Boeing oferece Super Hornet ao Canadá pela metade do preço do F-35
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Reportagem da CBC News traz declarações do piloto de testes da Boeing, Ricardo Traven, que voou na Força Aérea Canadense e pilotou o F/A-18 Super Hornet no Brasil no ano passado, destacando vantagens do caça frente ao F-35 da Lockheed Martin para o Canadá
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Na quarta-feira da semana passada, 27 de fevereiro, a “Canadian Broadcasting Corporation/ Radio Canada” (CBC) publicou extensa reportagem sobre a oferta da Boeing para concorrer com seu F/A-18 Super Hornet frente ao F-35 da Lockheed Martin, numa disputa para reequipar a Força Aérea Canadense. O ponto principal é que o caça da Boeing, apesar de menos furtivo, custaria metade do preço do F-35, mas há também diversas outras questões colocadas, pelo que optamos por traduzir a matéria na íntegra – afinal, trata-se de um caça também cotado para equipar a Força Aérea Brasileira.
Boa parte das declarações sobre as aventadas vantagens do Super Hornet foram dadas pelo piloto de testes do caça na Boeing, Ricardo Traven, que no ano passado voou o F/A-18F em diversas apresentações no Brasil, notadamente nos 60 anos da “Esquadrilha da Fumaça”, na Academia da Força Aérea (veja links ao final). Segue a matéria, traduzida e ilustrada com fotos das apresentações do Super Hornet do ano passado, com Traven no comando:
O Super Hornet é menos furtivo, mas seu preço básico e custos operacionais são menores
Num “dogfight” do mercado de defesa, o caçador pode rapidamente tornar-se a presa. É o que está acontecendo agora com o F-35. A maior empresa de defesa do mundo, a Lockheed Martin, está tentando convencer aliados hesitantes dos EUA, como o Canadá, a manter suas intenções de adquirir o seu caça furtivo F-35 – de alta tecnologia, alto preço e ainda não comprovado. Porém, o F-35 está bem atrasado em seu cronograma, muito acima do orçamento e, agora, impedido de voar devido a uma misteriosa fissura no fan da turbina.
Após anos de problemas técnicos, trata-se de um alvo tentador aos rivais da Lockheed Martin. Assim, não surpreende que a número 2 em defesa, a Boeing, sinta o cheiro de sangue. Com o Governo Canadense reavaliando agora seu comprometimento em comprar o F-35, a Boeing toma uma iniciativa agressiva junto aos contribuintes canadenses, oferecendo a eles uma economia de bilhões de dólares caso comprem o Super Hornet da empresa no lugar do caça da Lockheed Martin.
A Boeing não faz rodeios: a empresa diz que o Super Hornet é um caça comprovado enquanto o F-35 é apenas um conceito, e dos mais caros.
“Nós chamamos isso de competir com um avião de papel”, diz Ricardo Traven, que foi piloto de caça da Força Aérea Canadense por 15 anos e atualmente é chefe dos pilotos de teste do Super Hornet. Traven considera o F-35 um “belo folheto de promessas”, contrastando com “a coisa real”, que está logo atrás dele num hangar secreto das instalações da Boeing em St. Louis, no Missouri.
Nesse hangar “top-secret”, todas as fotografias e vídeos são monitorados bem de perto pela equipe da Boeing, para garantir que nada confidencial seja vazado. Essa equipe diz que os pontos fortes de venda do Super Hornet são confidenciais. O mesmo vale para o F-35. A diferença, segundo Traven, é que o Super Hornet já se comprovou há bastante tempo.
O F/A-18 Super Hornet tem dois motores, comparado ao F-35, que é monomotor. E, marcando outra diferença, ele está pronto agora. Cerca de 500 Super Hornets já estão em serviço na Marinha dos EUA. Dúzias já foram vendidas para a Força Aérea Australiana que, como o Canadá, já esteve comprometida com o F-35 mas desistiu de esperar que este se comprovasse.
Tanto a Boeing quanto a Lockheed Martin dizem que seus aviões são superiores em diversos itens. A característica principal destacada pela Lockheed Martin é a furtividade. A da Boeing, é o preço. Mas, com orçamentos de defesa sendo encolhidos por todo o mundo, o quesito preço é cada vez mais o que os governos querem ouvir.
O preço de cada Super Hornet é de aproximadamente 55 milhões de dólares americanos. O Pentágono espera que o F-35 custe o dobro, aproximadamente US$ 110 milhões. Mas apenas 20 por cento do custo de possuir uma frota de caças refere-se ao “preço de etiqueta” dos aviões. Oitenta por cento é custo operacional, aquilo que mantém os jatos voando. Isso engloba desde pilotos e combustível até manutenção e peças de reposição.
