Academia de Ciências Aeronáuticas é inaugurada em Curitiba
A cerimônia contou com palestras do reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, do ex-ministro da Aeronáutica e atual presidente executivo da Associação Nacional de Concessionárias de Aeroportos Brasileiros (ANCAB), tenente-brigadeiro Mauro José Miranda Gandra, e do aviador e ex-chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), major-brigadeiro Jorge Kersul Filho.
Terceira chance para desenvolver o Brasil
Nessa primeira metade dos anos 2000, fatores como inflação controlada, dívida pública relativamente baixa e a consolidação de uma classe média de cerca de 50 milhões de brasileiros com crescente poder aquisitivo, além do bônus demográfico de uma grande parcela da população em idade economicamente ativa, convergem para um momento favorável à expansão de vários setores da economia – inclusive o setor aéreo.
Ainda citando Gianetti, o reitor da UP alerta que essa terceira chance de desenvolvimento pode ser a última, e aponta possíveis obstáculos. Segundo o reitor, o primeiro é a tolerância para com problemas como corrupção e ineficiência governamental, e a “complacência por acharmos que reconquistamos a confiança e os bons indicadores econômicos, e por isso relaxarmos e perdermos a oportunidade”.
Outro empecílio é a infraestrutura física, social e empresarial incompatível com as novas demandas de consumo e serviços geradas pelo crescimento econômico. Ao citar a infraestrutura de transportes – e dentro dela o setor aeroviário – Martins reforça o problema, mas, ao mesmo tempo, aponta o transporte aéreo de pessoas e cargas leves como uma solução interessante. “Ainda que a estrutura [dos aeroportos] em terra seja cara, a via é barata, é o ar”, comentou. Como exemplo das possibilidades positivas, ele cita a Embraer, que contrariou a tendência dos grandes aviões, e se consolidou no nicho das máquinas pequenas para distâncias curtas. Soma-se a isso a tendência da aviação regional como uma opção de expansão do setor a partir de aeronaves e infraestrutura aeroportuária mais econômicas do que as da aviação de grande porte.
Ainda tratando do ramo aeroviário, o reitor Martins alerta para a falta de profissionais para atender ao número crescente de passageiros e aeronaves circulando, mas reafirma a aviação como ramo em expansão dentro dessa terceira onda de oportunidades para o desenvolvimento econômico do Brasil.
Situação do sistema aeroportuário, atuais procedimentos administrativos e tendências para expansão do setor aéreo
O brigadeiro disse esperar que os leilões ajudem a promover as ampliações e melhorias necessárias para adaptar o setor aeroviário à nova realidade. Para o ex-ministro da Aeronáutica, os problemas atuais do tráfego aéreo residem nas estruturas atuais dos aeroportos – pátios com pouco espaço, por exemplo, e também na cultura dos pilotos, que devem se adaptar a realizar saídas mais rápidas das pistas, uma vez que há mais aeronaves circulando.
Ao tratar do modelo atual de concessões para a administração dos aeroportos, o brigadeiro descreve a iniciativa privada como figura majoritária, e a Infraero como parte minoiritária, mas também um importante “poder moderador” da administração e dos custos dos serviços. Sobre as novas concessões a serem feitas, o brigadeiro afirma: “é difícil planejar sobre aeroportos. Mas é mais difícil ainda se não houver ações para ampliação”.
O ex-ministro se mostrou reticente quanto à possibilidade de construção de novos aeroportos, apontando que novas obras atenderiam mais às lógicas da iniciativa privada do que a necessidades reais que poderiam ser sanadas com a ampliação e melhoria das instalações já existentes.
Por fim, ao comentar sobre a tendência da aviação regional, o brigadeiro foi cauteloso, e apontou as possíveis dificuldades das empresas do setor aéreo para estabelecer a estrutura necessária, apesar da tendência crescente rumo a esse campo da aviação civil.
Segurança aeronáutica e a importância da mentalidade voltada à prevenção de acidentes
Foram apresentadas também estatísticas nacionais e regionais acerca dos acidentes ocorridos entre 2002 e 2012 – só nesse ano, foram 127 ocorrências com 55 mortos. Ao tratar desses dados, Kersul aponta para as particularidades nas ocorrências monitoradas pelos Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPAs), e deu como exemplo a regional do SERIPA V, que compreende os três estados da região sul do país, onde a aviação agrícola é a que mais sofre acidentes, em contraste com outras regionais. “É importante atacar os problemas setorialmente”, explica o brigadeiro.
Os pontos principais da palestra foram alguns dos princípios que regem a investigação preventiva de acidentes aeronáuticos. Um deles é que as ocorrências não devem ser atribuídas a uma única causa, mas a uma sequência de eventos que não foi interrompida em algum momento. A partir dessa visão processual dos desastres, o ex-chefe do CENIPA enfatiza a necessidade de “mobilização geral”, partindo do pressuposto de que “todos são responsáveis por evitar acidentes aeronáuticos”.
O brigadeito Kersul aponta para a importância de expandir a mentalidade de prevenção para além dos profissionais nas cabines das aeronaves, e incluir técnicos, mecânicos, controladores e demais envolvidos na sequência de operação do tráfego aéreo. Para Kersul, também é preciso dosar recursos e incorporar a prevenção de acidentes à lógica empresarial das companhias de aviação. “O avião deve voar o dia inteiro, a noite inteira, mas com segurança”, afirma.
O brigadeiro Kersul encerrou sua exposição atentando para a importância de manter essa mentalidade de prevenção não apenas logo após grandes desastres, mas o tempo todo, para evitar ao máximo novas ocorrências.
FOTOS: Renaclo Tekutli.
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