Rafale para a Índia: 9 meses até parir o contrato
E esse parto pode ser complicado: EUA e Reino Unido já se movimentam para atrapalhar a ‘gestação’
Levando em conta a coincidência entre o tempo estimado para a assinatura e o de uma gravidez, o Poder Aéreo pergunta: a gestação do Rafale para a Índia será tranquila?
No que depender dos Estados Unidos e da Inglaterra, talvez não.
Segundo a edição indiana da Reuters, ainda na terça-feira o Departamento de Defesa dos EUA repetiu sua intenção de dividir informações sobre o F-35 JSF da Lockheed Martin, caso o Governo Indiano expresse interesse em adquirir esse novo caça furtivo e multinacional. O porta-voz do Pentágono, Leslie Hull-Ryde, afirmou por e-mail à Reuters que não houve oferta norte-americana para vender o F-35 aos indianos, mas que “se a Índia indicar interesse em comprar o JSF, os Estados Unidos estariam preparados para prover informações sobre ele e seus requerimentos para apoiar os futuros planejamentos da Índia”. O texto reiterou a posição do Pentágono, conforme um relatório sobre a cooperação em segurança dos EUA com a Índia, enviado ao Congresso no final do ano passado.
Apesar da Índia ter rejeitado as propostas de caças russos, norte-americanos e suecos no programa MMRCA (aeronave de combate multitarefa de porte médio) no qual o Rafale se sobressaiu como vencedor, uma fonte com conhecimento das negociações disse à Reuters que o país estava considerando a compra de 80 caças adicionais. E também que poderia abrir esse processo para ofertas desses países.
Já no Reino Unido, o Primeiro Ministro David Cameron prometeu “encorajar” a Índia a reconsiderar sua decisão de comprar o caça Rafale, da francesa Dassault, ao invés do Typhoon, do consórcio Eurofighter. A informação é do jornal Financial Times, que destacou que a companhia britânica BAE Systems tem uma grande parcela no consórcio europeu que produz o Typhoon.
Cameron disse que a decisão indiana de dar ao Rafale a posição de oferta preferencial no contrato, estimado em 20 bilhões, foi desapontadora. Mas ele ressaltou que o contrato final ainda precisa ser assinado, o que não tira o Typhoon da disputa indiana.
Respondendo a uma questão dos membros do parlamento, Cameron disse: “Eu farei tudo o que puder – como já fiz – para encorajar os indianos a dar sua atenção ao Typhoon, porque penso que é realmente uma boa aeronave”. Ele também disse que não espera que empregos sejam cortados por causa da decisão.
A notícia da escolha indiana não poderia ter vindo num dia pior para o Primeiro Ministro, segundo o jornal. Hoje, o Governo Britânico divulga um documento no qual se compromete a apoiar as exportações de sua indústria de defesa, num contexto de grandes cortes no orçamento de defesa do país.
A BAE também prometeu lutar, e numa nota disse que o Typhoon era o mais moderno avião de combate multitarefa de porte médio e a melhor opção militar, industrial e econômica para a Índia. A BAE também deverá sentir a pressão do sindicato, que foi avisado que a decisão indiana de não comprar o Typhoon poderia ter sérias implicações para a força de trabalho da empresa na Inglaterra, e solicitou uma conversa com a companhia, com urgência.
Em resumo, vale a pena repetir aqui a sugestão que já demos ao ministro da Defesa da França:
Regarder vos six heures, Rafale!
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FONTES: DNA India, Reuters e Financial Times (notícias compiladas, traduzidas, adaptadas e editadas pelo Poder Aéreo)
FOTOS: Dassault, Lockheed Martin e Eurofighter