Por Roberto F. Santana

No dia 2 de setembro de 1980 um F-14 Tomcat da Força Aérea Iraniana (IRIAF) decolou para mais uma missão de rotina. O caça era pilotado pelo Major Reza Moradi tendo como seu RIO (operador de radar) o Capitão Najafi.

Para Najafi, essa seria a mais inusitada de suas missões. Sem saber, estava a bordo de uma aeronave comandada por um desertor.

No início dos anos oitenta o Iraque organizava um programa secreto para motivar pilotos iranianos a desertarem, trazendo preferencialmente seus aviões à bases iraquianas.

Com a ajuda da CIA, o planejamento e a realização da primeira fuga foi enfim acertada. Conforme o plano, o Maj. Moradi (IRIAF) deveria decolar com seu F-14 no dia 3 de setembro, e voar o mais baixo e rápido possível a partir de um determinado ponto. Chegando ao Iraque seria escoltado à base de destino, onde um comitê de recepção daria as boas-vindas ao piloto.

Com a aproximação da data do voo, Moradi começou a sentir a pressão psicológica, e foi tomado por ansiedade e nervosismo. Não se conteve e decolou um dia antes do combinado.

O que era para ser uma recepção calorosa e tranquila, virou uma perseguição fria e explosiva.  O Tomcat de Moradi rapidamente chegou ao Iraque, subindo em altitude logo que penetrou no espaço aéreo do país, com Najafi no assento traseiro, aos gritos, revoltado e inconformado com a deserção do colega.

Logo dois MiG-23MLs se aproximaram por baixo, sendo ordenados a subir e a engajar. O líder iraquiano teve problemas com seu radar mas, rapidamente, seu ala assumiu e teve o sinal de “lock-on”. Sem hesitar, disparou seu R-24T a menos de dez quilômetros do alvo, que detonou a poucos metros do F-14.

O Tomcat de Moradi, agora mortalmente ferido, começou a deixar um rastro de fumaça. O piloto iraniano então deu o sinal universal de rendição baixando o trem de pouso de seu avião. Os MiGs se aproximaram um de cada lado do F-14, e reportaram o que estava acontecendo ao comando de interceptação. O Alto Comando Iraquiano percebeu então que era o desertor chegando um dia mais cedo. Os iraquianos apressaram-se para receber o Tomcat e o vetoraram à base próxima. Porém, Moradi perdia altitude, não mais conseguindo pilotar o F-14 danificado. Moradi e Najafi ejetaram, abandonando o avião, sendo capturados e levados a interrogatório.

O Tomcat caiu perto da cidade na-Nu’manya, deixando somente os destroços dos motores, uma asa e os estabilizadores. Para a inteligência iraquiana, inúteis escombros sem nenhuma novidade ou segredo.

O Capitão Najafi se recusou a colaborar com as autoridades iraquianas e foi feito prisioneiro, sendo repatriado em 1991.

O Major Moradi, por sua vez, colaborou com os interrogatórios.  Porém, fez isso com informações erradas, dizendo até mesmo que os F-14s iranianos eram incompatíveis com os mísseis Sparrow! Foi finalmente exilado para a Alemanha Ocidental, sendo assassinado três meses depois.

Em 1986, depois de algumas aeronaves iranianas terem desertado, como alguns F-5 e F-4, os técnicos iraquianos e americanos finalmente conseguiram colocar as mãos em um F-14 da IRIAF. No dia 31 de agosto um Tomcat pousava em uma base iraquiana, mais uma vez com uma tripulação dividida ideologicamente e, ironicamente, encontrariam o mesmo destino dos pilotos do primeiro Grumman Tomcat a desertar.

Bibliografia:

  • Internet
  • International Air Power Review
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