Quando alguém pergunta qual é o avião mais bonito de todos os tempos, surge naturalmente uma variedade enorme de respostas e sempre a inevitável “gosto não se discute”.
Muitos preferem eleger aeronaves baseando-se em atributos particulares de cada uma.

A velocidade é mais bem expressa por um F-104, a robustez por um Thunderbolt ou um Hercules, a elegância por um Spitfire, Mosquito ou o nobre Concorde, a agressividade pelo Jaguar, a suavidade de linhas pelo Zero, a força e o poder pelo Tomcat ou Su-27 e até a agilidade por um F-16 ou pelo Fiat CR-42.

Entretanto, se a aparência de um SR-71 transmite uma beleza sinistra, esse avião de aparência ameaçadora, acaba por dever os outros atributos citados.
A aeronave de aparência perfeita teria que reunir as várias qualidades da beleza de outras aeronaves.

Grandes homens na história já estudaram o que é esse “bem fabricado” que é o belo, Aristóteles, Platão, São Tomás de Aquino, etc. Eles dão à beleza certas características que ajudam ao homem admirar realmente o que é belo. Alguns dos atributos da beleza são a ordem, a proporção e a perfeição. E claro, essa noção de beleza só pode ser percebida pela inteligência.

Essas grandes mentes do passado, se pudessem escolher o mais belo avião já construído, com certeza escolheriam o North American P-51 Mustang.
Nós, quando aplicamos esses atributos à matéria, uma obra de arte ou mesmo uma máquina, temos uma melhor compreensão do porque esse avião atrai tanto os olhares. Comecemos então pela perfeição.

A perfeição das coisas como uma obra de arte, pode-se perceber pela evidência. Essa obra de arte do Mustang, essa beleza do Mustang, é aceita pela mente humana de imediato, ao primeiro olhar e é universalmente aceita por qualquer observador, sem a menor crítica ou ressalva, do leigo que nunca viu, do entusiasta detalhista ao menino que sobe aos telhados quando passa rasante esse corcel de alumínio e grita “P-51 Cadillac of the sky!”. Essa perfeição é também notada quando observamos as linhas desse caça em todos os ângulos, de cima, de baixo, em ângulo por trás, quando em voo ou pousado. É impossível ver em seu desenho algo que seja “imperfeito”, isso não é fácil de notar em outros aviões, por exemplo, se um F-15 é belo visto de frente e por cima, tem-se certo desprazer quando o vemos de baixo, um pouco atrás, talvez por uma “imperfeição” no conjunto fuselagem-motor, se um F-100 Super Sabre agrada com suas asas flechadas, sua tomada de ar pode passar a impressão de uma boca nem um pouco atrativa.

A proporção. Quando se compara a fuselagem e a asa do Mustang, nota-se a relação de proporção. Nem asa nem fuselagem são grandes demais, nem pequenas demais. O Focke-Wulf Ta-152 é bonito, mas não é belo, suas asas são grandes demais. O Super Mystère é admirável, mas não proporcional à forma, seus estabilizadores são diminutos se comparados às asas. E quando estudamos a proporção das asas do P-51 e as comparamos com seus estabilizadores e sua deriva, vemos uma relação próxima de ponta a ponta, suas ponteiras de asas parecem ser idênticas às do estabilizador vertical e horizontal.

A ordem. O que dizer sobre esse atributo? Poderia ser a disposição das coisas. Mas ficaria melhor falarmos do arranjo desse equipamento que foi criado não para agradar aos olhos, mas para derrubar outros aviões. Mas Edgar Schmued parecia conhecer bem as qualidades desse bem que é a beleza. O engenheiro chefe mandou que seu arranjo ficasse de tal maneira racional e lógico que inevitavelmente ficaria em ordem.

É fácil de ver essa ordem no Mustang quando se compreende a sequencia de suas tomadas de ar, distribuídas longitudinalmente. Primeiro, logo após o spinner da hélice, vem o que traz vida ao Rolls-Royce Merlin, o ar puro das altitudes, ar que não se perde na fuselagem, pois é rapidamente tragado por essa pequena boca, canalizado,comprimido e misturado com o alimento das máquinas, a gasolina.

Seguindo essa sequência ordenada, vem a charmosa entrada de ar do radiador, abaixo do meio da fuselagem, vem na ordem de prioridades necessárias ao bom funcionamento do motor, na sequencia desse ordenamento, nada sobra, nada falta. Sua fuselagem está perfeitamente ordenada visando-se o melhor desempenho do motor e claro, do piloto, esse protegido pela mais bela capota de acrílico feita por mãos humanas. Observando-se as tomadas de ar dos primeiros Spitfire, podemos ver certo desalinho na disposição de seus radiadores, vemos certo desarranjo no Bf-109 com sua entrada de ar do compressor ocupando somente um dos lados.

Enfim, o P-51 consegue reunir em seu desenho as características da beleza, ele é ordenado, proporcional e perfeito.
Seria desnecessário ter que reunir algumas das milhares de fotos desse belo avião, basta uma, em preto e branco, original, bonita e simples. E é na simplicidade das coisas que encontramos a beleza.
Sem dúvida, é a própria beleza que elege o P-51 o mais belo avião de todos os tempos.

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