HAL, a fabricante estatal indiana, prepara-se para produzir o Rafale

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Nacionalização dos componentes será gradual, com início da produção local a partir de kits SKD e CKD, segundo o jornal indiano Deccan Chronicle

A empresa estatal Hindustan Aeronautics Limited (HAL), da Índia, está se preparando para fabricar de maneira progressiva o caça francês Dassault Rafale, escolhido pela Força Aérea Indiana para sua encomenda de  126 aeronaves, estimada em 10,4 bilhões de dólares.

Segundo matéria do jornal Deccan Chronicle, o “chairman” e diretor P.V. Deshmukh, da HAL, disse à revista de defesa India Strategic  que a empresa já decidiu que a produção dos principais concorrentes e a integração da aeronave e seus sistemas será feita no quartel general da empresa, próximo a Bangalore.

As primeiras 18 aeronaves da encomenda virão prontas da França (fly-away condition) até três anos da assinatura do contrato. Enquanto isso, a HAL deverá adquirir o ferramental e os conhecimentos técnicos para a produção local, com a transferência de tecnologia por parte dos franceses.

As outras 108 aeronaves serão inicialmente fabricadas, de maneira progressiva, a partir de kits SKD (semi-knocked-down / semidesmontados) and CKD (completely knocked-down / completamente desmontados). Gradualmente, a HAL começaria a produzir a fuselagem e outras peças a partir de matéria-prima. Engenheiros da Dassault ajudariam na transferência de tecnologia e nas linhas de produção.

A HAL vem se preparando, segundo Deskmukh, para o projeto MMRCA (aeronave de combate multitarefa de porte médio) no que se refere a alocação de fundos e mudanças organizacionais necessárias para lançar e atingir as metas a tempo. Foram decididas três fases para que essas metas sejam atingidas na fabricação desse caça de grande sofisticação.

Deshmukh, que já foi diretor do complexo de fabricação de caças MiG da HAL em Nasik, disse que nos próximos 10 anos o projeto Rafale deverá gerar negócios cotados entre 4 e 5 bilhões de dólares: “É um imenso projeto para nós”. Ele revelou que a HAL já tem assinados memorandos de entendimento (MoUs) com a Dassault e a fabricante de motores Snecma, para a produção de algumas das partes designadas. Em Bangalore, já foram planejadas divisões separadas para a aeronave e o motor do MMRCA, e duas outras localidades foram selecionadas (shortlist) entre as da HAL para estabelecer as divisões de célula e motor. Estão em andamento as atividades de pré-planejamento ligadas ao projeto conceitual das unidades de produção da aeronave e do motor. A produção de acessórios está sendo planejada nas divisões da HAL em Hyderabad, Lucknow e Korwa.

O “chairman” Deshmukh descreveu o Rafale como um avião de combate multitarefa no estado da arte, capaz de uma ampla gama de missões como defesa aérea, superioridade aérea, apoio aéreo aproximado, ataques ar-solo de precisão, interdição, missões marítimas e ataques nucleares. A aeronave possui uma suite integrada de aviônicos, sensors eletrônicos, radar AESA (varredura eletrônica ativa) e contramedidas ativas e passivas. Segundo Deshmukh, “nos próximos quatro anos, as entregas de Rafale para a Força Aérea Indiana, a partir da HAL, poderão começar, conforme o cronograma acordado.” Ele disse também que o requerimento de “offset” (compensações) do programa MMRCA é de 50% do valor do contrato, e que a HAL pretende ter participação ativa nesse esforço industrial de 30% do valor de offset.

FONTE: Deccan Chronicle (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

FOTOS: Força Aérea Francesa (Armée de l’air) e Dassault

NOTA DO EDITOR: pelas informações da reportagem do jornal Deccan Chronicle, a fabricação de 108 caças Rafale na Índia (que somados aos 18 que serão inteiramente montados na França completarão o contrato de 126 aeronaves) será realizada em três fases. Apesar do texto não dizer claramente quais são essas três fases, podemos inferir, a partir das informações disponibilizadas na matéria do jornal indiano, que a fase 1 seria a de montagem local a partir de kits semidesmontados (SKD), fornecidos pela França. A fase 2 seria a montagem a partir de kits completamente desmontados (CKD), também de procedência francesa. E a fase 3 compreenderia a entrada, na linha de montagem, de partes produzidas na Índia – isso se daria de forma gradual, fazendo com que progressivamente seja aumentado o conteúdo fabricado localmente do caça.

Fica a pergunta para os leitores: como poderia ser viabilizado um processo similar a esse no nosso programa F-X2, que ao invés das 126 aeronaves do MMRCA indiano compreende apenas 36 caças? Independentemente do fabricante vencedor do programa brasileiro (Boeing, Dassault ou Saab), podemos esperar seriamente que se alcance uma considerável porcentagem de conteúdo fabricado localmente no final da montagem de 36 unidades?

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