis, mas nunca deixou a paixão pelo voo de lado. Comprou um L-39 Albatross ali, um Piper Cub L-4 acolá. Nada mal para quem já voou B-52, C-141, C-130, A-7, A-37, T-38, F-4, F-5, F-15, F-16, F-18 entre outras aeronaves. Porém, o seu sonho era voar o Harrier novamente. Foi quando ele ficou sabendo que a BAe britânica colocou um FA2 à venda.
O avião, matrícula XZ439, era um dos dois Sea Harrier FRS1 originais que foram convertidos para o padrão FA2 (a maior mudança externa está no domo do radar). Ele foi construído em 1979 e convertido dez anos depois. A aeronave não possuía mais o seu radar Blue Vixen, nem mesmo o HUD ou o computador de missão e outros equipamentos associados ao controle e lançamento de armas. Mas nada disso seria necessário para os propósitos de Nalls. Somente a questão da falta de “peso” no nariz teria que ser resolvida para manter o equilíbrio do avião. O painel atual foi bastante modificado e simplificado.
Em fevereiro de 2006, o XZ439 chegou à sua nova casa, St. Mary, no estado de Maryland (EUA). Uma equipe de ex-mecânicos do USMC veio ajudar Nalls, todos trabalhando voluntariamente somente para ver o jato de pouso e decolagem vertical no ar outra vez.
Porém, a aeronave precisava de um certificado do FAA para voar nos EUA, uma vez que seria uma aeronave civil. O comum (para não dizer “a regra”) é que um certificador da FAA voe com cada aeronave e com cada piloto que comandará esta aeronave antes que a mesma seja liberada para uso desportivo. Mas a FAA não tinha ninguém habilitado para voar o Harrier, que também não era um avião biposto. Nalls usou todo o seu longo currículo como piloto de Harrier e de ensaios em voo para justificar suas habilidades, e a FAA teve que impor uma exceção à regra (“jeitinho americano”?) para que o avião fosse liberado sem que o processo corresse como de costume.
O primeiro voo ocorreu no dia 10 de novembro de 2007 e no, dia seguinte, aconteceu um incidente. Houve uma pane hidráulica que afetou o acionamento do trem de pouso (ele baixou, mas não travou) e Nalls teve que fazer um pouso forçado na Base Aérea Naval de Patuxent River. Nada demais para um ex-piloto do USMC que em sua carreira havia pousado um AV-8A com o motor apagado (em casos como este a ejeção é recomendada). As portas do trem de pouso sofreram um pouco. A “equipe voluntária da graxa” não perdeu o rebolado. Tempos depois, com a troca de alguns componentes, o Sea Harrier estava no ar novamente.
E quem acha que Nalls vai parar por aí está enganado. Ele possui também um Harrier modelo GR3 no hangar, e que está 99% completo. Se conseguir um pouco mais de dinheiro, Nalls colocará o avião no ar novamente. Para quem é dono do único Harrier civil no mundo, isto não parece difícil.
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