MD Suíço apresenta detalhes do acordo do Gripen com a Suécia

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Entre os destaques, estão a garantia de preço fixo,  já com custos de desenvolvimento incluídos, e de prazos de entrega por parte do Governo Sueco, assim como o aluguel de 11 modelos C/D a partir de 2016 – uma surpresa é que todos os novos caças serão monopostos

Em coletiva à imprensa realizada nesta terça-feira, 28 de agosto, o chefe do DDPS – Departamento Federal de Defesa, Proteção Civil e Esportes da Suíça, Ueli Maurer, apresentou alguns detalhes do acordo-quadro feito com a Suécia. O acordo visa a obtenção, para os dois países da nova geração do caça Gripen produzido pela sueca Saab.

A apresentação original em pdf, disponibilizada em francês pelo site do DDPS (equivalente a Ministério da Defesa), pode ser baixada no link ao final desta matéria.

Logo no início da apresentação, há um cronograma com todas as datas já cumpridas da concorrência que visa substituir os caças F-5 suíços, assim como as datas futuras. A seguir, há uma interessante  referência ao processo de avaliação do F-18 Hornet no final da década de 1980, que levou à aquisição do modelo na década seguinte.

É citado que a versão avaliada do F-18 Hornet foi a inicial, A/B, enquanto a adquirida foi a versão C/D, bastante melhorada (com motor mais potente, novo radar e novos mísseis). Claramente, essa citação foi feita como comparação com a disputa atual que selecionou o Gripen, já que as avaliações em voo foram feitas com o Gripen C/D, enquanto as aquisições serão da nova geração E/F, atualmente em desenvolvimento.

Abaixo, alguns dos destaques da apresentação, referentes ao acordo-quadro com a Suécia para a aquisição do Gripen de nova geração.

  • Cooperação estratégica entre a Saab, a indústria aeronáutica suíça, a FXM e a armasuisse;
  • O preço total de 3,126 bilhões de francos suíços (cerca de 3,25 bilhões de dólares ao câmbio atual) é fixo, inclui os custos de desenvolvimento, e é uma garantia do Governo Sueco. Um primeiro pagamento de 300 milhões será realizado em 2014, e um segundo será acordado quando do contrato de compra;
  • As primeiras entregas para a Suíça e Suécia serão em 2018. Até 2021, a Suíça receberá todos os 22 caças, enquanto a Suécia deverá receber oito até 2020, ficando suas demais entregas para depois de 2021;
  • Todos os caças serão monopostos (versão E);
  • O Governo Sueco também garante que o Gripen vai cumprir as características especificadas, além da eficiência no nível operacional, e que novos desenvolvimentos só serão solicitados para atender a novos requerimentos operacionais;
  • Míssil ar-ar além do alcance visual será o Meteor ao invés do AMRAAM, oferecendo maior alcance, porém com maior custo;
  • Radar AESA (varredura eletrônica ativa) compatível com o Meteor e novo equipamento de guerra eletrônica;
  • Serão alugados 8 caças Gripen C (monopostos) e 3 Gripen D (bipostos) para a fase de transição, entre 2016 e 2020, a um valor de 44 milhões de francos suíços por ano – comparativamente, são 10 milhões a mais do que os custos operacionais do F-5.

Repercussão na mídia suíça

Os opositores da compra, segundo a TV Suíça (SFTV) não viram nada de novo no que foi apresentado. Um deles, o líder do partido FDP, Philipp Müller, qualifica como “um absurdo” a solução de transição, que é o aluguel de caças Gripen da versão C/D entre 2016 e 2020. Ele também diz que não faz sentido que os pilotos suíços treinem em “aeronaves ultrapassadas com nada em comum com os comprados”.

