Exportação de aviões supera venda de minério de ferro

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Apesar de as aeronaves não terem demanda constante como commodities, especialistas afirmam que números não são aleatórios e que vendas de aviões tendem a continuar em alta por três a quatro anos

 

Brasil Econômico – Cristina Ribeiro de Carvalho

Enquanto a balança comercial registra um saldo negativo para as exportações de minério de ferro, com queda de 23,4% nos primeiros nove meses deste ano, o volume de vendas de aviões caminha na contramão, em trajetória ascendente.

De janeiro a setembro deste ano, as receitas com exportações de aviões somaram US$ 3,2 bilhões, um salto de 33% sobre os US$ 2,4 bilhões de igual período do ano anterior.

O resultado levou esse produto de alto valor tecnológico agregado a subir do 13º lugar na lista dos mais vendidos para a 10º posição, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Apesar de alguns economistas considerarem os dados transitórios, por esse tipo de produto não ter uma demanda linear, como avalia o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a perspectiva é de um cenário favorável para esse segmento.

O professor de comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas Management, Evaldo Alves, diz que a venda de aviões continuará favorecendo da balança comercial brasileira nos próximo três a quatro anos.

“Essa manutenção de bons números será apoiada no aumento da demanda asiática por aeronaves comerciais”, explica Alves, apontando a China, Malásia, Índia, Indonésia e Tailândia como os principais potenciais compradores.

Neste período de nove meses, dados do MDIC já apontam a China como principal compradora, com US$ 696,7 milhões e revela a Itália como um novo grande mercado potencial, já que as exportações para lá saltaram 1.158% neste período frente ao mesmo de 2011 (veja mais na arte abaixo).

“Por isso afirmo que o resultado registrado não é meramente um salto aleatório no mercado aeronaves”, diz Alves.

Embraer

A empresa responsável por esses dados positivos é a Embraer, fabricante brasileira de aviões, que registrou no primeiro semestre deste ano vendas da ordem de US$ 2,8 bilhões, contra US$ 2,4 bilhões de igual período de 2011.

O resultado, segundo balanço financeiro da companhia, representa a entrega de 56 aeronaves este ano, contra 45 em 2011.

Para o professor da Unicamp e ex-secretário de política econômica da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida, a Embraer é uma prova de que é possível construir vantagens comparativas.

“Isso significa que um país não é fadado à visões ortodoxas, responsáveis por determinar que cada nação tem apenas uma aptidão específica de mercado. Com o Brasil, por exemplo, voltado a se especializar em produtos primários”, diz.

Por conta disso, Gomes afirma que as vantagem comparativas são construídas diariamente, tendo como base a constante busca pela inovação tecnológica, educação e capacitação de mão de obra.

“Isso foi bem construído pela Embraer, que teve como sua aliada uma forte política industrial, a qual deveria existir também paras os mais diversos setores”, afirma.

Para atender o mercado mundial, o presidente da Câmara de Comércio Italiana, Pietro Petraglia, contou que a Itália renovou recentemente sua frota e buscou na Embraer os novos jatos.

“As companhias aéreas abriram mão da fabricante ítalo-russo Sukhoi pelos modelos da brasileira por constatar que a qualidade das aeronaves era superiores”, explica Petraglia.

Em 2011, encomendou 15 jatos do modelo 175 da Embraer, com valor de US$ 38,6 milhões cada, com capacidade para 88 pessoas, e cinco do modelo 190, a US$ 42,8 milhões cada, com 100 assentos. “Entre o final deste ano e início de 2013 temos já preparado uma lista de novos pedidos à Embraer”, conta Petraglia, sem revelar detalhes da futura operação.

Petraglia destaca ainda que a tecnologia dos aviões brasileiros já é conhecida mundialmente. “Isso significa mais confiabilidade na hora do voo.” Segundo ele, a facilidade encontrada no financiamento também influenciou a decisão. “Nos outros mercados as negociações são mais difíceis.”

FONTE: Brasil Econômico / iG

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