O combate Rafale x Eurofighter continua nos Emirados Árabes Unidos

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Disputa também é da diplomacia de Paris contra a de Londres – ministro da Defesa francês teve na agenda recente uma visita aos Emirados

O jornal francês La Tribune publicou, na semana passada, reportagem sobre a visita do ministro da Defesa da França, Jean-Yves Le Drian, aos Emirados Árabes Unidos (EAU). No contexto da visita de dois dias agendada para o último final de semana, está a luta entre o Rafale e seu rival Eurofighter Typhoon para conseguir um contrato com os EAU. Um combate que é considerado um dos mais ferozes do momento, sendo também uma batalha diplomática entre Paris e Londres.

Na exposição de defesa IDEX, realizada em fevereiro, o ministro francês conseguiu forjar um bom relacionamento com o homem forte dos Emirados, o príncipe Sheikh Mohammed Bin Zayed Al Nahyan, que segundo o jornal é o principal decisor em assuntos de cooperação militar, compras de armamentos, além de questões de energia e cultura. Houve até um almoço entre ambos, fora do protocolo oficial, que permitiu que discutissem o assunto do Rafale de maneira livre, além de outras questões da cooperação entre França e EAU.

Deve-se levar em conta, também, que o novo CEO (diretor-executivo) da Dassault é Eric Trappier, que em 1998 concretizou a venda de 30 caças Mirage 20000-9 aos Emirados. Trappier estaria com seu caminho bem mais aberto por parte do Sheikh Mohamed.

A esperança francesa é que a viagem deste final de semana de Jean-Yves Le Drian signifique um reforço nesse bom relacionamento, e outro ponto importante é que, salvo algum acidente de percurso, o  Sheikh Mohamed Bin Zayed Al Nahyan será o próximo presidente dos Emirados. Ele é considerado o preferido como parceiro, em Paris, e outro fato a se lembrar é que o presidente francês François Hollande realizou em janeiro uma importante visita aos EAU mesmo estando envolvido com o início da intervenção francesa no Mali. Assim, pode-se dizer que o relacionamento entre a França e os Emirados Árabes Unidos está madura e mais profunda, com tantos anos de cooperação, apesar desse relacionamento não estar baseado em contratos comerciais.

O otimismo da BAE Systems

Por seu lado, Londres também tem acertado no fronte diplomático e no setor industrial. A britânica BAE Systems, que no caso dos Emirados lidera os esforços de vendas do consórcio Eurofighter (que inclui a Finmeccanica italiana e a EADS na Alemanha e Espanha) vem intensificando sua campanha, e mostrou-se bem otimista no último Paris Air Show, realizado no mês passado. Os ingleses esperam uma decisão dos EUA ainda neste ano, e acreditam que o Eurofighter Typhoon, que conta com o amplo apoio do primeiro ministro David Cameron, vai conquistar a encomenda para substituição de 60 jatos Mirage 2000-9 da Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos.

A questão é saber se há razões para esse otimismo britânico, pois tecnicamente o Rafale vem sendo uma pedra no sapato das pretensões do Typhoon nos EAU – por exemplo, o Rafale já possui o radar AESA (varredura eletrônica ativa) que ainda está sendo desenvolvido para o seu rival, estando ainda pendente um acordo entre os parceiros do consórcio Eurofighter para financiar essa melhoria. Se esse acordo não sair, as chances do Typhoon no mercado externo podem acabar.

Já na frente diplomática, Londres está com um bom escore, pois o presidente dos EAU, Emir de Abu Dhabi e comandante supremo das Forças Armadas, Sheikh Khalifa Bin Zayed Al Nahyan, fez uma visita de quatro dias ao Reino Unido na virada de abril para maio. Até mesmo a RAinha Elizabeth II participou da “operação de sedução” dos dirigentes dos Emirados, apoiando a abordagem oficial e comercial que visa beneficiar a indústria britânica. Um contrato do Eurofighter com os Emirados teria valor estimado de 10 bilhões de dólares, e nesse caso os britânicos prometem instalar uma base em Al-Minhad, ampliando o relacionamento estratégico entre os dois países.

Jornal dos Emirados destaca conversações com representantes da BAE Systems, EADS, Eurojet e MBDA no país, promovendo o Typhoon

Segundo reportagem publicada no jornal The National dos Emirados nesta terça-feira, 9 de julho, nos últimos meses tem havido diversas conversas entre a BAE Systems, liderando as discussões do consórcio Eurofighter que oferece o Typhoon à Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos. A BAE lidera os esforços de outros represntantes, a EADS, a Eurojet e a MBDA.

O vice-presidente para programas de aeronaves da BAE Systems, Tony Gilchrist, afirmou: “Começamos também a conversar com o Departamento de Aquisições Gerais da Força Aérea e as discussões estão bem colocadas e cordiais, havendo um mútuo entendimento entre nós.” Gilchrist está em Abu Dhabi para participar do “Tawazun Economic Council” e do “workshop” industrial da BAE Systems, e também afirmou que as demandas da Força Aérea dos EAU incluem a instalação de sofisticados sistemas de armas: “O que está sendo discutido é o mais avançado modelo do Typhoon, quando comparado à frota existente e a quaisquer encomendas que já tenham sido feitas. A Força Aérea nos solicitou um caça extremamente capaz e avançado.” Apesar das demandas derem desafiadoras, o executivo se mostrou confiante: “Os requerimentos de capacidade da Força Aérea dos EAU são altamente ambiciosos mas possíveis de serem cumpridos devido à força de nossa parceria europeia e seus conhecimentos.”

Alan Sparkes, diretor de programas cooperativos da MBDA (fabricante de sistemas de mísseis para o Eurofighter) disse que os requerimentos dos Emirados incluem as mais avançadas armas que o mundo já colocou num avião: “Essas capacidades incluem um míssil ar-ar de emprego além do alcance visual com grande precisão.

Segundo o jornal, há mais de 700 caças Typhoon em forças aéreas do mundo*, com 571 aeronaves encomendadas por sete nações, incluindo a Arábia Saudita e Oman. Parte das discussões em andamento para um contrato de caças incluem treinamento, educação e transferência de tecnologia, sendo que a “BAE Systems Middle East and Africa” já opera, junto à Universidade Khalifa de Abu Dhabi, um programa para treinamento de estudantes. Espera-se que componentes estruturais principais dos jatos sejam desenvolvidos pela Tawazun Precision Industries, dos Emirados.

Os Emirados têm conversado com diversos países para adquirir avançados aviões multitarefa, incluindo o fabricante francês Dassault, que oferece o Rafale, e o jornal também destacou que o Eurofighter perdeu para o Rafale um contrato com a Índia no valor de 10 bilhões de dólares, visando a aquisição de 126 caças. Ainda assim, o executivo da BAE Systems afirmou estar “bastante otimista com a Índia” porque se o Rafale, que foi escolhido para negociações exclusivas como “ofertante L1” não conseguir atender às demandas indianas, a Índia passará a negociar com o “ofertante L2”, que foi o Eurofighter. Gilchrist completou: “Esse não é, de forma alguma, um acordo já fechado para nossos amigos franceses. Estamos prontos para reentrar nas discussões.”

FONTES: La Tribune e The National (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em francês e inglês)

FOTOS: Ministério da Defesa do Reino Unido, Força Aérea Alemã e Força Aérea Francesa

COLABOROU: DrCockroach

NOTA DO EDITOR: o jornal provavelmente confundiu o número de 700 encomendas desejadas para o Typhoon (das quais 571 seriam “firmes”) com a frota total já entregue, que é de pouco mais de 370 aeronaves.

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