Eliane Cantanhêde

ESTOCOLMO – A esta altura, mais de dez anos de idas e vindas, todo mundo (quase literalmente) já sabe que o Brasil precisa comprar 36 caças para renovar a frota da FAB. O que poucos sabem é que esta é apenas a parte visível de um processo bem mais complexo.

Com os caças, o Brasil entrou no radar dos países líderes na área de defesa e está sendo cobiçado e levado a sério no contexto internacional -apesar dos vexames pelo caminho. As empresas selecionadas para o programa dos caças -Boeing (EUA), Saab (Suécia) e Dassault (França)- vêm descobrindo no Brasil um mercado de ouro tanto para a aviação civil, que cresce exponencialmente, quanto para a defesa.

Como comparação, a Suécia tem mais de 9 milhões de habitantes, e o Brasil, mais de 190 milhões. Com empregos, a renda crescendo, as viagens multiplicam-se e isso não vai parar. Na área de defesa, os dois programas mais vistosos para as empresas são o Sisfron, sistema integrado de fiscalização e controle da Amazônia e das fronteiras terrestres, e o Sisgaaz, da chamada “Amazônia Azul”, ou seja, para o pré-sal e a fronteira marítima. Eles envolvem satélites, radares, inteligência, cibernética, mísseis, torpedos.

Na semana passada, dois técnicos de primeiro time da Boeing estiveram em Brasília para trocar ideias na área militar sobre o que o Brasil precisa e o que eles têm a oferecer. Na semana que vem, será a vez de técnicos da Saab. E, evidentemente, a Dassault não ficará atrás.

Brinca-se em Brasília que os políticos preferem a oferta francesa (Rafale), os pilotos, a norte-americana (F-18), e os engenheiros, a sueca (Gripen), sem falar que Lula manifestava a opção pelos Rafale e o relatório da FAB aponta os Gripen.

Independentemente disso, todos eles fincaram uma estaca no Brasil e estão em frenética fase de prospecção de negócios para os próximos 30, 50 anos. Vieram para ficar.

FONTE: Folha de São Paulo (página de opinião) via Notimp

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