Resgates em Santa Maria: piloto fez 4 viagens em 3 dias para levar vítimas
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Capitão-aviador José Ricardo Schwarz, da Força Aérea Brasileira, viu seu avião-cargueiro Amazonas C-105 ser transformado em hospital voador
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Acionado em Campo Grande às 9h40, decolou com o avião-cargueiro às 11h15 de Mato Grosso do Sul sem saber exatamente o que o esperava no Rio Grande do Sul. “Partimos para o resgate de feridos com 15 macas a bordo”, explicou o capitão Schwarz, em entrevista ao Estado. Ao descer em Santa Maria, às 15h, porém, viu seu avião ser transformado não em um meio rápido de transporte de feridos, mas em um hospital. “As 15 macas se transformaram em sete camas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).”
Muitas das macas foram isoladas para acomodação dos equipamentos de sobrevivência, como respiradores e desfibriladores. Nesse momento, o comandante começou a perceber que a operação não era somente de evacuação, mas de suporte médico efetivo. “Cada paciente tinha um médico e dois enfermeiros acompanhando. Os pacientes já chegavam entubados, sedados. Não esperava encontrar aquilo lá”, afirmou.
Diante da gravidade da situação, Schwarz teve de voar de Santa Maria para Porto Alegre com “rapidez e agilidade, porém com suavidade” por causa do estado crítico das vítimas do incêndio na boate Kiss. O trajeto em cada uma das quatro viagens foi coberto em até 40 minutos. O espaço aéreo estava aberto, com prioridade para o resgate, explicou o comandante.
A primeira viagem foi a mais demorada. As equipes médicas demoraram 1h30 para acomodar os pacientes. Com mais de 2,1 mil horas de voo, habituado a transportar passageiros especiais, como presidentes da República, aquela não seria uma missão corriqueira para Schwarz.
Eram 23h25 da noite de domingo quando Schwarz decolou da Base Aérea carregando sobreviventes da tragédia. Durante todo o domingo, aeronaves menores – Cessna Caravans, Bandeirantes da Embraer e helicópteros de diferentes modelos – já transportavam feridos para hospitais de Porto Alegre e Canoas, na região metropolitana da capital gaúcha. Schwarz então voou a 9 mil pés de altitude, mas mantendo a pressurização da cabine controlada como se os passageiros estivessem a 2 mil pés para evitar o desconforto maior dos pacientes e socorristas.
“Foi uma coisa impressionante”, confessa o oficial aviador, que já participou de salvamentos em enchentes em Santa Catarina e no Acre. Mas nunca nada igual ao trabalho em Santa Maria, com a tensão ampliada pela presença de militares na boate na noite do incêndio. “Mas nós temos treinamento para guerra. Temos de manter o foco”, argumentou. “Na fonia (comunicação do piloto em voo), o que se informava era aeronave com ‘enfermo grave’.” Na chegada ao Aeroporto Salgado Filho, o desembarque dos doentes levados para ambulâncias durou 50 minutos.
Rodízio
O Amazonas voltou a aterrissar na Base Aérea de Santa Maria às 6h40, sob comando de Schwarz. Outra tripulação do Esquadrão Onça, de Campo Grande, também operou a aeronave em uma viagem com pacientes queimados e intoxicados.
Na tarde de segunda-feira, quando os enterros na cidade já haviam sido encerrados, o clima de comoção ainda paralisava Santa Maria, mas a operação de salvamento continuava. Schwarz fez então a quarta viagem no avião-hospital. Decolou para Porto Alegre com outros seis pacientes, às 21h30.
Já de volta à sua base, na quinta-feira, o militar contou que nunca tinha vivido situação semelhante na carreira. “O que mais chocou foi saber da idade das vítimas.”
FONTE: Estadão
NOTA DO EDITOR: a frase “resgates em Santa Maria” foi acrescentada ao título original. As fotos são meramente ilustrativas.