Hawker defende sua aeronave em disputa com Embraer

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A americana Hawker Beechcraft, empresa que disputa com a Embraer o contrato de fornecimento de 20 aviões de treinamento avançado e ataque leve para a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), não reconhece que tenha um competidor no nível do AT-6, concorrente do Super Tucano.

Em entrevista ao Valor, o chairman da HBC, Bill Boisture, disse que o AT-6 já passou muito tempo da fase de protótipo e que é o avião certo para atender a missão e os requisitos do programa Light Air Support (LAS) da USAF. As aeronaves serão utilizadas em missões de treinamento avançado de pilotos e em operações de contrainsurgência no Afeganistão. “O AT-6 é o único avião na competição que atende a estes critérios”, afirmou.

Perguntado se os novos requisitos da concorrência, que eliminaram a fase de testes em voo das aeronaves, favoreceriam a Hawker, Boisture disse que vê com bons olhos uma avaliação em voo das aeronaves pelos pilotos da USAF se a instituição assim desejasse.

A Embraer informou que não considera que o novo RFP (sigla em inglês para pedido de proposta) favoreça o concorrente por ter eliminado os testes em corridas no solo e em voo das aeronaves. “As aeronaves foram testadas, ano passado, na Base Aérea de Kirtland, em Albuquerque, no Novo México, e os resultados comprovaram o desempenho superior do Super Tucano”, explicou a companhia.

Ainda de acordo com a Embraer, apesar de a USAF ter declarado que nenhuma das informações, documentos e resultados obtidos na competição anterior seriam considerados na nova avaliação, a companhia tem convicção de que todas essas percepções já colhidas e absorvidas reforçam o fato de que o Super Tucano é a melhor plataforma para as necessidades do programa LAS.

“Além disso, o novo RFP emitido pela USAF tem um requisito que certamente favorece a Embraer: o chamado “PastPerformance”, em que os fabricantes precisam comprovar a experiência anterior da aeronave no cumprimento de missões do tipo LAS”. Segundo a Embraer, a USAF solicitou que três operadores da aeronave enviassem suas impressões sobre o produto que eles utilizam. “Não existem operadores do AT-6. Quanto ao Super Tucano, além da FAB, mais cinco nações operam a aeronave: Colômbia, Chile, Equador, República Dominicana e Burkina Fasso”, informou a Embraer.

Segundo um especialista do setor de Defesa no Brasil, embora a Hawker não admita, o AT-6, uma aeronave derivada do treinador militar T-6, ainda está em fase de desenvolvimento e, portanto, é um protótipo. “Para deixar de ser um protótipo, mesmo que esteja em fase de pré-produção, a aeronave precisa estar certificada e com a linha de produção já estabelecida e este não é o caso do AT-6”, disse.

A versão anterior (T-6), que não foi projetada para as missões de ataque leve e de reconhecimento armado, exigidas pela concorrência da USAF, vendeu cerca de 600 unidades para a Força Aérea e Marinha dos Estados Unidos.

Em 1994, a Embraer perdeu para a Hawker um contrato de US$ 4 bilhões envolvendo a venda de 720 aeronaves na categoria do treinador básico EMB-312 Tucano, uma versão anterior ao Super Tucano. A Hawker se apresentou na competição com a parceira suíça Pilatus e o treinador PC-9. O modelo era fabricado pela Pilatus, mas o projeto foi vendido para a Hawker e transformado posteriormente no T-6, que atualmente está sendo modificado para a versão AT-6.

Sobre a situação financeira da companhia, que anunciou no começo de maio um pedido de proteção contra falência (Chapter 11), o chairman da HBC disse que o processo corre de maneira tranquila e que a companhia deverá sair mais forte e saudável deste processo. Ele afirmou que o processo de reestruturação financeira da empresa não irá interferir na competição da USAF. “Esperamos que a competição seja justa e transparente e que assegure aos EUA e seus aliados o recebimento de uma aeronave que exceda os mais altos requisitos do Departamento de Defesa americano.”

Para o executivo da Hawker, o processo que deu vitória à Embraer foi falho e por este motivo a companhia decidiu protestar judicialmente a decisão. “A USAF validou o processo da empresa quando cancelou a concorrência.”

A área de aeronaves militares responde por 26% da receita da HBC, mas os negócios na área de jatos executivos é que trazem mais receita para a empresa, representando 53% do total. O Brasil é o principal mercado internacional da HBC e a brasileira Líder Táxi Aéreo é a maior representante da companhia americana fora dos EUA. Segundo o diretor de vendas do segmento de aviação executiva da Hawker na América do Sul, Marcos Nogueira, a companhia detém uma fatia de 43% no segmento de aeronaves a turbina. Na América Latina, o market share da Hawker nesse segmento é de 32%. A companhia possui um total de 500 aeronaves em operação no Brasil, entre os modelos turboélices da família King Air e os jatos.

FONTE: Valor Econômico (reportagem de V. Silveira) via Notimp

PRIMEIRA E ÚLTIMA FOTOS: Hawker Beechcraft via Lockheed Martin

NOTA DO EDITOR: não era de se esperar que a Hawker Beechcraft adotasse outro discurso. Muito menos a Embraer, porém as declarações desta última sobre as mudanças no RFP, conforme citado na reportagem acima do Valor Econômico, contrastam com o tom adotado em notas à imprensa de sua parceira na concorrência, a Sierra Nevada. Isso pode ser visto e comparado claramente na matéria publicada aqui na semana passada, editada, traduzida e adaptada a partir de duas notas da empresa, e que encabeça a lista de links abaixo. Clique também nos demais links  para relembrar todo o desenrolar (ou enrolar?) desta já bastante enrolada disputa.

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