O desenvolvimento do jato de transporte militar KC-390, feito pela Embraer e 16 fornecedores principais, traz uma série de inovações tecnológicas que desafiam as áreas de desenvolvimento, manufatura e inovação desses parceiros, segundo o diretor do programa na Embraer, Paulo Gastão Silva.

Com capacidade para 20 toneladas de carga, o KC-390 vai substituir o Hércules C-130, em operação na Força Aérea Brasileira (FAB) desde a década de 60. A nova aeronave é um jato de transporte médio bimotor, que pode ser reabastecida ou abastecer outras aeronaves em pleno voo.

Com sistemas eletrônicos modernos, compatível com o equipamento de visão noturna, o KC-390 está sendo projetado para diversas missões, como lançamento de paraquedistas e carga, evacuação médica, transporte de carga paletizada, contêineres, tropas e veículos blindados.

O maior jato já feito pela Embraer, o 190, para 120 passageiros, tem uma asa de 92 metros quadrados. O KC-390, por sua vez, terá uma asa de 140 metros quadrados. Essa diferença traz uma série de desafios novos para a companhia, tanto do ponto de vista de desenvolvimento de novas tecnologias de manufatura e automação, quanto da própria montagem do avião e da logística, explica Gastão.

Até mesmo a montagem da nova aeronave vai exigir grandes mudanças na área de manufatura em Gavião Peixoto (SP), onde está concentrada a montagem das aeronaves de defesa. A empresa, segundo o diretor, está construindo no local mais seis hangares para abrigar as áreas de montagem final.

Na parte de produto, Gastão diz que poderá ser conquistado um salto tecnológico com o KC-390, relacionado aos comandos elétricos de voo, cujos softwares serão feitos pela primeira vez dentro da Embraer. Conhecidos também como sistemas “fly by wire” [controle de voo por computador], os comandos de voo do KC-390 já foram aplicados com sucesso nos E-Jets da Embraer e, mais recentemente, nos jatos executivos Legacy 450 e Legacy 500, os primeiros a terem todas as superfícies de comandos de voo controladas digitalmente, de acordo com o executivo.

“No KC-390 estamos indo um pouco além, pois faremos toda a parte de integração de sistemas de comando de voo da aeronave e também do software”, destaca o diretor do programa. A tecnologia que envolve as leis de controle do avião, que definem seu comportamento do ponto de vista dos comandos de voo, será desenvolvida e certificada pela Embraer.

Outra inovação que será incorporada no KC-390 diz respeito a um sistema de monitoramento da vida estrutural do avião. A manutenção preditiva da estrutura, segundo Gastão, permitirá a detecção de eventuais danos independentemente das inspeções periódicas. Haverá ainda um monitoramento de prognóstico dos sistemas (hidráulico, combustível, elétrico), que fará alertas dos problemas antes de uma eventual pane.

A previsão da Embraer é que o KC-390 tenha algo em torno de 50 mil “part numbers” [lista de componentes], enquanto o jato civil 190 tem em torno de 44 mil. Estão envolvidos com o projeto na fábrica da Embraer, em São José dos Campos, atualmente, os três parceiros industriais do programa: a Ogma, de Portugal; a Fadea, da Argentina; e a Aero Vodochody, da República Tcheca. Os 16 fornecedores principais do KC-390 também trabalham juntos para definir a configuração do novo avião.

A escolha dos fornecedores foi feita em conjunto com a Aeronáutica, que também exigiu das empresas estrangeiras uma contrapartida, com obrigações de transferência de tecnologia em áreas de interesse da FAB e da indústria nacional, conforme está previsto na estratégia nacional de defesa.

As empresas brasileiras participam do desenvolvimento do KC-390 em algumas áreas consideradas estratégicas, como o trem de pouso, que será fornecido pela Eleb, subsidiária integral da Embraer, e a AEL Sistemas, de Porto Alegre, na parte do computador de missão do KC-390 e também dos sistemas de autoproteção, de contramedidas direcionais infravermelho e de orientação do piloto

Na área de engenharia, a Embraer está trabalhando com a Akaer, de São José dos Campos. Segundo o presidente da empresa, Cesar Augusto da Silva, a Akaer foi a única indústria brasileira a participar da fase de conceituação do KC-390. “Ganhamos 17 dos 30 pacotes que foram oferecidos pela Embraer”, disse o presidente da Akaer.

A empresa também desenvolveu a fuselagem central e traseira, assim como as asas e as portas principais do trem de pouso do Gripen NG, novo caça sueco produzido pela Saab. A Akaer foi a primeira empresa do hemisfério sul a participar de forma efetiva do desenvolvimento de um caça supersônico, que utiliza materiais avançados, como o carbono.

A maturidade tecnológica da empresa, segundo seu presidente, foi conquistada nos últimos 20 anos com a participação no desenvolvimento dos principais aviões da Embraer: família E-Jets e Super Tucano. “Somente para os jatos da família 170/190 dedicamos mais de 1,2 milhão de horas de serviços de alto valor agregado”, explicou Augusto da Silva.

Segundo o executivo, a Akaer também negocia com vários parceiros estrangeiros da Embraer encarregados de fazer outras partes do avião. Em 2011, a empresa faturou R$ 20 milhões, dos quais 50% vieram dos contratos com a Embraer e o restante de serviços de exportação para a sueca Saab, a belga Sonaca, que fornece partes da estrutura do jato executivo Legacy 500, da Embraer e de alguns trabalhos para a espanhola Aernnova.

FONTE: Valor Econômico (reportagem de V. Silveira, que viajou a convite da Embraer), via Notimp

IMAGENS (exceto a do alto): Embraer

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