‘Rafale vai esperar’, disse MD da França ao voltar dos Emirados

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A negociação do Rafale para os Emirados Árabes Unidos terá que aguardar, pois a questão ‘envenenou’ relações do país com a França, segundo Ministro da Defesa francês – falando em exportações do caça, elas deverão aliviar orçamento de defesa do país a partir de 2017 – até lá, entregas domésticas deverão se manter, por contrato, em 11 unidades anuais

Na quarta-feira, 24 de outubro, os jornais  La Tribune e Challenges.fr (com informações da AFP) publicaram notícias a respeito de declarações do ministro da Defesa da França, Jean-Yves Le Drian, que acaba de voltar de visita aos Emirados Árabes Unidos (EAU). Segundo a reportagem publicada no Challenges.fr, Le Drian afirmou que não conversou sobre o caça Rafale da Dassault com seus interlocutores nos EAU: “O ministro está aberto para parceiros, não para clientes”.

As relações entre a França e os Emirados estão degradadas, especialmente no que se refere à compra de armamentos, constatou o ministro em entrevista pelo jornal Le Parisien no dia 24.  Le Drian disse que “os EAU, que faziam 70% de suas despesas militares com a França, passaram esse valor para 10%.” Ele também afirmou que a venda do Rafale aos Emirados não esteve entre os assuntos debatidos: “Essa questão envenenou nossas conversações. O Rafale vai esperar. Essa discussão será feita depois.”

Sobre misturar questões de vendas de armas com relações internacionais, o ministro disse: “Creio que cada um deve permanecer em seu papel. As relações de um Estado com outro Estado devem se manter assim, ou seja, uma parceria estratégica e tecnológica. A função de um membro do Governo é estabelecer as condições de confiança. Os industriais, por sua parte, devem desempenhar o papel de propor uma oferta melhor. Mas não se deve misturar os gêneros.” Ele acrescentou que o papel do ministro da Defesa não é “chegar com um catálogo debaixo do braço” e sim tratar de “parceiros, não de clientes”.

Na sua visita, Le Drian foi recebido pelo soberano de Dubai e vice-presidente dos Emirados, o cheikh Mohammed Ben Rached Al-Maktoum. Foi a primeira visita de um membro do novo Governo Francês aos EAU. Os franceses mantém base nos Emirados com cerca de 700 militares e os países costumam realizar exercícios conjuntos (foto abaixo), dentro de um acordo de cooperação de defesa.

Sobre esse mesmo assunto, o jornal La Tribune  acrescentou que, em maio, já havia noticiado que as negociações para a compra de 60 caças Rafale pelos Emirados estavam em “ponto morto”. Agora, o ministro disse que essas negociações estão “abortadas”, segundo o jornal. Houve “um desgaste” nas relações dos dois países “por dezoito meses” , afirmou Le Drian, acrescentando: “Meu objetivo era recuperar a confiança.”

Exportações do Rafale deverão aliviar orçamento de defesa francês a partir de 2017

No mesmo dia (24/10), o La Tribune publicou reportagem assinada por Michel Cabirol sobre as possibilidades das exportações do caça Rafale contrituírem para aliviar o orçamento de defesa da França. Essa carga deverá ser aliviada a partir de 2017. Esse prognóstico foi dado recentemente ao Comitê de Defesa da Assembleia Nacional do país por Laurent Collet- Gillon, da Direção Geral de Armamento (DGA) francesa. Isso porque, em média, leva 3 anos para se produzir um Rafale e ainda se aguarda a assinatura do primeiro contrato de exportação (nota do editor: contrato com a Índia previsto para ser assinado no início do ano que vem).

Só a partir daí poderia ser reduzida a aquisição anual de 11 caças das Forças Armadas francesas  (9 para a Força Aérea e 2 para a Marinha), sem necessidade de arcar com penalidades do contrato, que estipulou essa quantidade de 11 caças como o mínimo para se manter as capacidades industriais de produção dos componentes.  A princípio, desse mínimo de 11 caças produzidos anualmente era esperado que cinco ou seis fossem exportados (aproximadamente metade da produção mínima).

Em 2010, o então ministro da Defesa Hervé Morin estava preocupado porque, sem exportações, haveria a necessidade da França absorver aproximadamente metade dessa produção de onze anuais, o que daria (coincidentemente) onze caças adicionais ao longo de dois anos (2011 e 2012), a um custo de 1 bilhão de euros além do que já estava no orçamento. Segundo o jornal, o valor ficou menor, na casa de 800 milhões de euros.

Esse valor adicional de despesas no orçamento de defesa permitiu, porém, que a cadência de produção fosse mantida, evitando problemas para cerca de 500 fornecedores de componentes para o caça montado pela Dassault Aviation, dos quais os principais são os grupos Thales e Safran.

FONTES: AFP via Chalenges.fr e La Tribune (compilação, tradução e edição do Poder Aéreo a partir de originais em francês)

FOTOS: Força Aérea Francesa, Dassault e Reuters via Folha

NOTA DO EDITOR: não faltaram, nos últimos anos, notícias sobre as negociações do Rafale nos Emirados (e assuntos relacionados com esse possível contrato de exportação e vendas do caça na Índia e no Brasil). A lista abaixo é só uma parte das matérias já publicadas aqui a esse respeito.

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