A-29 x AT-6: USAF diz que problema na concorrência foi um caso isolado

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Na sexta-feira, 9 de março, autoridade da Força Aérea dos EUA (USAF) disse acreditar que foi uma “situação isolada” o problema com a papelada que levou ao cancelamento do contrato do LAS (apoio aéreo leve), estimado em 355 milhões de dólares e que prevê a aquisição de 20 aeronaves para venda ao Afeganistão.

Segundo David Van Buren, que exerce o cargo de secretário assistente para aquisições, a investigação ainda está em andamento, mas ele não acredita que o caso revele um problema sistemático com o processo de aquisições da Força Aérea.

Em uma entrevista à Reuters, realizada em seu escritório no Pentágono, Van Buren disse: “É minha convicção, baseada nas informações que tenho e que estão sujeitas a mais análises por parte da investigação (…) que esta é uma situação isolada.”

A situação à qual ele se refere é o cancelamento abrupto feito pela Força Aérea, na semana passada, do contrato com a Sierra Nevada e o fabricante brasileiro Embraer para 20 aviões de ataque leve, e que poderia chegar a até 1 bilhão de dólares, caso todas as opções fossem exercidas. Para seu cancelamento, foi citada a questão de documentação inadequada.

A USAF afirmou que descobriu o problema enquanto se preparava para responder a uma apelação judicial feita pelo outro competidor da concorrência, a Hawker Beechcraft, que havia sido desqualificada da disputa em novembro de 2011 porque sua aeronave AT-6 foi considerada “tecnicamente insuficiente”. Segundo o porta-voz da USAF, Jennifer Cassidy, a USAF espera determinar na próxima semana como reestabelecer a competição.

A Força Aérea dos EUA está lutando para reconstruir sua reputação após diversos problemas com aquisições de alto nível na última década, em programas que abrangeram desde aviões reabastecedores a novas aeronaves de busca e salvamento. Autoridades da USAF descreveram o último incidente como embaraçoso e desapontador.

Na quinta-feira, o chefe do Estado-Maior da USAF, general Norton Schwartz, disse que o problema poderia resultar em que Pentágono  assumisse novamente o controle das aquisições da Força Aérea, o que aconteceu após um grande escândalo de contrato em meados da década de 2000. Segundo Schwartz, o chefe de aquisições do Pentágono, Frank Kendall, faria uma recomendação para assumir a supervisão após revisar os fatos do caso Sierra Nevada: se envolve problemas sistemáticos ou erro individual.  Mas Van Buren disse à Reuters que havia conversado com Kendall e que “não há expectativa” nesse momento de retirar da Força Aérea a supervisão dessa competição.

Já para Loren Thompson, analista do Lexington Institute, o incidente claramente deixou marcas na reputação já manchada da USAF: “Tem havido uma série de erros nas aquisições da Força Aérea ao longo do último ano que levantam dúvidas se a USAF já resolveu os problemas que levaram a perder o controle sobre esses programas.” Ele citou um incidente, no ano passado, em que autoridades da USAF cometeram o erro de mandar dados registrados (proprietários) para as empresas erradas durante as ofertas para o contrato de 35 bilhões dos aviões reabastecedores. Thompson acrescentou: “Há um padrão aqui de profissionalismo irregular, e que cria dúvidas.”

Por outro lado, Van Buren, executivo da indústria que assumiu o principal cargo de executivo para aquisições da USAF em abril de 2009, disse que a Força Aérea “realmente trabalhou duro para resolver a situação” e implementou um processo de aquisições transparente e arregimentado. Van Buren ressaltou que a USAF trabalha com aproximadamente 130.000 ações relativas a contratos todos os anos, e que auditores federais somente levantaram questões a respeito de um ou dois.

O executivo, que deverá se aposentar no final de março, também lembrou que decisões sobre importantes programas de aquisição também foram vetadas por militares de outras forças ou pelo escritório de aquisições do Pentágono. Segundo Van Buren, ele nunca serviu como “autoridade de seleção de fontes” nos progamas da USAF para garantir de que haveria “checagens e equilíbrios” no sistema. Ele disse que as identidades dos militares que fazem a seleção nunca é revelada, de forma a proteger tanto o processo quanto os indivíduos de qualquer “pressão do mercado”. Ressaltou também que as grandes decisões são geralmente aprovadas por altas patentes, com nível entre uma e três estrelas, ou seus equivalentes civis. Em casos muito raros é que decisões são tomadas por militares com posto de coronel.

No caso envolvendo o contrato da Sierra Nevada, Van Buren não quis identificar a autoridade que fez a seleção, mas disse que foi feito por alguém com patente de coronel ou superior, ou seu equivalente civil. Também disse que a decisão foi revisada por “diversas pessoas de posição mais elevada (senior)”.

A Sierra Nevada está insistindo que a USAF reinicie a competição rapidamente, sem diminuir o conjunto de requerimentos originais, pelos quais o AT-6 da Hawker Beechcraft foi desqualificado. Taco Gilbert, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Sierra Nevada, disse que “nenhuma quantidade de documentos vai corrigir as deficiências fundamentais do AT-6.” A Reuters informou que, quando da publicação da reportagem, nenhum comentário da Hawker Beechcraft estava disponível. A Hawker insiste que seu AT-6 é o avião de ataque leve mais capaz, acessível e sustentável do mercado. Já a Sierra Nevada diz que o Embraer A-29 Super Tucano ofertado é provado em combate, e está em uso por seis forças aéreas ao redor do mundo.

FONTE: Reuters (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

FOTOS: sites de divulgação do A-29 (builtforthemission) e do AT-6 (missionreadyat-6) nos EUA e USAF

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