A-29 para os EUA – Voo para o norte
–
Como o investimento em defesa e no mercado externo levou a Embraer a conquistar o exclusivo mercado de aviões militares dos EUA
–
Na quarta-feira, o Super Tucano conquistou o mundo, ao assegurar um contrato com a maior força aérea do planeta -o primeiro da história da Embraer firmado com os Estados Unidos. “É exemplar. A Força Aérea dos EUA praticamente não tem nenhum avião desenvolvido fora do país. Isso vai abrir os olhos de muitas outras nações sobre o avião e sua aplicabilidade”, diz Ozires, lembrando-se dos obstáculos iniciais do projeto. “Tive grande dificuldade com o Tucano, pois a Aeronáutica não acreditava que a gente pudesse ser capaz de fazer um avião militar de pequeno porte. É um momento histórico. Um gol de placa.”
Para atender a exigências do comprador, os 20 aviões do contrato de US$ 427 milhões com a Força Aérea dos EUA serão montados na fábrica da Embraer na Flórida. No mundo, a versão moderna do avião turboélice, de apoio a missões militares leves, tem 172 unidades entregues, em operação em nove países: entre eles, Colômbia, Indonésia e Burkina Faso.
O voo do Super Tucano rumo ao hemisfério norte é o ponto mais alto até agora de uma estratégia adotada pela Embraer a partir de 2008 e que, de certa forma, resgata as origens da companhia. A Embraer nasceu durante o governo militar de Costa e Silva, para atender inicialmente as necessidades da FAB, que, diz Ozires, “felizmente eram maciças”.
Produzir aviões de excelência que pudessem ser exportados foi o foco desde o início. “As necessidades da FAB permitiram o salto para o futuro”, diz Ozires. As primeiras vendas comerciais vieram em 1979, nove anos depois da fundação da companhia.
A partir da privatização, em 1994, a Embraer se concentrou no desenvolvimento de jatos civis para a aviação regional. Hoje já são quase mil aeronaves em operação em 61 companhias aéreas. A partir dos anos 2000, a empresa entrou no segmento de aviação executiva, com os Legacy, Lineage e Phenom. Dez anos depois, a aviação executiva já representava mais de 20% das receitas.
Turbulência
A crise financeira internacional, no final de 2008, precipitou uma queda brutal na venda de aviões comerciais e executivos. O financiamento secou e as vendas despencaram. Mas, enquanto diversos concorrentes -sobretudo nos EUA- foram à bancarrota e demitiram milhares de pessoas, a Embraer conseguiu atravessar a turbulência (não sem arranhões) garantindo contratos na área militar.
Em 2009, o faturamento encolheu em quase US$ 1 bilhão e a empresa demitiu 20% da força de trabalho. Mas um contrato com a FAB para o desenvolvimento do avião cargueiro KC-390 permitiu à produção seguir em frente. Naquele ano, Defesa representava 9% das receitas. Trinta e seis meses depois a divisão dobrou de tamanho e disputa o segundo lugar com a aviação executiva.
O faturamento em 2012 (ainda não divulgado) deve chegar a US$ 1 bi.
“A diversificação é natural na indústria aeronáutica”, diz Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança. Em um mercado em que relações entre governos são decisivas para os negócios, a EDS encontrou um nicho nas demandas militares de países emergentes. “São semelhantes a nós e nos veem de forma amistosa.”
FONTE / INFOGRÁFICO: Folha de São Paulo, via Notimp (reportagem de Mariana Barbosa)
NOTA DO EDITOR: o título original é apenas “Voo para o norte”