Qual conta somaria mais vantagens ao
F-X2: 126 + 36 ou 36 + 22?

39

A conta e a resposta parecem simples, mas não são. Primeiramente, vamos explicar do que estamos falando. No final de novembro do ano passado e no final de janeiro deste ano, dois dos concorrentes do programa F-X2 da FAB foram escolhidos em duas outras concorrências internacionais: respectivamente, o sueco Gripen E/F na Suíça e o francês Rafale F3 na Índia. As negociações estão em curso e os contratos ainda não foram assinados, mas representam por enquanto as primeiras exportações de ambos nas versões que concorrem na FAB (o Gripen já conquistou quatro clientes externos, mas na versão anterior, a C/D).

Não estamos falando nesta matéria do terceiro concorrente, o Super Hornet, apesar dele ter acumulado grandes vendas ao principal cliente, a Marinha dos EUA, e já ter conquistado um contrato de exportação, junto à Austrália. A questão é que esse contrato australiano já teve suas unidades entregues e não envolveu a instalação de uma linha de montagem final no país comprador. E é isso que diferencia a compra australiana desses dois contratos que estão sendo negociados na Suíça e na Índia: justamente a questão da linha de montagem à qual estamos nos referindo na conta do título acima, e o fato de os outros dois terem contratos para o exterior ainda em negociação, e não já concretizados e com aeronaves entregues.

Os 126 + 36 do Rafale

Nesta semana foi noticiado que, na visita da presidente Dilma Rousseff à Índia, um dos temas no topo da agenda é a escolha do Rafale pelos indianos, num total de 126 caças. Segundo as notícias, deverão ser discutidas as vantagens de uma parceria com a Índia caso o Brasil escolha o Rafale. Seria uma forma de baratear o custo do Rafale para o Brasil, talvez com uma linha de montagem compartilhada. Nesse caso, a soma à qual nos referimos no título é 126 + 36, o que dá 162 caças.

O número impressiona, mas a maior parte é da encomenda indiana (da qual 108 deverão ser montados numa linha de produção na estatal indiana HAL) e a parte menor é a brasileira, representando menos de 1/3 dessa “soma”. É improvável que, numa negociação desse tipo, a linha de montagem final ficasse no Brasil. Provavelmente poderia ser discutida a produção aqui de componentes não produzidos na Índia (que por seu lado pretende gradativamente aumentar o conteúdo indiano do Rafale montado na HAL). Assim, nessa negociação o Brasil é o lado “menor”, falando apenas do aspecto quantitativo. Em compensação, quanto a componentes que poderiam ser produzidos no Brasil (dentro de uma negociação de quem está do lado menor da parceria), o total de aeronaves que os utilizariam, passando de uma centena, pode até ser visto como mais interessante do que a instalação uma linha de montagem final no Brasil.

Os 36 + 22 do Gripen

Também foi noticiado, recentemente, que um dos temas em debate entre os suíços é a instalação ou não de uma linha de montagem do Gripen E/F na Ruag suíça, na qual o principal acionista é o próprio país. Há os que se opõem a essa instalação, que acrescentaria custos ao programa de aquisição de 22 caças Gripen pela Suíça e serviria mesmo para ajudar a Ruag, embora o ministro da Defesa suíço tenha dito que essa instalação já estaria no pacote.

O Gripen E/F (anteriormente denominado NG) também é um concorrente ao F-X2 da FAB e é representado naquelas somas que estão no título pelo 36 + 22, o que dá 58 caças. O número é pouco mais de 1/3 da outra soma, mas a relação dos componentes se inverte: a encomenda maior seria a brasileira, praticamente 2/3 da encomenda suíça – no caso de ambas se concretizarem, evidentemente. E se uma eventual visita de representantes do Governo Brasileiro fosse feita à Suíça (Por que não? Informação é sempre bom), para conhecer por lá o que levou o país a escolher o Gripen e discutir eventuais parcerias, como está sendo feito na Índia?

Pode-se dizer que numa hipotética parceria com os suíços o Brasil não seria o lado “menor”, quantitativamente – se também decidisse adquirir o Gripen, é claro. Seria um lado um pouco maior, e talvez fizesse mais sentido uma linha de montagem comum ser instalada aqui. E a produção local de componentes também poderia ter uma porcentagem maior brasileira do que suíça, embora o número total de unidades seja bem menor do que numa eventual parceria com a Índia.

Por que uma linha de montagem?

Cada país tem sua razão em querer uma linha de montagem local. Na Índia, a quantidade é um fator óbvio, assim como o fato de que a capacitação industrial está entre as prioridades para todos (na Suíça, o ministro da Defesa defendeu a linha pela questão de domínio futuro da manutenção).

No Brasil, além dessas questões, também sempre se sobressaiu o aspecto político de ter uma linha de montagem final aqui – desde o antecessor F-X, que previa a montagem de apenas 12 unidades, explorava-se politicamente a instalação de uma linha na Embraer (seja no Governo, seja na oposição, e isso tende a permanecer no debate político local). Na Índia, a quantidade a ser montada localmente (108 caças Rafale) é frequentemente citada por políticos e autoridades do governo que defendem a escolha. Já na Suíça, a questão da linha de montagem local parece ser um assunto sujeito a críticas, sem consenso político, devido a seus custos de implantação (mesmo dentro de um pacote).

No caso do Super Hornet, como já escrevemos, não há uma encomenda internacional em aberto (com entregas ainda a serem feitas) para se fazer esse tipo de correlação – apenas as encomendas ainda a serem entregues para os próprios Estados Unidos – o que supera o número indiano, de qualquer forma. Mas fiquemos apenas, nessa comparação, com os concorrentes que podem ser comparados nesse sentido, de um cliente internacional com contratos a serem confirmados e produção a ser iniciada, numa hipotética parceria em que linhas de montagens locais podem ser consideradas (se é que algo do gênero possa ser mesmo concretizado, em vista de detalhes que não se conhece dos contratos de cada país com os fabricantes originais, e que de qualquer forma são objeto de negociação).

E você, o que acha?

O Poder Aéreo coloca essas questões em debate para a reflexão dos leitores – não estamos aqui defendendo uma escolha ou outra (mesmo que hipotéticas), porque nosso papel não é esse: é promover a discussão a respeito do tema. Apenas estamos destacando, tendo como pano de fundo as notícias recentes, algumas variáveis que devem ser levadas em conta nesse debate. Muitas outras variáveis existem: desempenho, armamentos, sistemas, futuro dos projetos, alinhamentos políticos e estratégias globais, custos de aquisição e operacionais, compensações industriais e oportunidades, entre tantos.

Assim, convidamos os leitores a analisar todas essas variáveis em relação a esses dois concorrentes do F-X2 e a responder: qual conta somaria mais vantagens para o nosso programa, a dos 126 indianos + 36 brasileiros do Rafale ou a dos 36 brasileiros + 22 suíços do Gripen?

FOTOS DE BAIXO: Dassault e Saab

wpDiscuz