Experiência com Mirage 2000 foi uma das razões pela escolha do Rafale
Pelo menos é esta a opinião de um oficial da reserva da IAF
Ramesh Phadke*
A IAF sempre torceu para o Rafale e, portanto, deve estar feliz e satisfeita pelo longo trabalho bem feito considerando a complexidade e os atrasos de tempo envolvidos quando um grande número de tomadores de decisão estão envolvidos. Uma das razões da escolha do Rafale, além do seu mérito intrínseco, é a experiência da IAF com o seu Mirage 2000.
O Mirage foi inicialmente utilizado na fase inicial no Sri Lanka. Depois, o avião mostrou a sua superioridade tecnológica durante a guerra do Kargil em 1999, quando pequenos inimigos no céu, voando em altas altitudes, não puderam ser efetivamente engajados por outros caças. A frota de Mirage 2000 da IAF tem mantido uma elevada operacionalidade e, acima de tudo, um recorde em segurança de voo. Espera-se que o Rafale prove ser igualmente efetivo e econômico no longo prazo. A principal razão da elevada operacionalidade da frota de Mirage 2000, conforme foi dito a mim, é a quase disponibilidade imediata de peças de reposição e apoio técnico das equipes da Dassault e da Thales, e também do avançado laboratório de aviônicos em Gwalior que apresenta-se mais esterilizado do que a melhor UTI de um hospital.
Considerando que a qualidade da força de trabalho da IAF é praticamente a mesma ao longo de toda a força, deve ser a tecnologia ocidental, treinamento e SOP produzidos pelos franceses e a interação próxima e constante entre o usuário e o fabricante que são responsáveis pelo sucesso do Mirage 2000 na IAF. E é por essa razão que a Índia escolheu a modernização da sua frota por um valor de US$ 1,8 bilhões. A IAF muito provavelmente fará o mesmo com o Rafale para obter sobressalentes em tempo e apoio na manutenção.
A vitória do Rafale e a possibilidade de da IAF em adquirir mais caças do mesmo modelo coloca uma grande pressão sobre os franceses uma vez que futuros contratos internacionais poderão ser influenciados pela escolha indiana. Espera-se que a Dassault transfira todos os conhecimentos requisitados para operações seguras e eficientes de avião de quarta geração. Altas taxas de surtidas e manutenção simplificada serão a chave para o sucesso do projeto Rafale. Embora ligeiramente mais barato que o Eurofighter Typhoon, o Rafale continua sendo um dos caças mais caros do mundo. E a Índia deve procurar por retornos reais na transferência de tecnologia e nos custos operacionais ao longo da vida útil.
Uma outra área importante de cooperação é a assistência da França no desenvolvimento do motor indiano Kaveri. Todos os contratos de defesa neste patamar devem incluir compensações industrias e financeiras da ordem de 50%. Devido ao estágio atual da indústria de defesa da Índia e suas leis, os dois países deverão encontrar uma nova forma de transformar essa parceria em realidade. O Rafale transporta uma grande quantidade de armamentos altamente sofisticados sem os quais não seria uma plataforma avançada. A índia deve explorar o processo de fabricação dessas armas o melhor que puder. Aviônica, incluindo o radar AESA (ainda em desenvolvimento), é outra área de cooperação e ToT se esta relação for verdadeiramente recompensável para os dois lados.
A HAL, empresa indiana que fabricará os outros 108 caças, e outras empresas associadas também necessitarão de apoio próximo para por a Índia na trajetória da alta tecnologia. A França pode desempenhar um papel importante na curva de aprendizagem. De fato, o Departamento de Defesa facilitará a associação de empresas nacionais com parceiras francesas com o propósito de desenvolver outros sistemas como UAV e UCAV, mísseis de emprego múltiplo principalmente MANPAD, armas guiadas e outras para consumo interno e exportação.
O primeiro lote de 18 Rafales deve chegar à Índia apenas em 2015, dando à IAF o adequado tempo para se preparar para apoiar a aeronave. A IAF deve, em um primeiro momento, basear o primeiro esquadrão de Rafales em Gwalior, a “casa” dos Mirage 2000.
Mesmo mais barato que o Eurofighter, o Rafale continua caro. Cada unidade deve custar cerca de US$ 100 a 125 milhões. A manuntenção da aeronave deve demandar elevados níveis de treinamento tanto para os pilotos como para o pessoal de apoio em solo. Nós simplesmente não podemos aceitar erros estúpidos.
Isto deve alterar radicalemente a a nossa visão sobre operações em tempo de paz onde o apoio de atividades complementares como previsão de tempo, controle de tráfego aéreo, infraestrutura em solo como pistas limpas e facilidades como radares e equipamentos de navegação devem operar 24 horas por dia, sete dias por semana. A Lei de Murphy atua mesmo nos ambientes altamente tecnológicos e possivelmente até mais. Operações em tempos de paz são tão necessárias como aquelas em tempos belicosos.
A IAF terá que treinar rapidamente os seus pilotos e as equipes de apoio para fazer com que o Rafale totalemente operacional em pouco tempo.
*Ramesh Phadke é oficial da reserva da Força Aérea da Índia e piloto de caça
FONTE: Institute for Defence Studies and Analyses
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Poder Aéreo
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