Sem terem sido usados nas guerras do Afeganistão, do Iraque e da Líbia, os F-22 já se envolveram em sete grandes acidentes

 

Por W.J. Hennigan

O capitão Jeff “Bong” Haney voltava para a base no seu caça F-22 Raptor, cortando a noite gélida do Alasca numa velocidade ultrassônica de mais de 1.600 km/h, quando as coisas começaram a dar errado.

Embrulhado em roupas de frio volumosas para protegê-lo das temperaturas extremas, o piloto da Força Aérea puxou para trás a alavanca de controle a 38.400 pés (11.520 metros) para ganhar altitude. Haney percebeu então que o avião começava a fugir do seu controle.

Uma luz de alarme verde reluziu através de seus óculos de visão noturna, alertando-o de que uma parte do avião estava ficando superaquecida. Quase instantaneamente, os computadores de bordo do F-22 detectaram um vazamento de ar no compartimento do motor e começaram a fechar automaticamente vários sistemas – incluindo o suprimento principal de oxigênio.

Lutando para respirar, Haney desativou os alimentadores de combustível e começou a baixar o avião para o vale coberto de neve abaixo. Cerca de 35 segundos depois, o avião começou a virar de ponta cabeça. Ele não conseguiu reverter. Ali, no meio das Montanhas Talkeetna, ao norte de Anchorage, Haney, de 31 anos, acidentou-se e morreu.

O desastre foi mais um episódio lamentável para o polêmico jato F-22 fabricado pela Lockheed Martin Corp., em serviço desde 2005 sem nunca ter entrado em combate, apesar dos conflitos no Iraque, Afeganistão e Líbia. O avião, o caça mais caro das Forças Armadas americanas, continuou a apresentar problemas – especialmente em seus sistemas de oxigênio. Novos detalhes de um relatório da Força Aérea chamaram a atenção para o desastre de novembro de 2010 e levantaram questões sobre o F-22.

Antes mesmo do acidente fatal no Alasca, houve várias queixas de pilotos de que os sistemas de oxigênio do jato não levavam ar suficiente aos pilotos – o que causava uma sensação de confusão em voo. Em virtude disso, toda a frota de F-22 ficou em terra por quase cinco meses a partir de maio. Mas mesmo depois dessa determinação ser levantada, os investigadores ainda não tinham respostas para as falhas.

De meados de setembro em diante, quando a ordem foi levantada, a Força Aérea detectou 14 episódios em que pilotos experimentaram “incidentes psicológicos” que podem ter sido causados por falta de oxigênio.

A Força Aérea gastou meses enfrentando as questões no sistema de oxigênio com inspeções, treinamento adicional e equipamentos de proteção aprimorados. A instituição tem também um conselho consultivo científico e um conselho de investigação de segurança estudando o assunto. O estudo foi inicialmente programado para ser concluído em novembro, mas agora se espera que seja concluído até março.

Especialistas tinham esperança de que um ano de investigação sobre o desastre no Alasca forneceria novos insights sobre os problemas do sistema de oxigênio. Mas a Força Aérea concluiu pela culpa de Haney, um de seus melhores pilotos, porque ele estava demasiado confuso por sua incapacidade de respirar e não acionou o sistema de oxigênio de emergência do F-22.

O relatório provocou muitos debates sobre se a Força Aérea transformou Haney, um piloto experiente e premiado, num bode expiatório para escapar das críticas ao F-22. Haney “mais provavelmente experimentou uma sensação semelhante à sufocação”, diz o relatório. “Essa foi provavelmente a primeira experiência (de Haney) nessa situação exigente do ponto de vista fisiológico.”

Para se salvar e salvar o avião, Haney deveria ter se inclinado e, com uma mão, puxado um anel verde do tamanho de um dólar de prata embaixo do seu assento, no lado de sua nádega esquerda, para acionar o sistema de emergência, segundo o relatório.

“É preciso um puxão de 18 quilos para acionar o sistema de emergência. Isso é muito exigente para alguém que ficou quase um minuto sem ar, voando acima da velocidade do som e usando um roupa de frio volumosa”, disse Michael Barr, ex-piloto de caça da Força Aérea e ex-agente de investigação de acidentes. “Seriam necessários esforços sobre-humanos para o piloto salvar aquele avião”, disse ele. “A causa inicial desse acidente foi um mau funcionamento do avião. Não do piloto.”

Barr disse que a Força Aérea culpou Haney porque as altas patentes militares não querem mais críticas ao programa do F-22, que custará estimados US$ 77 bilhões e cuja necessidade foi colocada em questão antes mesmo de seu primeiro voo de teste. “Eles já sofreram toda a pressão que suportariam”, disse Barr. “Pagaram muito dinheiro por um avião que não funciona.”

Enquanto todos os outros aviões de guerra do arsenal americano foram usados para atingir alvos no Iraque, Afeganistão e Líbia, o F-22 foi usado somente em missões de teste. Mesmo assim, pilotos de F-22 tiveram sete grandes acidentes com duas mortes, incluindo a de Haney.

Cada um desses aviões com asas em losango custa US$ 143 milhões. Computando custos com atualizações, pesquisa e desenvolvimento, o governo americano calcula que o custo de cada F-22 para o contribuinte sube para US$ 412 milhões.

A despeito de seus problemas, o avião é considerado o caça mais avançado do mundo. Tem motores avançadíssimos com bocais reguladores de empuxo que se movem para cima e para baixo, tornando-o extremamente ágil.

Duas décadas atrás, durante a Guerra Fria, o governo americano planejava comprar 648 desses caças, por US$ 139 milhões cada, para combater jatos inimigos em batalhas aéreas. Mas a encomenda do governo foi sendo adiada até 2009, quando o secretário de Defesa, Robert Gates, fechou a compra de 188 unidades.

Um F-22 pode atingir velocidades supersônicas sem utilizar pós-combustores, o que o capacita a voar mais rápido e mais longe. Ele também vem equipado com radares e sensores de última geração, que permitem que o piloto identifique, rastreie e dispare em um avião inimigo antes de o aparelho ter detectado o F-22. A Força Aérea diz que o avião é fundamental para manter o domínio aéreo mundial.

FONTE: Los Angeles Times via Estadão

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