Intervenção francesa no país africano foi mais uma chance de demonstrar ao mundo a capacidade multitarefa do caça da Dassault – tenente-coronel francês, comandante de esquadrão, relata algumas das missões realizadas

Reportagem publicada em 12 de junho no site AIN Online destaca o desempenho do caça francês Rafale na recente intervenção do país no Mali, que foi mais uma chance de demonstrar a capacidade multitarefa da aeronave. A participação do Rafale no conflito começou com uma missão de interdição na noite de 13 de janeiro, lançada da França, a 3.400 milhas de distância. Daí, cresceu para seis jatos voando diariamente da base de N’Djamena, no Chade, realizando missões de reconhecimento e apoio aéreo avançado. Seis caças Rafale continuam por lá.

Na primeira missão, quatro Rafales decolaram de sua base na França, em St. Dizier, após um aviso antecipado de menos de 48 horas, e destruíram 21 alvos rebeldes pré-planejados no meio do Mali. Cada um levava três tanques externos de 2.500 litros, seis bombas GBU-12 guiadas a laser e um pod (casulo) de designação de alvos Thales Damocles. Alternativamente, levavam seis bombas guiadas por GPS AASM Hammer, da Sagen. A missão durou nove horas e quarenta e cinco minutos até o pouso em N’Djamena, e incluiu seis reabastecimentos em voo.

A importância dos aviões-tanque

As missões seguintes também dependeram fortemente de reabastecimento aéreo, já que os aviões permaneciam sobre o campo de batalha (on station) para apoiar as tropas terrestres da França e do Mali enquanto avançavam sobre território rebelde. Segundo o tenente coronel Francois Tricot, comandante de um dos dois esquadrões de Rafale envolvidos nas operações (o E/C 2.30 Normandie- Niémen), “Mali é um país grande, com muita areia e um grande rio. Estávamos voando 800 milhas desde N’Djamena apenas para chegar lá, em voos de ida e volta, dia e noite, que duravam até nove horas.”

Tricot ressaltou o trabalho das tripulações de aviões-tanque KC-135 da Força Aérea dos EUA (USAF) que suplementaram seus cinco congêneres franceses C-135FR no reabastecimento em voo dos caças Rafale: “Encontrar (com eles) às 2:00h sobre um continente escuro quando você está a milhas de qualquer lugar, é bem reconfortante, e prova que nossa interoperabilidade com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) realmente funciona!” Porém, ele admitiu que houve alguns pousos não planejados (diversões) para Niamey, no Chade, quando aeronaves precisavam orbitar possíveis áreas para apoio aéreo avançado no Mali, e não havia um avião-tanque disponível.

Reconhecimento aéreo e uso de bombas guiadas

Missões de reconhecimento eram relativamente mais curtas, durando cerca de cinco horas e meia. Elas eram realizadas em voos entre 25.000 e 30.000 pés, usando o grande pod Thales Reco NG. O tenente-coronel Tricot ressaltou: “Ninguém pode nos ver ou ouvir naquela altitude.” O pod Reco NG possui sensores de infravermelho banda 2 de longo alcance e outros do espectro visual que podem realizar imagens a partir de altitudes elevadas, assim como sensor infravermelho da banda 3 que é projetado para missões de baixa altitude e alta velocidade. Para economizar tempo de interpretação de imagens, alguns “frames” (cenas) pré-selecionados eram enviados por data link (enlace de dados) a uma estação em terra em Niamey, quando os aviões já estavam voltando a N’Djamena.

Os caças Rafale também ofereciam cobertura ISR “não-tradicional” quando equipados para missões de interdição ou de apoio aéreo avançado. A esse respeito, Tricot afirmou: “Nós podíamos ver e relatar a presença de pessoas se escondendo em trincheiras, além de veículos escondidos, utilizando nossos óculos de visão noturna e a apresentação, na tela do painel, do pod de designação de alvos.

Ainda segundo o tenente-coronel, a maioria das missões de apoio aéreo avançado foram voadas à noite “porque era quando as tropas em terra preferiam avançar.” Tricot continua:  “Nós demos cobertura a um lançamento de paraquedistas à noite, quando Timbuktu foi retomada, em 26/27 de janeiro, com duas aeronaves sobre o campo de batalha a qualquer momento. Todos ficaram surpresos pela rapidez com que lançamos aquela operação e a seguinte, para retomar Gao. Foi planejada e executada em 48 horas.”

A versão guiada por GPS do AASM provou-se especialmente útil quando os planejadores de missão requisitavam atingir, em rápida sucessão para preservar a surpresa, alvos múltiplos. O comandante do “Normandie Niémen” continua seu relato: “Um Rafale pode lançar rapidamente o ASSM, de forma múltipla, e lançamos doze a partir de duas aeronaves durante um minuto, numa missão. As bombas atingiram alvos dispersos numa grande área, incluindo áreas de estoque de munições, campos de treinamento e quartéis-generais.”

Naquela missão realizada no início de fevereiro, outros dois caças estavam aguardando, equipados com bombas GBU-12, de modo que se algum alvo não fosse destruído, poderia receber novamente um ataque utilizando-se armas guiadas a laser. A nova versão guiada a laser do AASM não estava ainda disponível para os esquadrões de Rafale e, embora a versão guiada por infravermelho estivesse, não foi utilizada no Mali.  O Rafale também pode carregar a GBU-22 de longo alcance e a maior GBU-24, bombas guiadas a laser, mas os pilotos ainda não estavam qualificados nessas armas quando a intervenção no Mali foi lançada. Outra arma que já está disponível no Rafale é a GBU-49 com dois modos de guiamento (GPS e laser).

Taxa de disponibilidade acima de 90%

O tenente-coronel Tricot disse que a taxa de disponibilidade do Rafale ultrapassou 90%, apesar das duras condições de desdobramento. Os pilotos voavam a cada dois dias e missões sobre alvos já conhecidos levavam duas horas para serem planejadas, utilizando o sistema Sagem SLPRM system. Já o debriefing, segundo Tricot, “podia levar até cinco horas.” Ele também disse que dados “quentes” de inteligência das missões de Rafale eram enviadas diretamente para unidades de terra desdobradas, assim como para o centro de operações aéreas combinadas (CAOC), por meio dos canais normais de envio. O fato do CAOC também estar localizado em N’Djamena foi “uma grande vantagem”, acrescentou o oficial.

Finalizando, o comandante do esquadrão disse que as missões sobre Mali “não foram nada novo para nós. Já as havíamos executado sobre a Líbia e o Afeganistão.” Porém, destacou Tricot, a eficiência que vem do fato de ter aeronaves, tripulações e técnicos multitarefas não pode ser atingida pela maioria dos outros aviões de guerra. Ele acrescentou: “Eu gosto de ver um Rafale sujo. É uma máquina de guerra!”

FONTE: AIN Online (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)

FOTOS: Ministério da Defesa da França

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