Artigo do jornal francês ‘La Tribune’ comemora as dificuldades do F-35
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Segundo o artigo, o F-35 foi criado com a pretensão de colocar vários caças no museu, incluindo o Rafale, mas as dificuldades no seu desenvolvimento podem comprometer tanto esta quanto a sua missão ‘não oficial’: sabotar a indústria aeroespacial francesa
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A guerra do mercado de caças esteve quente na edição do jornal francês “La Tribune” da última sexta-feira, 4 de maio. Às vésperas do segundo turno da eleição presidencial francesa, que dias depois terminou com a vitória do socialista François Hollande, opositor de Nicolas Sarkozy, o jornal trouxe uma matéria de conteúdo claramente nacionalista e antiamericano, destacando as dificuldades pelas quais vem passando o programa do F-35. Vale lembrar que no mês passado o mesmo jornal trouxe artigo sobre as frustrações de Sarkozy em conseguir vendas externas para o Rafale, que em seguidas ocasiões foi derrotado por concorrentes norte-americanos (clique aqui para ler a matéria). Segue a edição do texto assinado por Michel Cabirol, com tradução e adaptação ao português do Poder Aéreo.
No início da década passada, o F-35 da Lockheed Martin seria o caça do século XXI. Conhecido pela sigla “JSF” (Joint Strike Fighter – caça de ataque conjunto), foi apelidado por americanos arrogantes como “Just a Single Fighter” (um único caça), e inundaria o mercado mundial de aviões de combate. Os Estados Unidos planejaram produzir um total de 6.000 unidades, metade para exportação. O preço anunciado oficialmente em 2002 estava entre 31 e 35 milhões de dólares (em valores de 2002). De fato, perto de 50 milhões de dólares.
O F-35 deveria relegar todos os seus rivais a museus, incluindo o Rafale. E também tinha uma missão não oficial: sabotar a indústria aeroespacial europeia, especialmente a da França, o único outro país a dominar todas as tecnologias para desenvolver e industrializar um avião de combate, à exceção da Rússia. Segundo um especialista do Ministério da Defesa, seria para “aprimorar a vassalagem”. Em maio de 2002, Serge Dassault dava uma entrevista ao “La Tribune” dizendo: “Devemos saber que os americanos querem quebrar nossa indústria de defesa para incrementar sua dominação global, porque nós somos seus únicos competidores”.
Naquela época, o F-35 parecia bem próximo de conquistar seu objetivo de eliminar qualquer competição europeia, com a cumplicidade de diversos países da Velha Europa. No final de 2002, Grã-Bretanha, Holanda, Itália, Dinamarca, Noruega e Turquia tornaram-se parceiros do programa JSF, às custas de opções europeias (o Rafale da francesa Dassault, o Typhoon do consórcio europeu Eurofighter e o Gripen, da sueca Saab).
Em julho de 2004 o CEO da Dassault Aviation, Charles Edelstenne, disse ao “La Tribune”: “Apesar dos orçamentos europeus não serem muito ricos, os americanos ainda assim conseguiram tirar dos europeus aproximadamente 5 bilhões de dólares como participação no desenvolvimento dessa aeronave.” Em contrapartida, os EUA prometeram entregar a esses países grandes retornos tecnológicos e industriais. Alguns deles ainda estão esperando.
A chegada do F-35 ao mercado, combinada com a desativação de muitos dos F-16 da Força Aérea dos EUA para serem revendidos usados, deveria completar o esforço americano para eliminar a competição na Europa. Naquela época, os céus da Velha Europa estavam coalhados de aviões americanos, com numerosas frotas de F-16 fabricadas pela Lockheed Martin (Bélgica, Dinamarca, Noruega, Grécia, Holanda, Portugal e Turquia) e de F-18 da Boeing (Espanha, Finlândia e Suíça).
Da ascenção à decadência do programa do F-35
Mas, dez anos depois, as coisas estão mudadas. A crise financeira afetou enormemente os membros europeus do programa JSF, que estão com poucos recursos disponíveis. Ao mesmo tempo, o programa do F-35, considerado uma máquina de guerra contra a aviação militar europeia, segue num lento voo planado na direção do fracasso comercial, mostrando ser um abismo financeiro até mesmo para os EUA.
