Por Virgínia Silveira

A vitória do avião militar Super Tucano, no programa LAS (Light Air Support) da Força Aérea dos Estados Unidos (Usaf), vai chamar a atenção de outros países do mundo para a qualidade e a superioridade do produto brasileiro no cumprimento de missões de guerra irregular e contrainsurgência.Essa é a avaliação do presidente da Embraer Defesa e Segurança, fabricante do Super Tucano, Luiz Carlos Aguiar, após a vitória da licitação do governo americano. O executivo prevê um crescimento dos negócios de defesa no faturamento da companhia para algo em torno de 25% até 2020. Em 2011, informou Aguiar, o segmento de defesa e segurança deve responder por cerca de 14% da receita total da companhia, estimada em US$ 5.6 bilhões.

O Super Tucano acumula até o momento um total de 200 encomendas, incluindo a dos EUA, das quais 156 já foram entregues. Destas, 99 foram para a Força Aérea Brasileira (FAB), detentora do projeto. A receita obtida com a venda do Super Tucano é da ordem de US$ 1,6 bilhão. A Embraer projeta um mercado potencial de US$ 3,5 bilhões para a classe do Super Tucano, algo em torno de 300 aeronaves.

O contrato inicial com a Usaf, de acordo com Aguiar, prevê a compra imediata de 20 aeronaves, mas a expectativa é que a compra inclua um total de 55 unidades, estimada em US$ 950 milhões. As 20 unidades iniciais estão avaliadas em US$ 355 milhões. Esta é a primeira venda de um produto militar da Embraer para o governo dos EUA e a terceira tentativa da empresa de colocar o Super Tucano neste mercado, considerado o maior do mundo em compras de equipamentos de defesa.

“O turboélice Super Tucano não tem concorrente similar no mundo, porque os aviões dessa categoria disponíveis hoje no mercado são de treinamento básico e não têm a robustez do nosso produto, que lhe permite essa capacidade operacional para atuar em zonas de fronteira, regiões úmidas e pistas com pouca infraestrutura”, completou ele.

Segundo Aguiar, para atingir o nível de operação do Super Tucano, o americano AT-6, da Hawker Beechcraft, que concorreu com o produto brasileiro no programa LAS, demandaria um investimento bastante alto e um tempo muito longo. A aeronave que será fornecida para os EUA, segundo Aguiar, será basicamente a mesma, com apenas algumas modificações para adaptar os sistemas de armas da USAF.

A Hawker Beechcraft vinha desenvolvendo a nova versão do AT-6 para atuar como treinador avançado e de combate leve, características que o Super Tucano já possui há mais de sete anos. O modelo brasileiro, operado hoje por forças aéreas de cinco países, já foi testado com sucesso e em combate real, não só no Brasil, como também na Colômbia, em regiões de características comprovadamente hostis, como a Amazônia. Segundo a Embraer, o modelo brasileiro tem mais 130 mil horas de voo e 18 mil de combate sem nenhuma perda.

O fornecimento do Super Tucano para os EUA será feito em parceria com a empresa americana Sierra Nevada Corporation, que esteve com a Embraer na concorrência. A parceria atende a legislação americana, que também exige a instalação de uma linha de fabricação das aeronaves nos EUA. “A Sierra Nevada será responsável por toda a parte de logística, suporte ao cliente e manutenção das aeronaves”, explica Aguiar.

A montagem final dos aviões será feita em Jacksonville, no Estado da Flórida, onde está sendo construída a nova fábrica da Embraer nos EUA. “Até o meio do ano já estaremos com a nova unidade em funcionamento. Os primeiros aviões começam a ser entregues em 2013”, disse.

“A unidade deve gerar cerca de 50 empregos, mas o que anima os americanos é que mais de 80% da aeronave está de acordo com a Lei do “Buy American Act”, que exige um conteúdo local superior a 50%, para os produtos comprados fora dos EUA”, comentou uma fonte do setor de defesa. Os sistemas aviônicos do Super Tucano serão produzidos pela unidade da israelense Elbit nos EUA. A empresa é parceira da Embraer no Brasil através da AEL, com quem tem uma joint venture, a Harpia.

Inconformada com a sua eliminação da concorrência, a Hawker Beechcraft divulgou que pretendia entrar com uma petição no Tribunal de Ações Federais dos EUA, em repúdio à decisão do governo americano de não revisar o protesto da empresa sobre a exclusão da aeronave AT-6 da competição da Usaf.

Na sexta-feira, o CEO da Hawker, Bill Boisture, afirmou, em comunicado, que não houve transparência da Força Aérea na concorrência e que a empresa continuará a contestar a decisão.

Aguiar disse que a Embraer prefere não comentar a reação da concorrente, pois está mais preocupada em fazer as coisas acontecerem. “Cumprimos a legislação americana. Nosso objetivo, agora, é entregar os aviões no prazo combinado, sem olhar para o lado”, disse.

FONTE: Valor Econômico

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