Qaher-313: uma maquete de plástico?

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Poucas semanas após o controverso anúncio do resgate de um primata supostamente enviado ao espaço num foguete do programa espacial iraniano, o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad é alvo de nova acusação de forjar exemplos de sua capacidade tecnológica e militar. Dessa vez, a polêmica envolve o novo caça iraniano stealth (com tecnologia para dificultar a detecção por radares e sonares) Qaher-313, segundo jato desenvolvido no país. Blogueiros descobriram que a imagem do avião foi aplicada sobre uma foto de paisagem de montanhas, manipulada por meio de Photoshop.

Especialistas já haviam expressado suas dúvidas sobre o Qaher-313, quando ele foi anunciado com pompa e circunstância no início do mês em uma cerimônia militar com a presença do próprio Ahmadinejad. De acordo com especialistas, o jato, uma mistura de tecnologias usadas pelos caças americanos F-35 e F-22, não teria como voar por ser muito pequeno e feito de plástico. Sem rebites e parafusos, o avião na verdade parecia ser um modelo em miniatura ou, no máximo, um protótipo.

‘uma maquete de plástico’

Logo depois do evento, o site Khouz News publicou uma imagem do Qaher-313 voando majestosamente sobre uma cadeia de montanhas, mas blogueiros perceberam que a imagem do avião era idêntica àquela divulgada no dia 2 de fevereiro durante a cerimônia em Teerã. O ângulo do avião, o reflexo da luz e as sombras eram exatamente as mesmas. A única diferença era o fato de a imagem ter sido aplicada sobre um fundo em que aparecem as montanhas Damavand, no Irã, tirada do banco de imagens do site PickyWallpapers.com e ligeiramente clareada.

Ahmad Vahidi, ministro da Defesa do Irã, afirmou que o avião tem capacidade de voar baixo e evitar radares, e pode carregar armamento. Ele acrescentou que o jato foi construído com material de alta tecnologia.

No entanto, a foto forjada do voo confirma a opinião de céticos como David Cenciotti, autor de um blog especializado em aviação. Ao analisar a primeira imagem divulgada, ele afirmou que a cabine do piloto parecia ser muito pequena para acomodar uma pessoa. Além disso, estava repleta de controles “do tipo que se encontra em aviões civis de pequeno porte”. A aeronave parecia ser “nada mais que uma grande maquete feita de plástico”, sem os “característicos rebites e parafusos comuns em qualquer aeronave, inclusive as do tipo stealth”.

“As entradas de ar são extremamente pequenas, ao passo que a área do motor não possui qualquer tipo de nariz”, afirma Cenciotti.

A revista de aviação “Flight International”, por sua vez, afirmou que a má qualidade da imagem do avião voando divulgada pelo Irã sugere uma aeronave sob controle remoto, camuflada para parecer o Qaher-313.

“É muito pouco provável que tal jato tenha espaço para carregar equipamento eletrônico, radares, máscaras de oxigênio e, o que é mais importante para um caça, armamento que tornem um caça moderno stealth efetivo”, diz John Reed, especialista em temas militares e de defesa da revista “Foreign Policy”.

manipulações em série

A publicação da foto no Khouz News, um site especializado em notícias da província do Sudeste iraniano Khuzestan, sugere que o regime de Ahmadinejad está principalmente preocupado em impressionar um público interno, com sinais de avanço científico. Diante das críticas, o governo do Irã reagiu e sustentou que se trata de “propaganda inimiga”.

Embora a república islâmica possa ainda estar longe de construir um perfeito caça stealth, está aperfeiçoando a manipulação de imagens. Recentemente, o Irã foi pego quando autoridades do país incluíram um quarto míssil numa foto de 2008 de um teste de mísseis.

Também o anúncio do governo de Teerã de que conseguiu enviar com sucesso este mês um macaco ao espaço foi questionado, depois que dois primatas distintos foram apresentados em fotos divulgadas pela imprensa estatal como sendo o mesmo animal.

No ano passado, o Irã anunciou haver construído o Koker 1, o primeiro drone (veículo aéreo não tripulado) de lançamento vertical. Após um meticuloso exame das fotos, o piloto e blogueiro Gary Mortimer concluiu que o design tinha uma incrível semelhança com um veículo construído e lançado por uma equipe da Universidade de Chiba, no Japão, em 2008.

No caso do quarto míssil, a foto divulgada pela Guarda Revolucionária e distribuída pela France Presse, mostrava quatro mísseis voando no céu, na tentativa de demonstrar ao mundo a potência militar iraniana. Um exame minucioso, porém, mostra que o terceiro míssil é idêntico ao primeiro, o que foi provado depois que a Associated Press divulgou sua versão da foto, recebida de outra fonte. A revelação chegou tarde demais para alguns jornais europeus e americanos, que publicaram a versão manipulada.

FONTE: O Globo, via resenha do EB

FOTOS: na sequência de cima para baixo: via RT; Kouznews via Gizmodo; harsaat.com; Syiahgribeyaz

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