Ei, você quer economizar 23 bilhões de dólares?
É aqui que a diferença entre o F-35 e o Super Hornet chega à estratosfera. Segundo Mike Gibbons, vice-presidente para o programa Super Hornet, “os custos atuais para operar um Super Hornet são menos da metade dos custos projetados para quando o F-35 entrar em operação, e isso apenas para operar.”
Menos da metade? Mas como ele pode saber disso, já que os caças F-35 ainda não estão em serviço?
Gibbons tem a resposta pronta: “Ninguém sabe o quão custoso aquele jato será, quando entrar em operação. O que sabemos é quanto o Super Hornet é acessível atualmente, porque temos custos reais.” O Super Hornet custa aproximadamente 16.000 dólares por hora de voo, diz Gibbons – e o F-35 vai custar o dobro disso.
Certeza? Isso parece bom demais para ser verdade, e por isso a CBC News mergulhou nos dados da Boeing para saber o quão confiáveis eles são.
De acordo com o GAO (nota do editor: escritório de contabilidade do governo dos EUA), hoje o Super Hornet custa à Marinha dos Estados Unidos 15.346 dólares por hora de voo. Isso parece muito, até você descobrir que a “meta oficial” de operação do F-35, para a Força Aérea dos EUA, é de 31.900 dólares por hora. O GAO diz que é um pouco mais, algo próximo a US$ 32.500.
A CBC também perguntou à Lockheed Martin se a empresa tinha algo a questionar em relação a esses números – e ela não tinha. Em uma resposta por escrito, um porta-voz da Lockheed se absteve de mostrar outros números, mas insistiu que os custos operacionais do F-35 seriam “comparáveis ou menores” do que os das “legacy platforms”, ou seja, os velhos jatos que ele vai substituir. Entre eles, não está incluído o Super Hornet, que a Boeing afirma que é 25% mais barato de operar do que os caças CF-18 “legacy” do Canadá.
A Lockheed Martin também argumentou que o F-35 iria “alcançar vantagens de custo (…) por nivelar economias de escala” conquistadas por vender apenas um caça, com uma cadeia de suprimeitos, para diferentes países. Porém, ainda é preciso comprovar se essas economias de escala serão um dia concretizadas.
Como se estima oficialmente hoje, uma frota de 65 caças F-35 custará 9 bilhões de dólares para comprar e aproximadamente 37 bilhões para operar ao longo dos próximos 42 anos. Isso dá um total de pouco menos do que 46 bilhões de dólares. Se as estimativas da Boeing forem mantidas, os jatos Super Hornet custarão aproximadamente metade disso.
Trata-se de uma matemática simplória, mas o resultado é revelador, de qualquer forma. É uma economia de praticamente 23 bilhões de dólares. Números que certamente chamam a atenção.
Tudo bem, mas e quanto à furtividade?
Outra questão é mais espinhosa: seria o Super Hornet um avião de segunda categoria? Ao invés do caça furtivo de “quinta geração” que a Lockheed Martin promove, será que o Canadá quer ficar com um não tão furtivo caça de geração “4,5”?
A Boeing também está preparada para essa pergunta. Mike Gibbons, o vice-presidente, responde com cuidado: “Sabemos que o Super Hornet tem uma furtividade efetiva, e essa é realmente a chave. De fato, acreditamos que temos uma furtividade mais acessível do que muitas outras plataformas que estão sendo projetadas e promovidas especificamente como plataformas furtivas”.
Evidentemente, ele está se referindo ao F-35, e não está alegando que o Super Hornet seja mais furtivo, apenas que oferece uma furtividade mais acessível. Mas o piloto de testes, Ricardo Traven, afirma que isso não significa que o Super Hornet seja menos capaz de sobreviver em combate. Como um piloto com experiência no Norte, Traven prefere voar numa aeronave menos furtiva e um pouco mais ágil. A Lockheed Martin trocou agilidade por furtividade, na visão do piloto de testes.
Segundo Traven, no Super Hornet “não foram feitos sacrifícios para furtividade”. Após numerosos pousos no inverno em pistas canadenses congeladas, “você quer um avião com superfícies de controle avantajadas, com flaps grandes… essas coisas dão muita manobrabilidade a uma aeronave”, completa o piloto da Boeing.
