‘It’s the training, stupid’
Treinamento deficiente pode ser a causa de vários acidentes na aviação de combate da Índia
A elevada taxa de atrição dos caças da Força Aérea Indiana (IAF) tem chamado a atenção não só dos leitores do blog do Poder Aéreo, mas também das autoridades indianas. Nós fomos atrás dos motivos e das razões para tal e trouxemos um texto que lança uma luz sobre os fatos. Segundo o tenente brigadeiro do ar (R) B.K. Pandey, o problema é o treinamento. Leia a tradução do texto de autoria do brigadeiro Pandey abaixo.
Enquanto o governo pode, embora com alguma dificuldade, ser capaz de reunir os recursos financeiros para permitir que a IAF traduza sua visão em realidade, o sucesso do processo de transformação previsto também depende da qualidade dos recursos humanos. Aeronaves, sejam de transporte, de caça, ou helicópteros, constituem a vanguarda da força e exigem o melhor dos engenheiros, técnicos e pilotos se o seu potencial operacional pretende ser otimizado. Foi muito apropriado, portanto, que ao assumir o cargo de Comandante da Forças Aérea (CAS), um dos primeiros pronunciamentos do tenente brigadeiro do ar N. A. K. Browne, focou nos recursos humanos. Ele disse: “Nosso pessoal deve receber a nossa maior atenção independentemente da sua capacidade na IAF, vocês são o nosso bem mais valioso.”
Vale ressaltar que tanto o conteúdo quanto o momento da declaração do CAS em relação ao foco nos recursos humanos são relevantes e não poderia ter vindo em momento mais apropriado. Este ano, o IAF já perdeu sete aviões de caça, cinco desses desde a mudança no topo da hierarquia em 31 de julho de 2011. Conforme relatórios, três destes acidentes são atribuíveis à competência profissional duvidosa dos pilotos comissionados no passado recente, um comentário triste sobre o estado de treinamento.
A formação de pilotos como para qualquer outra vocação é essencialmente a base para todo o negócio. As conseqüências de um compromisso nesta área são usualmente desastrosas, especialmente na aviação militar. A IAF tem um padrão de treinamento bem estabelecido composto de três estágios de formação básica. Antigamente os jovens pilotos selecionados para a caça eram encaminhados para os jatos Hunter antes de passarem para os Gnat e os MiG-21 que eram relativamente mais difíceis de voar. Com a retirada dos Hunters e dos Gnats, o MiG-21 serviu como o primeiro avião para o treinamento em vôo operacional. Foram necessárias mais de duas décadas de esforço da IAF para a introduzir o jato de treinamento Hawk e pode demorar alguns anos a partir de agora para este estar devidamente concluído. Enquanto isso, o padrão de formação na IAF sofreu outro duro golpe com a imobilização da frota de treinadores básicos em julho de 2009. Espera-se que o contrato pela aquisição de 75 aviões turboélices Pilatus PC-7 seja assinado “em breve”, ainda levará pelo menos três anos antes que a frota esteja plenamente funcional. No entanto, a maior preocupação é a falta de progressos tangíveis por parte do empresa estatal HAL em resolver os problemas da frota de HPT-32 ou fornecer sua substituição.
Enquanto o IAF embarcou em uma transformação abrangente, seus esforços podem ser prejudicados pela ausência de um padrão de treinamento coerente, apoiado pelas aeronaves certas e na quantidade certa. Sem uma base segura, o IAF poderá apenas construir castelos no ar.
Texto originalmente publicado na revista SP Aviation em novembro de 2011.
NOTA DO EDITOR: o HPT-32, visto na foto inicial deste texto, é um treinador básico desenvolvido pela empresa indiana HAL que apresenta uma série de deficiências. Até outubro deste ano, 23 militares haviam morrido vítimas de acidentes com esta aeronave. Além disso, centenas de incidentes foram relatados. A IAF escolheu o Pilatus PC-7 para substituir o HPT-32 e os primeiros aviões devem chegar em 2013.