Qual conta somaria mais vantagens ao
F-X2: 126 + 36 ou 36 + 22?
Não estamos falando nesta matéria do terceiro concorrente, o Super Hornet, apesar dele ter acumulado grandes vendas ao principal cliente, a Marinha dos EUA, e já ter conquistado um contrato de exportação, junto à Austrália. A questão é que esse contrato australiano já teve suas unidades entregues e não envolveu a instalação de uma linha de montagem final no país comprador. E é isso que diferencia a compra australiana desses dois contratos que estão sendo negociados na Suíça e na Índia: justamente a questão da linha de montagem à qual estamos nos referindo na conta do título acima, e o fato de os outros dois terem contratos para o exterior ainda em negociação, e não já concretizados e com aeronaves entregues.
Os 126 + 36 do Rafale
Nesta semana foi noticiado que, na visita da presidente Dilma Rousseff à Índia, um dos temas no topo da agenda é a escolha do Rafale pelos indianos, num total de 126 caças. Segundo as notícias, deverão ser discutidas as vantagens de uma parceria com a Índia caso o Brasil escolha o Rafale. Seria uma forma de baratear o custo do Rafale para o Brasil, talvez com uma linha de montagem compartilhada. Nesse caso, a soma à qual nos referimos no título é 126 + 36, o que dá 162 caças.
O número impressiona, mas a maior parte é da encomenda indiana (da qual 108 deverão ser montados numa linha de produção na estatal indiana HAL) e a parte menor é a brasileira, representando menos de 1/3 dessa “soma”. É improvável que, numa negociação desse tipo, a linha de montagem final ficasse no Brasil. Provavelmente poderia ser discutida a produção aqui de componentes não produzidos na Índia (que por seu lado pretende gradativamente aumentar o conteúdo indiano do Rafale montado na HAL). Assim, nessa negociação o Brasil é o lado “menor”, falando apenas do aspecto quantitativo. Em compensação, quanto a componentes que poderiam ser produzidos no Brasil (dentro de uma negociação de quem está do lado menor da parceria), o total de aeronaves que os utilizariam, passando de uma centena, pode até ser visto como mais interessante do que a instalação uma linha de montagem final no Brasil.
Os 36 + 22 do Gripen
Também foi noticiado, recentemente, que um dos temas em debate entre os suíços é a instalação ou não de uma linha de montagem do Gripen E/F na Ruag suíça, na qual o principal acionista é o próprio país. Há os que se opõem a essa instalação, que acrescentaria custos ao programa de aquisição de 22 caças Gripen pela Suíça e serviria mesmo para ajudar a Ruag, embora o ministro da Defesa suíço tenha dito que essa instalação já estaria no pacote.
O Gripen E/F (anteriormente denominado NG) também é um concorrente ao F-X2 da FAB e é representado naquelas somas que estão no título pelo 36 + 22, o que dá 58 caças. O número é pouco mais de 1/3 da outra soma, mas a relação dos componentes se inverte: a encomenda maior seria a brasileira, praticamente 2/3 da encomenda suíça – no caso de ambas se concretizarem, evidentemente. E se uma eventual visita de representantes do Governo Brasileiro fosse feita à Suíça (Por que não? Informação é sempre bom), para conhecer por lá o que levou o país a escolher o Gripen e discutir eventuais parcerias, como está sendo feito na Índia?
Pode-se dizer que numa hipotética parceria com os suíços o Brasil não seria o lado “menor”, quantitativamente – se também decidisse adquirir o Gripen, é claro. Seria um lado um pouco maior, e talvez fizesse mais sentido uma linha de montagem comum ser instalada aqui. E a produção local de componentes também poderia ter uma porcentagem maior brasileira do que suíça, embora o número total de unidades seja bem menor do que numa eventual parceria com a Índia.
Por que uma linha de montagem?
Cada país tem sua razão em querer uma linha de montagem local. Na Índia, a quantidade é um fator óbvio, assim como o fato de que a capacitação industrial está entre as prioridades para todos (na Suíça, o ministro da Defesa defendeu a linha pela questão de domínio futuro da manutenção).
No Brasil, além dessas questões, também sempre se sobressaiu o aspecto político de ter uma linha de montagem final aqui – desde o antecessor F-X, que previa a montagem de apenas 12 unidades, explorava-se politicamente a instalação de uma linha na Embraer (seja no Governo, seja na oposição, e isso tende a permanecer no debate político local). Na Índia, a quantidade a ser montada localmente (108 caças Rafale) é frequentemente citada por políticos e autoridades do governo que defendem a escolha. Já na Suíça, a questão da linha de montagem local parece ser um assunto sujeito a críticas, sem consenso político, devido a seus custos de implantação (mesmo dentro de um pacote).
No caso do Super Hornet, como já escrevemos, não há uma encomenda internacional em aberto (com entregas ainda a serem feitas) para se fazer esse tipo de correlação – apenas as encomendas ainda a serem entregues para os próprios Estados Unidos – o que supera o número indiano, de qualquer forma. Mas fiquemos apenas, nessa comparação, com os concorrentes que podem ser comparados nesse sentido, de um cliente internacional com contratos a serem confirmados e produção a ser iniciada, numa hipotética parceria em que linhas de montagens locais podem ser consideradas (se é que algo do gênero possa ser mesmo concretizado, em vista de detalhes que não se conhece dos contratos de cada país com os fabricantes originais, e que de qualquer forma são objeto de negociação).
E você, o que acha?
O Poder Aéreo coloca essas questões em debate para a reflexão dos leitores – não estamos aqui defendendo uma escolha ou outra (mesmo que hipotéticas), porque nosso papel não é esse: é promover a discussão a respeito do tema. Apenas estamos destacando, tendo como pano de fundo as notícias recentes, algumas variáveis que devem ser levadas em conta nesse debate. Muitas outras variáveis existem: desempenho, armamentos, sistemas, futuro dos projetos, alinhamentos políticos e estratégias globais, custos de aquisição e operacionais, compensações industriais e oportunidades, entre tantos.
Assim, convidamos os leitores a analisar todas essas variáveis em relação a esses dois concorrentes do F-X2 e a responder: qual conta somaria mais vantagens para o nosso programa, a dos 126 indianos + 36 brasileiros do Rafale ou a dos 36 brasileiros + 22 suíços do Gripen?