Força Aérea dos EUA luta para manter aeronaves envelhecidas em voo

No último domingo, 4 de novembro, a Associated Press divulgou uma reportagem que foi reproduzida em pelo menos duas versões em diversos meios nos Estados Unidos, incluindo o jornal Washington Post (link para texto em inglês ao final). A matéria trata do envelhecimento das aeronaves da USAF (Força Aérea dos EUA).

O ponto principal da reportagem é que, por décadas, a USAF cresceu acostumada a ser classificada por superlativos como “sem rival” ou “imbatível”. Hoje em dia, porém, alguns de seus principais aviões são descritos como “geriátricos” ou “decrépitos”.

O tema do envelhecimento da USAF chegou a aparecer nos debates presidenciais dos EUA, quando o candidato republicano Mitt Romney citou-o como evidência do declínio da capacidade militar do país. Chamou mais atenção, porém, sua afirmação de que a Marinha dos EUA (USN) tem hoje sua menor dotação de navios desde 1917. Isso graças à resposta do presidente e candidato à reeleição Barack Obama de que a USN também tem menos “cavalos e baionetas”.

Porém, analistas dizem que a USAF tem um problema real, que quase certamente vai piorar independentemente de quem vença a eleição de terça-feira, dia 6. A situação foi criada em parte por uma falta de urgência na era pós-Guerra Fria, além de dificuldades de projeto e estouros de orçamentos que adiaram tentativas de construir aviões de nova geração. Incertezas quanto a cortes de orçamentos limitam a capacidade da USAF em se acertar. Ao mesmo tempo, a China cresce como uma potência global, o que enfatiza a necessidade de melhorias. E, apesar da mais formidável força aérea do mundo nunca ter feito grande uso de baionetas, ela tem uma boa dose de “cavalos de batalha”.KC-135 Stratotanker, resquício da era Eisenhower

Sem esse avião-tanque apoiando seus caças, provavelmente a USAF não conseguiria lutar no Iraque, Afeganistão e Líbia. Uma aeronave que entrou em serviço durante o mandato de Dwight Eisenhower, em 1956, sendo que o mais novo exemplar dos 400 em serviço começou a voar praticamente há meio século, em 1964. Assim falou o tenente-coronel Brian Zoellner, que voa o KC-135 há 15 anos e chefia as operações do 909º Esquadrão de Reabastecimento Aéreo baseado em Kadena (Japão): “Nós estamos em território inexplorado, e o desconhecido está em que ponto o KC-135 se torna inservível.” Seu substituto, o KC-46A, provavelmente não será entregue antes de cinco anos, e alguns KC-135 poderão estar voando até 2040.

“That ‘70s Show”, os caças F-15, F-16 e o avião de ataque A-10

Numa brincadeira com o nome do conhecido seriado de TV, a reportagem chama a atenção inicialmente para o F-15, o cavalo de batalha da USAF concebido à época da Guerra do Vietnã, com vida útil planejada de 5.000 horas de voo. Essa vida foi mais do que triplicada, estando agora em 18.000 horas. O F-16, outro caça de fundamental importância, está em serviço desde 1979, e os mais velhos começaram a dar baixa há dois anos. Outro jato dos anos 70 é o A-10 Thunderbolt, de apoio aéreo aproximado para as tropas em terra. As asas estão sendo substituídas devido a fissuras, e o custo de revitalizar e modernizar as aeronaves será de 2,25 bilhões de dólares ao longo de 2013.

A USAF vem renovando sua frota de caças com os F-22 e F-35 de tecnologia furtiva, mas a produção do primeiro foi interrompida depois que seu custo unitário chegou a meio bilhão de dólares. Atrasos e custos crescentes também estão afetando o F-35, que tornou-se o mais caro programa do Departamento de Defesa de todos os tempos.

Aviões de espionagem dos anos 50: o U-2

O famoso jato de espionagem voou pela primeira vez em 1955, tornando-se um ícone à época da crise dos mísseis em Cuba e com a derrubada de um deles em 1960, que levou à captura do piloto da CIA Francis Gary Powers. O U-2 “Dragon Lady” ainda é usado para vigilância sobre a Coreia do Norte e outros cenários “quentes”. Apesar de muitos argumentarem que a aeronave remotamente pilotada Global Hawk poderia fazer o mesmo trabalho de forma mais eficiente, o Congresso dos EUA vetou a ideia por enquanto, e mais de 1,7 bilhões de dólares estão sendo investidos na atualização do U-2.

B-52, astro de comédia da Guerra Fria

Icônico? Sim. Moderno? Não. O B-52, cultuado por fãs do cinema em seu papel na comédia “Dr. Fantástico” de 1964, continua sendo a espinha dorsal da força de bombardeiros estratégicos da USAF. Estreando em 1954 e já tendo perdido sua primazia à época da Guerra do Vietnã, ainda tem cerca de 100 exemplares em serviço. O B-1 da década de 1970,  criado como um substituto, foi um projeto morto pelo presidente Jimmy Carter, ressucitado pelo sucessor Ronald Reagan, mas cuja última entrega foi em 1988.

Veio então o furtivo B-2 Spirit, que voou pela primeira vez em 1989. devido a uma produção de apenas 21 unidades, alcançou um custo proibitivo de 2 bilhões de dólares cada. Quanto a um novo projeto, o chamado “Long Range Strike Bomber” (bombardeiro de longo alcance), ainda não está claro sobre quando estará pronto.

Ainda assim, a mais bem equipada força aérea do mundo

Todas essas aeronaves passaram por grandes programas de revitalização e modernização, e a maioria dos especialistas concorda que a USAF continua sendo a mais bem equipada força aérea do mundo. Suas aeronaves não começarão a cair do céu, em breve, graças a trabalhos extensivos e caros de manutenção.

Segundo Loren Thompson do Lexington Institute, “a razão pela qual a frota está tão decrépta é porque, nos 10 primeiros anos após o final da Guerra Fria, os tomadores de decisões políticas nos EUA estavam numa era de paz duradoura. Depois, passaram-se 10 anos de combate com inimigos sem força aérea nem defesas aéreas. Assim, o Poder Aéreo foi negligenciado por 20 anos, e hoje a USAF reflete isso.”

O coronel reformado da USAF Robert Haffa, do Centro de Avaliações Estratégicas e Orçamentárias, acrescenta que apesar das Forças Terrestres serem uma preocupação principal no Iraque e Afeganistão, o Poder Aéreo será fundamental para futuras necessidades de segurança na medida em que os  Estados Unidos voltam suas atenções para o Oceano Pacífico e à China, que vem se fortalecendo.

A China, diferentemente dos recentes adversários dos Estados Unidos, tem uma força aérea de credibilidade e é concebível que teria capacidade de atacar bases dos EUA na região. Isso requer uma força de dissuasão baseada fora do alcance. Bases norte-americanas no Japão e até em Guam estariam a uma distância de ataque de mísseis da Coreia do Norte.

Segundo o coronel Haffa, “na medida em que os Estados Unidos ampliam seu foco no Pacífico, essas plataformas para ataques de longo alcance serão especialmente importantes. E aeronaves como o B-52 simplesmente não conseguirão sobreviver.”

FONTE: Associated Press via Washington Post (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)

FOTOS: USAF

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