Governo Canadense volta atrás, oficialmente, na compra do F-35
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O motivo é conclusão de auditoria de que os custos de todo o ciclo de vida chegarão a 45 bilhões de dólares – Governo Canadense vai analisar outras opções, mas o F-35 continua sendo uma delas
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Segundo o jornal canadense “The Globe and Mail”, o Governo conservador de Stephen Harper do Canadá está se retratando, oficialmente, de sua decisão tomada há dois anos e meio de comprar o caça F-35 de última geração. Mas o Governo Federal ainda resiste a solicitações para abrir uma competição de um novo caça a jato para o Canadá. A notícia foi publicada pelo jornal na quarta-feira, 12 de dezembro, e atualizada nesta quinta.
O anúncio oficial foi feito na quarta-feira, quando o Governo Harper informou que oficialmente estava voltando atrás em seu plano de comprar 65 caças de uma só fonte, como substituto da frota envelhecida de jatos CF-18 Hornet. Foi um caso raro de virada de 180 graus numa administração que com pouca frequência admitiu seus erros, mas que foi julgada necessária pelos conservadores para restaurar suas credenciais de administração com preocupações fiscais.
Uma autoridade do Governo declarou, numa coletiva de imprensa, que “nenhuma decisão foi tomada quanto a um substituto do CF-18”. O fato é que os custos de ciclo de vida do caça F-35 da norte-americana Lockheed Martin foram auditados em cinco vezes o valor que os conservadores haviam divulgado. Segundo o anúncio do Governo na quarta-feira, serão 45 bilhões de dólares no total, o que dividido por aeronave vai superar 600 milhões. A compra havia sido anunciada pelos conservadores originariamente a um valor de 9 bilhões (nota do editor: esse trecho da matéria faz, propositadamente ou não, uma confusão de custo de aquisição divulgado em 9 bilhões com o custo de todo o ciclo de vida, auditado agora em 45 bilhões. Em notícias anteriores, o próprio Governo Canadense estimava perto de 20 bilhões o custo do ciclo de vida – de fato, um valor menor que o auditado, porém não cinco vezes menor)
O ministro da Defesa Peter MacKay e a ministra de Obras Públicas (Public Works) Rona Ambrose fizeram um grande esforço na quarta-feira para se distanciarem do anúncio de julho de 2010 relativo à intenção de comprar os caças, ainda que MacKay, na ocasião, tivesse posado para fotos em frente a uma maquete da aeronave. O ministro da Defesa disse a repórteres: “Estamos apertando a ‘tecla reset’ nessa aquisição de forma a assegurar um equilíbrio entre as necessidades militares e os interesses dos contribuintes. Vou deixar claro: o Governo do Canadá não vai prosseguir com uma decisão para substituir os caças CF-18 até que todos os passos… sejam completados.”
O Governo Canadense, segundo o jornal, anunciou formalmente que agora está buscando alternativas ao F-35 que atendam melhor à necessidade de substituir os velhos CF-18 . Porém, o governo deixou claro que ainda pode ser decidido que o F-35 é o melhor para a tarefa. Ambrose disse: “Estamos realizando uma completa análise das opções e, obviamente, o F-35 é uma dessas opções”. Ainda assim, e apesar da demanda da oposição, o governo está reticente em abrir uma concorrência para isso, dizendo que vai esperar primeiro uma análise da Força Aérea Real Canadense sobre as opções.
A auditoria que concluiu custos de ciclo de vida de 45 bilhões de dólares foi feita pela consultoria KPMG. Ela analisa os custos em um período de 42 anos, levando em conta uma vida útil de 30 anos para cada jato, com 65 exemplares e mais 11 reservas no total, considerando também combustível, manutenção e modernizações. Isso daria perto de 600 milhões de dólares por unidade. Menos de 20% dos custos são de aquisição, enquanto 80% são para manter a frota operando.
O Governo Canadense ainda assume a possibilidade, conforme documento divulgado, de que os Estados Unidos farão uma grande encomenda dos caças, com os EUA e parceiros adquirindo 3.100 unidades – mas como esse número poderá cair, o custo total subiria 500 milhões de dólares para cada 400 jatos cortados em encomendas internacionais, devido à perda de escala.
Também foram ajustadas as expectativas de benefícios industriais com o negócio para o Canadá. De 12 bilhões de dólares, caiu para 9,8 bilhões. Até o momento, as firmas canadenses, que só puderam competir por trabalho no programa pelo fato do Canadá se juntar ao consórcio de países que planeja comprar os F-35, já garantiram carga de trabalho de 438 milhões. Segundo fontes, os custos crescentes do ciclo de vida do F-35 e a decisão canadense de buscar alternativas está criando pânico nas empresas do país, já que disputam contratos de fornecimento para o jato da Lockheed Martin.
Ainda segundo o jornal, o fato do Governo Harper sair à procura de alternativas para o controverso F-35 é a demonstração mais significativa de que está preparado para deixar de lado sua primeira opção em novos caças. Autoridades canadenses vão coletar informações de outros fabricantes, incluindo a norte-americana Boeing, fabricante do Super Hornet, e o consórcio europeu Eurofighter, que fabrica o Typhoon. Também deverão contactar a sueca Saab, que produz o Gripen, e a francesa Dassault, fabricante do Rafale. A meta do governo é completar essa análise o mais rápido possível em 2013. Uma decisão sobre fazer ou não uma concorrência poderá ser tomada após a análise.
Vale lembrar que o Canadá não assinou nenhum contrato de compra do F-35, apenas sinalizou ao fabricante que deseja adquirir 65 exemplares, não sendo obrigado a comprá-los. Há um Memorando de Entendimento, assinado em 2006, ajustando as cláusulas pela qual cada país parceiro do programa poderia adquirir o caça, permitindo também que suas indústrias competissem por contratos de fornecimento.
FONTE: The Globe and Mail (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)
FOTOS: Lockheed Martin
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