Segundo um especialista do Ministério da Defesa, “o programa do F-35 está em dificuldades”. A implementação operacional na frota dos EUA agora está programada para 2018, contrastando com os planos originais de 2011. No final do ano passado, apenas 20% do programa de testes de voo foi realizado. Tudo isso pode trazer mais dificuldades, resultando em mais atrasos e novos cortes em encomendas por compradores, o que vai aumentar o custo unitário.
Em termos financeiros, o custo unitário mais do que dobrou, atingindo 103 milhões de dólares a preços constantes (excluindo inflação) ou 113 milhões em valores de hoje, de acordo com o Pentágono. O custo do programa agora está em 385 bilhões, um abuso financeiro que está despertando e incomodando países parceiros nos últimos meses, como Canadá, Austrália, Itália e Holanda. Os dois últimos chegaram a reduzir suas encomendas.
O jornal também destaca a controvérsia no Canadá, onde existe a possibilidade de uma competição internacional em que o Rafale francês participe:
Na quinta-feira passada, o responsável pelo orçamento no Parlamento Canadense, Kevin Page, chegou a acusar o Governo Conservador de enganar o público sobre os custos reais do programa para a aquisição do F-35. Seus comentários vêm após a publicação de um relatório preliminar da Auditoria Geral do Canadá, que em abril criticou o Ministério da Defesa por falhar em “estabelecer os custos totais ao longo do ciclo da vida” da aeronave.
O Governo Canadense anunciou, em julho de 2010, sua intenção de adquirir 65 caças F-35 para substituir sua envelhecida frota de F-18, a um custo de 8,5 bilhões de dólares canadenses, ou 16 bilhões contando-se os contratos de manutenção. Porém, tanto para Kevin Page quanto para o Auditor Geral Michael Ferguson, os custos reais de aquisição deverão exceder 25 bilhões.
Ainda assim, o artigo do jornal destaca um ponto positivo: a vitória no Japão sobre o Eurofighter Typhoon e o Boeing F-18 Super Hornet:
Do lado positivo, em dezembro de 2011 o F-35 ganhou sua primeira competição internacional real no Japão, em que competia com o F-18 Super Hornet (Boeing) e o Typhoon (Eurofighter) para uma encomenda de 42 unidades. Os primeiros quatro deverão ser comprados até 2014, mesmo ano em que outro comprador, Israel, deverá se decidir soabre a compra de 19 aeronaves.
Finalmente, a Força Aérea dos EUA, principal cliente, até o momento vem mantendo sua meta de 1.760 unidades, ao passo que a Marinha decidiu aumentar sua frota de F-18 Super Hornet às custas do F-35. Isso porque sérios problemas vêm ocorrendo com a versão de decolagem curta e pouso vertical (STOVL), que poderá até ser abandonada em 2013. Os Fuzileiros Navais dos EUA poderiam seguir a decisão da Marinha caso essa versão seja cancelada.
FONTE: La Tribune (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)
FOTOS: Lockheed Martin e Dassault
NOTA DO EDITOR: a “batalha” franco-americana expressa no artigo acima é apenas mais um capítulo da verdadeira guerra pelo mercado de caças neste século XXI, em que a entrada em operação da chamada “quarta geração” de caças (entre os quais os europeus Rafale, Gripen e Typhoon) é seguida de perto pelo desenvolvimento da “quinta geração”, sendo que as duas gerações disputam os recursos e as concorrências dos mesmos países, tendo também como pano de fundo e fator complicador as ofertas de modelos usados. Mas estes não são os únicos pontos a se destacar nessa guerra. A revista Forças de Defesa número 4 traz um panorama de todas as compras diretas e concorrências de caças deste século, como se pode ver na matéria logo abaixo, com muitos outros elementos para se entender a complexidade desse mercado. Encomende já o seu exemplar para não ficar de fora desse assunto e, enquanto isso, veja algumas das diversas matérias já publicadas sobre essas batalhas aqui no Poder Aéreo, nos links a seguir.
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