Artigo do “Lexington Institute”, um “think tank” (organização dedicada a assuntos de defesa) dos Estados Unidos, traz uma reflexão sobre a perda do drone (aeronave não pilotada) RQ-170 dos EUA para o Irã, minimizando a importância da questão e pondo em dúvida a versão iraniana do ocorrido. Segue abaixo a tradução do Poder Aéreo do texto assinado pelo articulista Loren B. Thompson (Ph.D.).

Nas últimas duas semanas, a campanha do Governo Iraniano para convencer estrangeiros de que, muito espertamente, fez aterrissar um drone espião secreto RQ-170 dos Estados Unidos, ultrapassou o valor de produção da comédia do ano 2000 de Ashton Kutcher: “Dude, Where’s My Car?” (Cara, cadê o meu carro?).

Os iranianos aparentemente remontaram e repintaram o drone danificado, permitindo contar uma fábula sobre interferirem nos sinais de GPS para enganar os computadores do drone, fazendo-o pousar. Depois, eles ainda alegaram que estavam perto de descobrir os segredos da tecnologia do drone, e que muito em breve iriam produzir versões iranianas dessa aeronave não tripulada para empregá-las contra seus inimigos ocidentais.

Então boa sorte. Embora muitos tenham sido enganados pelo vídeo do drone mostrado na televisão iraniana, jornalistas da Reuters e do Wall Street Journal encontraram buracos do tamanho da aeronave na versão iraniana dos eventos. Pra começar, como mostraram reportagens do Journal assinadas por Siobhan Gorman e Adam Entous, os artistas cenográficos iranianos pintaram o drone recuperado na cor errada.

A pintura ajudou a esconder emendas onde a célula da aeronave foi remontada, mas os EUA pintam de cinza claro suas aeronaves militares que operam à altitude do drone RQ-170, para minimizar sua visibilidade – enquanto que a aeronave mostrada pelos iranianos estava pintada de branco.

Além disso, a versão iraniana dos fatos não explicou como eles conseguiram ser bem-sucedidos em interferir no sinal GPS de um drone furtivo que seus radares são incapazes de acompanhar. Apesar do sinal GPS ser relativamente fraco – é originado em satélites a mais de 12.000 milhas de distância – o poder de sistemas de “jamming” (interferidores) diminuem no quadrado da distância do transmissor.

Isso significa que, sem uma ideia precisa da localização do drone, os iranianos teriam que utilizar interferidores muito poderosos para garantir que o drone não recebesse mais informação GPS. Nesse processo, eles iriam interferir em numerosos aparelhos eletrônicos, como telefones celulares, em uma grande área. Possível, mas não provável.

Uma versão mais plausível dos eventos foi mostrada em reportagem da Reuters de 16 de dezembro, assinada por Mark Hosenball e Andrea Shalal-Esa. Eles citaram fontes governamentais dos EUA, que colocavam a culpa da perda do RQ-170 numa combinação de mau-funcionamento técnico e erros do operador. As fontes disseram à Reuters que o drone foi deixado cair de uma altitude na qual a auto-destruição completa por impacto não era mais possível, então ele simplesmente se partiu em poucas partes, que os iranianos poderiam juntar.

Aparentemente, a célula desenvolvida pela divisão Skunk Works da Lockheed Martin era eficiente demais aerodinamicamente para produzir o tipo de desintegração total que seria desejável nas circunstâncias, dada a baixa altitude de onde foi lançada no mergulho. Mas a Reuters noticiou que os programas e as placas de circuito do drone eram tão completamente encriptados que descobrir seus segredos será praticamente impossível.

Provavelmente nunca saberemos todos os detalhes de como o drone foi perdido, pois o Governo dos Estados Unidos não está interessado em divulgar as vulnerabilidades de seus sistemas de inteligência. Porém, parecem razoavelmente claros dois pontos importantes sobre o significado disso tudo. Em primeiro lugar, o Irã não tem uma contramedida eficiente para drones furtivos de reconhecimento, pois não possui a capacidade de detectar e acompanhá-los com suas defesas existentes. Em segundo lugar, se a tecnologia furtiva (stealth) do RQ-170 foi comprometida de alguma maneira. os EUA ainda teriam várias formas de continuar acompanhando o programa nuclear iraniano, desde satélites espiões até agentes secretos mandados por meio de submarinos.

Afinal, os EUA conseguiram colocar o vírus Stuxnet na rede iraniana, não? Quando um país é responsável por aproximadamente metade dos gastos militares globais, como é o caso dos Estados Unidos, sempre há uma opção na manga para cumprir missões importantes.

FONTE: Lexington Institute (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

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