Os defensores da furtividade, por outro lado, querem tudo menor para reduzir a assinatura do avião ao radar. Ricardo Traven prossegue: “Os engenheiros de aeronaves furtivas não querem grandes flaps, nem grandes ailerons ou grandes asas, então tudo é diminuído num avião destinado a ser furtivo. Assim, o custo da furtividade não se resume a dinheiro. O custo é em capacidade e desempenho, que eu não acredito que valem o sacrifício pela furtividade.”
“O ganso que não recebeu o memorando”
Ricardo Traven insiste em que esses fatores aumentam a sobrevivência do Super Hornet, mesmo sendo ele menos furtivo. De maneira similar, ele advoga as virtudes de possuir dois motores. Evidentemente, o motor único do F-35 deverá ser bem confiável, diz Traven, mas e se um pássaro é engolido por ele?
“É o caso do ganso que não recebeu o memorando”, diz ele, e que poderia destruir um avião monomotor (nota do editor: colisões em voo com gansos canadenses não são incomuns no norte do Continente Americano). Com dois motores, um piloto ainda pode voar. Além disso, segundo Traven, o trem de pouso do Super Hornet é mais robusto e apropriado para pistas no norte, com neve ou lama. “Dois motores, sistemas hidráulicos duplos redundantes… Quer dizer, eu posso continuar voando e voando. Essas são coisas que eu não gostaria de deixar de lado em voos para lugares remotos ou mesmo em combate, porque são essas coisas que vão trazer o piloto de volta para casa”, completa o piloto de testes.
Pode-se dizer que a Boeing sabe como fazer negócios, mas a Lockheed Martin não fica atrás. De fato, a Lockheed também tem um chefe de pilotos de testes canadense, Billie Flynn, que é duplamente canadense por ser casado com a astronauta canadense Julie Payette.
Responde essa, Boeing!
No momento, Traven também tem algumas conexões canadenses de altas órbitas. Ele é um velho amigo de outro piloto bastante conhecido, general Tom Lawson, nada menos do que o chefe do Estado-Maior de Defesa do Canadá. Há tempos que Lawson vem se mostrando um fã do F-35, mas recentemente começou a diminuir a importância da furtividade. Ele disse à CBS News que os tomadores de decisão do governo deveriam ouvir seu velho camarada. Segundo Lawson, “toda aeronave tem um certo nível de furtividade, não apenas o F-35.” Ele também afirma que o novo secretariado, que vem procurando por alternativas, deverá checar quanta furtividade cada aeronave oferece.
Será que o Super Hornet tem aquilo que apregoa? “Eu não sei”, responde Lawson, que completa: “Nós vamos deixar isso para a equipe checar. Não possuímos Super Hornets. Até recentemente, nem havíamos chegado a considerar sua compra. Então eu acho que Ricardo Traven, meu bom amigo que você mencionou, deve ter algo a dizer a respeito disso, algo que poderia interessar todas essas equipes do governo, que estão juntas para levar isso em conta.”
Liguem seus motores
Assim, a disputa começou. E, se um dia foi amarrada para garantir a vitória do F-35, não é mais o caso agora. O governo insiste que está realmente “pressionando o botão de reset”, e que procura por alternativas com seriedade.
A CBC News contactou os fabricantes europeus do Typhoon, também conhecido como Eurofighter, assim como a Dassault, fabricante francesa do Rafale, e a sueca Saab, que produz o Gripen. Toudos disseram que foram contactados pelo Governo Canadense e que estão prontos para fazer suas ofertas.
Porém, é a entrada da Boeing na disputa que atrai a maior atenção. É o único concorrente dos Estados Unidos ao F-35, e ser “interoperável” com os EUA é um bom negócio para o Canadá. A Boeing também está oferecendo atender ou superar o conjunto de contratos, conhecidos como “benefícios industriais, que a Lockheed Martin direcionaria às empresas canadenses.
Com bilhões em jogo, valerá a pena assistir a essa batalha de gigantes.
FONTE: CBC News (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)
NOTA DO EDITOR: a questão da furtividade relacionada a sobrevivência dos caças, levando em conta a necessidade ou não de se adquirir caças de quinta geração no curto ou médio prazos (especialmente no caso brasileiro), de maneira semelhante a diversos pontos levantados na reportagem acima, é tema de matéria da edição número 5 da Revista Forças de Defesa. Trata-se do artigo “O Brasil precisa de um caça de quinta geração?” (imagens abaixo). Se você não chegou a ler, não perca tempo. Adquira hoje mesmo seu exemplar da revista número 5. Utilize os botões de compra na coluna à direita da página, aguarde a entrega e boa leitura!
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