Nova disputa do LAS: Flórida lamenta os empregos que pode perder…

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A briga política nos Estados Unidos relacionada à fabricação local de aeronaves de combate é mais complexa do que parece, e envolve disputas entre os Estados e não apenas medidas que se possa classificar apressadamente como protecionismo do país. Obviamente que este existe e seu peso é inegável, mas as disputas entre os Estados algumas vezes aparecem sutilmente, e muitas vezes de maneira bem clara em matérias de jornais que tratam de um mesmo assunto.

Ontem, foi divulgado que a Força Aérea dos EUA cancelou o acordo do programa LAS (apoio aéreo leve) em que a Sierra Nevada / Embraer tinha sido escolhida, com a aeronave Super Tucano. O processo deverá recomeçar, e a notícia teve destaque nos jornais norte-americanos. Mas não com o mesmo enfoque, a começar dos próprios títulos. O Poder Aéreo selecionou duas dentre as várias matérias que saíram na mídia dos EUA sobre esse assunto, para que os leitores possam comparar e entender os pontos destacados pelos defensores de cada opção, dentro das disputas políticas norte-americanas. Os números de empregos divulgados nas reportagens podem parecer de pouca significância, mas são parte da soma de empregos diretos tanto na linha de montagem quanto em toda a cadeia de fornecedores, o que pode significar mais de mil empregos diretos e diversos outros indiretos.

Vejamos abaixo alguns trechos traduzidos de matéria do Jacksonville.com, do “The Florida Times Union”. Jacksonville é a cidade da Flórida prevista para receber a linha de montagem do Super Tucano nos EUA. O título, contrastando com o do jornal de Arkansas (veja mais abaixo), tem tom de lamentação: “Força Aérea cancela contrato que poderia ter trazido linha de montagem de aeronaves para Jacksonville” (Air Force sets aside contract that would have brought aircraft assembly to Jacksonville):

A USAF anunciou hoje que está cancelando um contrato que poderia ter trazido pelo menos 50 empregos a Jacksonvile para a construção do A-29 Super Tucano. Em dezembro, a Força Aérea anunciou que estava concedendo o contrato à Sierra Nevada Corp., que trabalharia com a empresa Embraer, baseada no Brasil, para construir o avião no Aeroporto Internacional de Jacksonville.

O Departamento de Justiça afirmou que a Força Aérea vai aceitar novas propostas da Sierra Nevada e da Hawker Beechcraft baseadas nos critérios originais utilizados pela USAF quando solicitou propostas.

O congressista Ander Crenshaw, de Jacksonville, disse que o anúncio era “desapontador, mas que não se refere a empregos ou política. É sobre procedimentos.” Ele acrescentou que “a Força Aérea cometeu alguns erros no processo de aquisição, admitiu isso e vai tomar ações corretivas. Claramente, há uma necessidade desse tipo de aeronave no Afeganistão, e o melhor que a Força Aérea pode fazer é colocar esse processo de volta aos trilhos. Jacksonville continua a ser um centro de excelência de aviação militar, e esse anúncio não reflete de forma alguma o trabalho valoroso que nossos trabalhadores que cumprem a missão para as Forças Armadas dia a dia.

O prefeito Alvin Brown estava entre os líderes da cidade que comemoraram a concessão do contrato à Sierra Nevada quando este foi anunciado. Em artigo de opinião publicado no Times-Union em 21 de fevereiro, Brown pediu à Hawker Beechcraft que retirasse seu processo para que a Força Aérea pudesse seguir com o contrato: “Agora é hora do ofertante perdedor fazer a coisa certa e permitir que a Força Aérea siga com esse programa crítico, permitindo que investimentos sejam feitos e postos de trabalho sejam criados aqui.”

A Sierra Nevada Corp. também afirmou que a decisão foi desapontadora. Segundo Taco Gilbert, vice presidente da área de desenvolvimento de negócios ISR, “o anúncio de hoje apenas adia o esforço de colocar capacidades críticas nas mãos de nossos homens e mulheres de uniforme e nossos parceiros de coalizão no teatro de operações. Ele também breca esforços para criar empregos e o desenvolvimento econômico nesses tempos em que nossa economia precisa desse impulso.” Ele também disse que o A-29 Super Tucano “é a única aeronave capaz hoje de atender aos requerimentos” de missão da Força Aérea.

…e Arkansas comemora os que pode ganhar

Agora é a vez de ver trechos de notícia tratando do mesmo assunto, mas na visão do Arkansas News, cujo Estado se beneficiaria com uma vitória do AT-6 da Hawker Beechcraft. O nome da reportagem é Força Aérea ejeta o contrato do avião de ataque leve (Air Force jettisons light-attack aircraft contract).

A Força Aérea dos EUA (USAF) cancelou hoje um contrato de 355 milhões de dólares para um avião de ataque leve para as Forças Armadas do Afeganistão, que tinha deixado a Hawker Beechcraft Corp. do lado de fora, no frio. A Hawker Beechcraft, que tem uma linha de montagem de aeronaves no aeroporto de Little Rock airport, havia reclamado judicialmente da decisão de excluí-la de uma competição da USAF pelo avião de apoio aéreo. Em dezembro, o contrato foi concedido à  Sierra Nevada Corp., de Sparks, Nevada, para 20 aeronaves EMB-314 Super Tucano. A Embraer, que é uma empresa brasileira, pretende fabricar as aeronaves nos Estados Unidos. Hoje, a USAF divulgou um breve pronunciamento anunciando a decisão de cancelar o contrato.

O congressista Tim Griffin, de Little Rock, concorda com a decisão da USAF, que abres portas para a Beechcraft: “Eu vou me interessar muito em rever as descobertas da investigação porque nós precisamos gastar os preciosos dólares dos contribuintes com sabedoria, e fazer o que é melhor para nossa segurança nacional. Além disso, a mudança de planos da Força Aérea poderia, potencialmente, significar novos empregos para Central Arkansas. Em janeiro, representantes da parceira da Hawker Beechcraft, a CAE-USA, disseram que contratariam 25 novos empregados para seu escritório em  Sherwood, Arkansas, se ganhassem o contrato LAS, segundo Griffin.

FOTOS: sites builtforthemission(que promove o Super Tucano nos EUA) e mission ready (que promove o AT-6)

(os links para as notícias originais, em inglês, estão no próprio texto)

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