Japão escolhe o F-35, estreitando seus laços com os Estados Unidos
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Nesta terça-feira, o F-35 da Lockheed Martin foi escolhido pelo Japão como seu novo caça de primeira linha, em detrimento de rivais já provados em combate porém menos furtivos – escolha vem num contexto de preocupaçõesem relação à Coreia do Norte e à introdução, pela China, de seus próprios caças ‘stealth’ – decisão é de adquirir 42 caças
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Na madrugada desta terça-feira, 20 de dezembro, a Reuters informou que o Japão decidiu adquirir o F-35 como seu novo caça de primeira linha. A decisão surge ao mesmo tempo em que o Japão e os Estados Unidos reforçavam o estreitamente de sua aliança de segurança, em face das preocupações sobre a instabilidade na Coreia do Norte após a morte de seu líder, Kim Jong-il.
O Ministro da Defesa Ichikawa disse que a decisão de comprar 42 unidades do caça furtivo, a um custo que analistas estimam ser maior que 7 bilhões de dólares, ajudaria o Japão a se ajustar a um ambiente de segurança em mudança, após o anúncio da morte, nesta segunda-feira, do lider norte-coreano.
Ichikawa disse a repórteres que “o ambiente de segurança referente a futuros caças a jato está em transformação. O F-35 tem capacidades que podem responder a essas mudanças de maneira firme.”
A Lockheed Martin e o Pentágono saudaram a escolha do F-35 pelos japoneses, dizendo que isso ajudaria a estabelecer um fator de dissuasão convencional e estratégico na região asiática do Pacífico, onde preocupações crescem a respeito do sucessor de Kim, seu filho Kim Jong-un, ainda não testado à frente da Coreia do Norte.
O F-35, que ainda está no início de sua produção, competiu contra o F/A-18 da Boeing e o Typhoon do consórcio europeu Eurofighter. Segundo especialistas, a decisão de optar pelo caça norte-americano, que já era informalmente conhecida antes da morte de Kim, reflete o desejo japonês de estreitar os laços com os EUA, num momento de preocupações com o crescimento da ameaça militar chinesa e outras incertezas regionais.
A Casa Branca disse que, num sinal de que os aliados pretendem se manter juntos, o presidente dos EUA Barack Obama conversou por telefone com o Primeiro Ministro do Japão, Yoshihiko Noda, reforçando o compromisso dos Estados Unidos com seus aliados.
Em uma coletiva de imprensa, o Chefe da Secretaria do Gabinete Osamu Fujimura, disse que os EUA e seus dois aliados próximos na Ásia, o Japão e a Coreia do Sul, deverão em breve realizar conversações de alto nível sobre a Coreia do Norte: “A data não foi decidida ainda mas será na próxima oportunidade possível. ”
Quando o Partido Democrático do Japão chegou ao poder pela primeira vez em 2009, as relações com os EUA esfriaram, já que o partido desejava recalibrar a aliança em bases mais igualitárias. Também se desejava a mudança da base dos EUA no país para fora da ilha de Okinawa. Já o Primeiro Ministro Noda, que ascendeu ao cargo em setembro passado, procurou voltar de maneira firme à forma anterior de segurança.
Apesar da crescente tensão entre China e Japão sobre território e recursos marítimos, além de uma amarga guerra no passado, Noda pretende buscar a cooperação chinesa para lidar com a Coreia do Norte, em uma visita programada a Beijing (Pequim) em 25 e 26 de dezembro. Segundo Fujimura, as instruções do Primeiro Ministro são de que o Japão precisa estabelecer uma cooperação próxima e troca de informações com os EUA, a Coreia do Sul e a China, e que o país vai trabalhar com a China para esse entendimento.
Escolha é um impulso para a Lockheed Martin
A escolha japonesa pelo F-35 vem como um bom empurrão para o programa do caça da Lockheed Martin, que foi reestruturado duas vezes nos últimos dois anos. Também se espera que aumente as chances da Coreia do Sul em seguir o Japão, encomendando 60 caças. O Japão vai pagar 9,9 bilhões de ienes por caça (aproximadamente 127 milhões de dólares) incluindo peças de reposição na fase inicial das encomendas.
Segundo o analista Richard Aboulafia, do Teal Group, “esse programa (do F-35) precisava de um endosso como esse, especialmente por parte de um cliente respeitado tecnicamente. Ainda há muitas complicações, especialmente o custo e as demandas de divisão de trabalho.” Ele também disse que o programa estava sofrendo o escrutínio de parlamentares e autoridades dos EUA que precisam ajustar (ou cortar) centenas de bilhões de dólares do orçamento de defesa ao longo da próxima década.
A derrota da Boeing poderia ser um grave revés para a companhia em seus prognósticos no mercado de caças, pois haverá poucas novas competições abertas de grande porte, segundo Loren Thompson do Lexington Institute: “O mercado está sinalizando à Boeing que seus dias no negócio de caças podem estar contados”.
Segundo o Ministro da Defesa do Japão, as empresas japonesas Mitsubishi Heavy Industries Ltd , IHI Corp e Mitsubishi Electric Corp vão participar da produção e manutenção do F-35. Por parte da Lockheed Martin, foi dito que as empresas japonesas poderão se tornar fornecedoras globais para o programa do caça se o Governo Japonês decidir relaxar o banimento, que existe há décadas, para a exportação de material militar de origem japonesa.
Dave Scott, diretor de desenvolvimento de negócios para o F-35, disse à Reuters que “a indústria aeroespacial japonesa é de classe mundial, assim, se houver um relaxamento (no banimento de exportação) seria muito lógico para eles receberem a oportunidade e, de fato, seria uma oportunidade muito boa de participar da cadeia de suprimento global do F-35.”
O Japão considera a possibilidade de relaxar seu banimento a exportações de material militar, um passo que permitiria às suas empresas disputarem contratos nos EUA, que gasta 10 vezes mais em defesa. Acabar com o banimento também permitiria que o Japão comprasse mais barato seus aviões, navios, mísseis e outros equipamentos, permitindo que seus fabricantes domésticos procurassem mercados externos para diminuir os custos de produção por meio da economia de escala.
FONTE: Reuters (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)
FOTOS: jsf.mil
NOTA DO EDITOR: o Poder Aéreo, ainda que “sem querer”, acertou mais um resultado de concorrência internacional.
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