Canadá divulga características desejadas para substitutos dos CF-18 Hornet
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Questionário enviado aos cinco fabricantes que disputam o contrato deverá ser respondido até 15 de abril de 2013 – caças deverão servir por pelo menos 30 anos – baixa assinatura radar é apenas um dos diversos itens de uma grande relação de características desejadas
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Foi divulgado pelo Governo Canadense, com data de modificação de 3 de março, exposição e questionário enviado aos 5 concorrentes para substituir os atuais CF-18 Hornet do Canadá (Boeing, Dassault, EADS, Lockheed Martin e Saab – em ordem alfabética). Um dos pontos importantes do texto é que se requer uma solução que sirva por pelo menos 30 anos, e as questões envolvem o período considerado como fase de introdução da aeronave, entre 2020 e 2030 e o período pós-2030, com as ameaças de cada período e sua evolução / disseminação, além das teconologias emergentes. Assim, deverão ser levadas em conta as capacidades dos concorrentes ao longo desses períodos. As respostas serão divididas em técnicas, numa primeira rodada, e depois em financeiras.
O período 2020-2030 está caracterizado pela proliferação das atuais tecnologias das ameaças, assim como modernizações digitais e integração de sistemas nas seguintes ameaças:
- Caças como o SU-27 armados com mísseis do tipo AA-12 e AA-11;
- Bombardeiros como o Tu-160 empregando mísseis guiados subsônicos ou de baixa velocidade supersônica;
- Aviões civis incluindo desde jatos comerciais a lentas aeronaves civis em voo baixo;
- Artilharia antiaérea em terra ou navios, em sistemas do tipo ZSU-23/4;
- Mísseis superfície-ar (Surface-to-air missile – SAM) baseados em terra ou navios, como o SA-15 ou SA-20;
- Mísseis superfície-ar portáteis (Man-Portable Air-Defence Systems – MANPADS) como o SA-18;
- Sistemas de alerta aéreo como o digital Spoon Rest e / ou embarcados (AEW&C) integrados numa rede de defesa.
O período além de 2030 é caracterizado pela proliferação das tecnologias emergentes, que incluem:
- Aviões de caça como o PAK-FA armados com avançados mísseis multiespectrais e de lançamento fora da linha de visada;
- Bombardeiros como a nova geração de emprego estratégico com redução da assinatura radar e empregando mísseis guiados de cruzeiro ou supersônicos também de baixa assinatura;
- Artilharia antiaérea em terra ou navios com sistemas do tipo 2K22 modernizado ou SA-19;
- Mísseis superfície-ar baseados em terra ou navios, como o SA-22 ou o SA-20 modernizado;
- Mísseis superfície-ar portáteis como o SA-24;
- Sistemas de alerta aéreo como radares de varredura eletrônica (Phased array) integrados a uma rede de defesa.
São três os papéis a serem cumpridos pelos novos caças:
- 1 – primeiro e mais importante, defender o Canadá;
- 2 – defender a América do Norte;
- 3 – contribuir para a paz e segurança internacionais.
Estabelecida essa relação acima, são estes os níveis de ambição em relação aos novos caças, para os quais se devererá cumprir as missões abaixo, potencialmente ao mesmo tempo:
- 1 – conduzir operações diárias, domésticas e continentais, incluindo o Ártico e o NORAD (North American Aerospace Defense Command);
- 2 – apoiar autoridades civis em crises como desastres naturais no Canadá;
- 3 – apoiar um evento internacional importante no Canadá, do tipo das Olimpíadas de 2010;
- 4 – liderar ou conduzir grandes operações internacionais por um período extenso;
- 5 – responder a um grande ataque terrorista;
- 6 – desdobrar forças em resposta a crises em qualquer lugar do mundo, por curtos períodos.
Para cumprir as missões acima, são elencadas capacidades aeroespaciais que deixam claro que o caça deverá ser multitarefa: Defesa Aérea (Defensive Counter Air – DCA), Superioridade Aérea de cunho ofensivo (Offensive Counter Air – OCA), Ataque Estratégico, Apoio Aéreo Aproximado (Close Air Support – CAS), Ataque Terrestre, Apoio Tático a Operações Marítimas (Tactical Support to Maritime Operations – TASMO) e Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance – ISR). No nível operacional, essas capacidades impõem características de cada caça divididas em Consciência (Awareness), Sobrevivência (Survivability), Alcance e Persistência, Responsividade (Responsiveness), Letalidade (Lethality) e Interoperabilidade (Interoperability)
Cada uma dessas capacidades operacionais é explicada, mas vale descacar que a furtividade (tratada como “signature reduction”) e que tanto pano para manga já rendeu na discussão canadense relativa à aquisição de caças, até pouco tempo direcionada ao F-35, é apenas um dos diversos itens constantes na característica “Sobrevivência”, embora outras capacidades que estamos acostumados a encontrar nos chamados caças de 4,5 e de 5ª gerações estejam espalhados pelas demais. Nas questões mais detalhadas, a furtividade, por exemplo, ocupa um espaço nas perguntas muito menor do que, por exemplo, todo o detalhamento relativo ao raio de ação em missões ar-ar e ar-terra.
Embora o tamanho do texto de um item não seja algo relacionado diretamente à sua importância, percebe-se pelo menos que a questão do raio de combate é crucial, dadas as especificidades das perguntas. Manutenção, logística e interoperabilidade também aparecem com grande peso no texto.
Toda a exposição e as questões, que os fabricantes precisarão responder até 15 de abril, estão disponíveis num texto em inglês. Para acessar o conteúdo, clique aqui. O texto também traz outros links e apêndices com informações bastante interessantes.
Em nossa opinião, é importante acompanhar esse programa canadense devido ao fato de ser um país com algumas características de Defesa Aérea semelhantes ao Brasil (embora o NORAD, no contexto dos vizinhos EUA e Rússia, seja um diferencial marcante, assim como algumas das ameaças percebidas nos períodos citados).
Em comum, estão a extensa área a defender, com grandes vazios demográficos (incluindo áreas com pistas em condições austeras e difíceis, embora de natureza diferente) contrastando com alta concentração de indústrias, população e infraestrutura em alguns pontos-chave do território. Não custa lembrar que os três concorrentes do nosso F-X2 estão na disputa canadense.