Entrevista com o CEO da Boeing
Para o presidente da Boeing, um dos três concorrentes na venda de caças ao país, a proposta de transferência de tecnologia aos brasileiros “já é muito agressiva”
Patrick Cruz
1) Por que o governo brasileiro está demorando tanto tempo para tomar uma decisão sobre a compra dos caças?
As idas e vindas desse projeto são da natureza do negócio. A escolha leva em conta critérios políticos e técnicos. Mas. de fato, o Brasil tem demorado um pouco mais.
2) É a burocracia que emperra o processo aqui?
Não é o caso. Estamos falando, afinal, de defesa nacional, a decisão mais importante que um país pode tomar. Não diria que o Brasil é mais burocrático que os Estados Unidos numa decisão como essa.
3) Uma das exigências do governo brasileiro é a transferência de tecnologia. Qual é a posição da Boeing sobre isso?
A nossa proposta de transferência de tecnologia já está em um nível bastante elevado. Há algum elemento adicional a ser oferecido no acordo? Talvez. Mas nenhum parceiro nosso obtém acordo melhor.
4) Nenhum outro país consegue nada melhor do que foi oferecido ao Brasil?
Não. Para os nossos padrões, a transferência de tecnologia já é muito agressiva. Além do mais, nosso equipamento é o melhor – e o governo brasileiro tem consciência disso.
5) Em 2011, a Embraer venceu uma concorrência para a venda de aviões à Força Aérea americana, mas a compra foi cancelada, supostamente, para beneficiar uma empresa local. A Boeing cogitou a hipótese de interceder a favor da Embraer?
Não nos envolvemos em projetos da Embraer, assim como ela não se envolve nos nossos. Há quem encare o cancelamento do contrato da Embraer como uma posição anti-Embraer ou anti-Brasil. Mas metade dos contratos que a Boeing vence é contestada pelos derrotados. Isso acontece o tempo todo, infelizmente.
6) O governo brasileiro pretende prosseguir com a concessão de aeroportos federais para a iniciativa privada. A Boeing tem interesse nessa área?
Não costumamos encarnar o papel de investidor. Em geral, prestamos consultoria a governos para ajudar a gerenciar essas privatizações – propondo padrões para a construção de aeroportos e analisando a malha aérea. Com rotas mais eficientes, podemos ganhar com a economia de combustível, a redução de poluentes e – claro – a venda de mais aviões.
7) No Brasil, duas companhias aéreas têm, somadas, 80% do mercado de aviação. Não seria o caso de o Brasil abrir o mercado às companhias estrangeiras?
O crescimento aqui é muito agressivo. Além do mercado das companhias de aviação, há um grande espaço, por exemplo, para empresas de manutenção e de serviços. Já sabemos que pelo menos três empresas dessas áreas devem chegar ao país em breve.
FONTE: Portal Exame