Antonio Ribeiro

“François Hollande tentou abrir a conversa com Dilma Rousseff uma, duas, três vezes, mas não avançou um centímetro na encalacrada venda dos jatos Rafale para a FAB”, escreveu no Radar on-line, o meu amigo e colega Lauro Jardim.

O governo francês foi além das investidas de Hollande. Isso até no jantar de gala em homenagem a Dilma Rousseff, no Palácio Eliseu, para 250 convidados – menos Lula que cancelou presença no pós-Marcos Valério. O cerimonial do Quai d’Orsay, o Itamaraty francês, colocou juntos, na mesma mesa, o ministro da Defesa, Celso Amorim, Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, e o dono majoritário da Dassault Aviation e do jornal Le Figaro, o ex-senador Serge Dassault. Como reforço do lado francês, também Laurence Parisot, a presidente do Medef, o sindicato dos empresários e Jean-Yves Le Drian, ministro da Defesa da França. Ali, o prato principal foi ave de aço recheada de eletrônicos, o Rafale.

No fim do jantar, preparado pelo chef Guillaume Gomez, Monsieur Dassault comentou ao Blog de Paris que a concorrência da Boeing, fabricante do caça americano Super Hornet F-18 estava difícil. E sobre as autoridades brasileiras, lamentou: “Não estão dizendo nada, acho que não será desta vez e não há previsão de quando sairá o resultado”. Nonagésimo sexto homem mais rico do mundo, segundo lista da revista Forbes, Serge Dassault, de 87 anos de idade, considera o seu avião em desvantagem na corrida por ser o mais caro. A razão de acordo com Dassault: o seu caça tem etiqueta estampada em euros enquanto o F-18 é vendido em dólares.

O caça sueco Gripen NP (sic) também tem seu preço em euros – é o mais barato dos três concorrentes. Perguntamos ao Monsieur Dassault se ele cogitava de reduzir o preço? “Não, é impossível”, respondeu. Dilma deixou claro em sua na entrevista coletiva a jornalistas franceses e brasileiros que não é momento oportuno para compra dos caças devido a situação atual da economia brasileira.

Em contrapartida, no jantar, entre os queijos e a sobremesa, torta de mousse de chocolate com nozes, François Hollande passeou com Dilma entre as mesas dos convidados. Não há almoço de graça muito menos jantar gratuito. Aliás, o segundo caso, é quase sempre mais oneroso – no particular, servido em louças Limoges e sob o lusco-fusco dos lustres de cristais Baccarat na sede do governo francês. No movimento, o presidente da França apresentou Dilma ao discretíssimo e de temperamento arisco, Jean-Charles Naouri, presidente do grupo Casino que, recentemente assumiu o comando do Pão de Açucar, a maior rede varejista do Brasil. A presidente gastou seu francês dos tempos de colégio: “Soyez le bienvenu.” E repetiu, uma vez mais, sem trocar de idioma: “Seja bem-vindo.”

FONTE: Veja.com

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