A parlamentar Chantal Galladé só vê como fato positivo a garantia negociada com o Governo Sueco, afirmando que “os riscos políticos e técnicos continuam os mesmos”. Politicamente o acordo seria imprevisível, pois dependeria da aprovação da compra pelo Parlamento Sueco em dezembro, segundo Galladé. Ela vê como risco técnico o fornecimento de apenas caças monopostos: “Como os suecos não produzem bipostos, a Suíça terá que levar monopostos.” Essa restrição poderia ser repetida, na opinião da parlamentar, em outros detalhes.

Thomas Hurter, líder do comitê que avaliou e validou a seleção do Gripen (embora com críticas), elogiou a garantia governamental, mas também ressaltou questões em aberto. Ele quer que o aluguel de caças usados seja deduzido do preço da compra. Para Hurter, a mídia suíça fez “muito barulho” sobre a apresentação desta terça, só que não foi um dia de decisão. Deve-se esperar primeiro o que os suecos vão decidir no final do ano, para só então seguir com a decisão do Parlamento Suíço.

Já o chefe do Departamento de Defesa, Ueli Maurer, destacou a garantia do preço fixo da aquisição dos caças, com custos de desenvolvimento incluídos, assim como a entrega a partir de 2018. A data reflete uma decisão de abril do Conselho Federal para adiar a aquisição por dois anos, de forma a não adquirir os novos jatos antes dos suecos comprarem os seus.

Também foi destacado que o Gripen não é um “remendo barato”, e sim um caça que atendeu completamente aos requerimentos. O único ponto negativo entre todos os benefícios da cooperação com a Suécia, para o Departamento de Defesa, é que os suecos forneceriam apenas o modelo E, monoposto. Mas tanto Maurer quanto o comandante da Força Aérea Suíça, major-general Markus Gygax, trouxeram justificativas para essa decisão: como o biposto não possui canhão, o recebimento apenas de monopostos não se trata de uma “concessão penosa”, nas palavras de Gygax.

Outros detalhes do acordo com os suecos não foram revelados pois trazem “informações bastante sensíveis”, segundo Maurer. Mas as partes do acordo que não tragam informações secretas poderão ser publicadas se a Suécia concordar.

Bom demais para ser verdade?

O jornal “24 heures”, editado em francês, trouxe uma entrevista com Ueli Maurer. Aparentemente, o entrevistador achou o acordo com os suecos bom demais para ser verdade, com todas as garantias anunciadas e muito a favor dos interesses suíços, e as primeiras questões para Maurer foram nesse sentido. Este respondeu que, com os suecos, foi conseguida uma relação “ganha-ganha” para os dois países.

Perguntado se essa parceria não estaria desequilibrada, já que os riscos de desenvolvimento seriam assumidos só pela Suécia, Maurer respondeu que, no preço de 3,1 bilhões de francos suíços, já está incluída uma parte dos custos de desenvolvimento. A parte mais cara ficou com os suecos.

Sobre as entregas serem em 2018, quando a Força Aérea Sueca fala em 2023, Ueli Maurer disse que 2023 é quando o Gripen estará operacional na Suécia, incluindo o treinamento de seus pilotos. Mas, para a Suíça, as primeiras entregas serão em 2018. Maurer também afirmou, quando perguntado sobre incertezas no Parlamento Sueco sobre o apoio ao Gripen, que os suecos lhe asseguraram que contam com 80% de apoio, com a aprovação tornando-se mera formalidade.

 

FONTES: DDPS – Departamento de Defesa da Suíça, SFTV– TV Suíça e 24 heures (compilação, tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

Clique aqui para acessar arquivo pdf com a apresentação do acordo-quadro com os Suecos, disponibilizado no site do DDPS

NOTA DO EDITOR: entre todas as informações, a que mais surpreende é que só serão fabricados modelos monopostos da nova geração do Gripen, ao menos no que se refere ao acordo entre os suecos e os suíços. Uma possibilidade é que os suecos não desejam uma versão biposta para uso operacional pleno, apenas para conversão. Assim, bastaria converter alguns dos modelos D (versão biposta do C) para o novo padrão da versão E, ao invés de construir novos bipostos para a conversão operacional. Esse é um ponto importante, ainda a ser esclarecido.

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