Pesquisador indiano defende Tejas Mk-II ao invés da compra do Rafale

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Na quinta-feira, 11 de abril, o jornal indiano Deccan Chronicle publicou artigo assinado pelo pesquisador Bharat Karnad, conceituado professor do Centro de Pesquisas Políticas da Índia  CPRIndia) e que já trabalhou junto ao Governo Indiano na definição de sua doutrina nuclear (clique no link para sua biografia no CPRIndia). O autor indiano defende que a compra do caça Rafale seja cancelada e que a nova versão do  jato Tejas desenvolvido localmente, o Tejas MkII, cumpra o seu papel de caça de ataque e de penetrações de alcance médio no território inimigo. Segue um resumo do texto.

Segundo o pesquisador Bharat Karnad, décadas atrás a Força Aérea Indiana buscava uma aeronave para voar a baixa altitude em ataques a longa distância em território do Paquistão. Numa disputa entre o Viggen sueco e o anglo-francês Jaguar, este último foi declarado vencedor. Porém, o que o autor destaca é que a aeronave serviu para acabar com o projeto de um novo modelo (MK-II) do HF-24 Marut, o primeiro jato de combate indiano, projetado na Índia pelo alemão Kurt Tank (nota do editor: veja último link da lista abaixo).

A nova versão do Marut possuía uma aerodinâmica excelente para o voo a baixa altitude e, com um motor Bristol-Siddeley, prometia um desempenho compatível com o Jaguar. Porém, questões políticas da escolha do Jaguar por parte do governo da época, atendendo a interesses contrários ao desenvolvimento da indústria aeroespacial indiana, decretaram o fim da aeronave.

Quarenta anos depois, a Índia enfrenta uma questão semelhante. Um governo de coalizão pretende adquirir o caça de alcance médio multitarefa (MMRCA) por cerca de 22 bilhões de dólares, num negócio que beneficiará a França. Porém, poderia optar por uma opção local que revitalizaria a indústria aeronáutica indiana, o Tejas Mk-II

No momento, as negociações de compra do Rafale estão às voltas com uma recusa da fabricante francesa Dassault em aceitar termos do pedido de propostas (RFP) que a tornam responsável pela qualidade de 108 aeronaves (da encomenda total de 126) do tipo a serem produzidas sob licença pela  Hindustan Aeronautics Ltd. (HAL), designada no RFP como contratante principal.

Para o pesquisador indiano, se a Dassault tivesse dúvidas a esse respeito deveria tê-las esclarecido antes de apresentar sua proposta ao programa MMRCA, e não após ganhar a seleção. Isso bastaria, segundo Karnad, para caracterizar má-fé e cancelar as negociações.

Uma alternativa viável está disponível na versão MK-II do Tejas LCA (Light Combat Aircraft – avião de combate leve), cujo projeto atenderia às demandas do MMRCA e já passa por testes de túnel de vento. Sua suíte de aviônicos é comum ao MK-I, mas traz a novidade de um radar AESA (varredura eletrônica ativa) desenvolvido em colaboração com Israel e que seria comparável ao do Rafale, com a diferença de que o futuro desenvolvimento do Thales RBE2 AESA do Rafale deverá contar com dinheiro indiano.

O Tejas Mk-II tem tomadas de ar maiores e uma leve curvatura nas pontas de suas asas, e especialistas acreditam que oferecerá um melhor ângulo de ataque (acima de 28 graus) com maior capacidade de carga do que o Rafale é capaz. Trata-se de uma versão maior,  com três metros a mais do que o MK-I, capaz de carregar mais peso: cinco toneladas, em comparação com as seis do Rafale, sendo que este último levaria menos carga nas condições indianas do que no ambiente europeu para o qual foi construído, segundo o pesquisador. O alcance de 600km seria similar.

Ainda segundo o artigo de Bharat Karnad, o Tejas MK-II poderia ser colocado em serviço em menos tempo do que o Rafale sairia das linhas de montagem da HAL. Além disso, com sua asa duplo delta com canards, o Mk-II seria superior ao Rafale em manobrabilidade. O Tejas Mk-I básico já está entrando em produção em série limitada, num prelúdio à operação completa. Não seria difícil estabelecer com rapidez um desenvolvimento separado e uma linha de produção para o Mk-II e, de fato, a HAL vem mostrando confiança em rejeitar ofertas europeias para ajudar a estabelecer a infraestrutura do Tejas.

A aquisição de produtos desenvolvidos na Índia também permitiria a racionalização da estrutura da Força Aérea Indiana, eliminando do inventário aeronaves tão diversas que criam um pesadelo logístico. Como planejado, o Tejas Mk-I cumpriria o papel de defesa aérea, e o Mk-II poderia, de forma mais adequada, atender à missão de interdição em médio alcance e ataque do MMRCA. Sendo produzidos localmente, também teriam a demanda de peças suprida pela Índia, com capacidade para a produção ser ampliada rapidamente, e tirariam a Força Aérea das limitações impostas por empresas estrangeiras e que sempre afetaram suas operações.

A produção local baseada em centenas de pequenos empreendimentos de fabricação (SMEs – Small Manuf­acturing Enterprises) é a espinha dorsal de uma indústria aeronáutica avançada. Também é, no momento, o problema que afeta a transferência total de tecnologia que está no cerne das diferenças da Dassault com o Governo Indiano. De acordo com fontes ligadas ao assunto, a parceira local da Dassault, a Reliance Aerospace, supostamente concordou em aceitar apenas uma limitada transferência de tecnologia, ainda que uma total transferência seja paga, e componentes críticos do “Rafale construído na Índia” viriam das SME francesas.

Por fim, o pesquisador afirma que o Governo tem a escolha de aceitar as condições da Dassault, o que seria apoiado pela liderança da Força Aérea Indiana, normalmente de visão curta, e assim beneficiar a indústria aeronáutica francesa. Ou então jogar fora esse acordo e optar pelo Tejas Mk-I para Defesa Aérea e o Mk-II para o MMRCA, expandindo a indústria de aviação indiana e suas SME, fazendo algo de bom para o país, para variar.

FONTE: Deccan Chronicle

IMAGENS: Ministério da Defesa da Índia, Força Aérea Francesa e Indian Defense

NOTA DO EDITOR: o jornal Deccan Chronicle comumente publica matérias contrárias à aquisição do Rafale.

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