Grandes fabricantes de caças europeus vêm sendo derrotados na Ásia

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Última derrota de um caça europeu na Ásia, um dos mais lucrativos mercados do mundo, foi no Japão, que preferiu o F-35 da Lokheed Martin ao Eurofighter Typhoon

Matéria de 27 de dezembro do  jornal tailandês “The Nation”, assinada pelo analista de defesa Richard A. Bitzinger de Cingapura, traz uma análise sobre compras asiáticas de caças. Nelas, os dois caças produzidos pelos grandes fabricantes europeus, o Rafale da Dassault e o Typhoon do consórcio Eurofighter, não conseguiram sucesso e o f-35 vem se tornando sua grande ameaça a novas vendas.

No último dia 21 de dezembro, o Japão anunciou que compraria 42 caças F-35 a um custo de 2, 73 bilhões de dólares, ou 65 milhões por aeronave. Foi a segunda vitória do caça na Ásia, já que em 2007 a Austrália fez uma encomenda inicial de 24 F-35, que pode chegar a 100 aeronaves.

A encomenda japonesa foi a última de uma série de derrotas dos dois principais programas de caças europeus, o Eurofighter Typhoon e o francês Dassault Rafale. Se nenhum deles conseguir uma encomenda de exportação em breve, poderá ser o fim de suas chances no mais lucrativo mercado de armas do mundo: a Ásia.

O Typhoon foi desenvolvido em conjunto por quatro países europeus, o Reino Unido, a Alemanha, a Itália e a Espanha, que também produzem conjuntamente o modelo. O Rafale é produzido apenas pela Dassault francesa. Ambos são fabricados principalmente para suas respectivas forças aéreas, mas exportações sempre foram planejadas como um meio de tornar mais vendáveis esses caros aviões. Porém, até o momento o Typhoon só conquistou dois clientes de exportação, com 72 caças para a Arábia Saudita e 18 para a Áustria, enquanto que o Rafale falhou em conseguir vendas externas. Mais recentemente, o Rafale perdeu uma grande encomenda em potencial para os Emirados Árabes Unidos.

A Ásia tem sido especialmente frustrante para eles, especialmente em vista dos sucessos de competidores. Na última década, a Rússia vendeu centenas de Sukhoi Su-27s e Su-30s para a Índia, Indonésia, Malásia e Vietnã. Os Estados Unidos eliminaram quaisquer vendas potenciais europeias para a Coreia do Sul e Cingapura: nos dois casos, o F-15 (um caça muito mais velho, ao menos quanto ao projeto original) venceu o Typhoon e o Rafale. Até mesmo os suecos conseguiram mais sucesso na Ásia, conquistando pedidos de 12 caças Gripen para a Tailândia (a Suécia também fechou recentemente uma encomenda de 22 Gripens para a Suíça).

Mas é o F-35 que representa o maior desafio de longo prazo aos fabricantes europeus. Trata-se do único de dois caças de quinta geração existentes hoje – o outro é o F-22 Raptor – e é o único disponível para clientes estrangeiros (o Congresso dos EUA recusou-se a permitir que o F-22 fosse exportado). Nenhum outro avião de combate no mercado internacional se aproxima do F-35 quanto a tecnoligia, especialmente em furtividade e aviônicos (radar e outros sensores embarcados). Simplesmente, está numa classe só dele, e representa uma ameaça de vida ou morte para seus competidores europeus.

O F-35 é um programa multinacional de desenvolvimento e produção, com onze nações parceiras, lideradas pelos Estados Unidos. Muitos desses países – EUA, Reino Unido, Israel, Noruega, Holanda, Canadá e Austrália, já anunciaram sua intenção de comprar o caça, enquanto que outros – Cingapura, Turquia, Dinamarca e Itália – deverão solicitar encomendas nos próximos anos. Cingapura, por exemplo, poderia adquirir até 100 caças F-35.

O pedido japonês é a primeira venda do F-35 fora dos onze países parceiros do programa. Porém, poderá sinalizar o início de uma grande leva de vendas do caça para outras forças aéreas, em detrimento do Typhoon e do Rafale. A Coreia do Sul é um potencial cliente para a aeronave, como alternativa a custosos e potencialmente desastrosos sonhos de desenvolver seu próprio caça de quinta geração.

Ainda mais crítico seria se o F-35 pudesse conquistar sobre os europeus uma compra de porte como os 126 caças planejados pela Índia. Em abril de 2011, após anos de testes e avaliações, a Índia colocou na lista final o Typhoon e o Rafale, eliminando os caças norte-americanos F-16 e F-18. Os EUA contra-atacaram com uma oferta do F-35, incluindo uma versão de decolagem curta para operar em porta-aviões indianos. Se for bem sucedida essa oferta, ela poderia provavelmente significar um ferimento mortal para as vendas de caças europeus na Ásia.

Faz parte do dilema europeu o fato de que eles não possuem nenhum novo programa de caça em andamento para competir com o F-35. O Typhoon e o Rafale (e, nesse caso, também o Gripen) foram programas iniciados no início dos anos 1980. Consequentemente, esses projetos estão se aproximando de suas datas de substituição. No momento, porém, simplesmente não há dinheiro no setor aeroespacial para financiar um caça de quinta geração como o F-35. Além disso, conversações sobre uma aeronave de combate não tripulada europeia, que poderia se tornar o próximo programa de caça da região, permanecem apenas como conversas.

Consequentemente, os europeus (incluindo os russos, que têm conseguido pouco progresso até o momento em desenvolver um caça de quinta geração*) poderiam, por falta de ação, estar cedendo os negócios globais do futuro, no mercado de caças, para os Estados Unidos. O F-35 parece que vai dominar esse mercado pelos próximos 20  anos., colocando os EUA numa posição inalcansável como o mais importante fabricante mundial de caças.

FONTE: The Nation (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

*NOTA DO EDITOR: e o PAK-FA, não conta? O autor faz algumas considerações interessantes, boas para se refletir, mas também coloca um ponto final nas expectativas francesas de vender o Rafale aos Emirados Árabes Unidos – o que, apesar dos recentes revezes, não parece ser ainda o caso. Por outro lado, dá para concordar que um cancelamento do MMRCA, ou algo do gênero que afetasse as chances dos dois competidores europeus na Índia, seria um golpe fatal nas pretensões dos fabricantes do Rafale e do Typhoon, e isso não só na Ásia. Porém, seria algo positivo para o desenvolvimento tecnológico se o mercado mundial de caças tivesse, no futuro, um predomínio acachapante dos EUA, ou mesmo uma divisão EUA / Rússia?

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