Sem contrato com FAB, Rafale pode ser extinto
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Governo francês estuda cancelar produção se não fechar venda de caças para o Brasil
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As declarações foram feitas pelo ministro da Defesa, Gerard Longuet, e abriram imediatamente um debate no país. Horas depois, o ministro foi obrigado a emitir um comunicado para retificar sua avaliação e prometer publicamente que o avião continuaria sendo fabricado até 2030, pelo menos para suprir as forças aéreas francesas.
Mas a crise já havia sido instalada. A declaração que criou a polêmica foi a de que se o país não encontrasse compradores para seu caça, não teria outra alternativa senão a de fechar a linha de produção. “Se a Dassault não vender seu aparelho ao exterior, a cadeia (de produção) será encerrada”, disse o ministro. Segundo ele, se nenhum modelo for vendido, os jatos em fabricação hoje e que estão programados para ser entregues em 2018 serão os últimos a ser produzidos.
Longuet foi obrigado a corrigir suas declarações, insistindo que, mesmo sem vender um só jato ao exterior, a Dassault continuará sua linha de produção até 2030 para fornecer os aviões aos militares franceses.
Questionado sobre a falta de comprador, o ministro admitiu que o avião francês é mais caro que o norte-americano e que a produção em escala dos Estados Unidos reduz o custo do concorrente. Duzentos aviões Rafale foram encomendados pelo governo francês em 15 anos, enquanto os americanos produziram 3 mil.
As decepções no campo francês se acumulam. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a anunciar que havia fechado o acordo com a França, o que depois jamais foi confirmado. O avião também não está entre os favoritos para os militares brasileiros. Há um mês, foi a vez do governo dos Emirados Árabes afirmar que a negociação mostrava que o avião francês “não era competitivo” e seu preço era “irrealizável”.
Mas a gota d’água que fez explodir o debate foi a decisão da Suíça de abandonar sua ideia de comprar o Rafale e optar pelo modelo sueco, que também concorre na licitação brasileira. Berna, apesar de acumular reservas bilionárias e não estar sendo afetada pela crise econômica, optou por um avião que economizaria aos cofres públicos US$ 1 bilhão.
Para manter a linha de produção em funcionamento, o governo francês foi obrigado em 2010 a encomendar 11 novos caças à Dassault. Além do Brasil, a grande esperança dos franceses é de ganhar a licitação aberta na Índia para a compra de 126 caças, no valor de US$ 8 bilhões.
O ministro, porém, garantiu que a manutenção dos aviões em utilização hoje será assegurada pela Dassault pelos próximos anos. Segundo ele, “o fim será para o construtor, não para o usuário” que terá o avião em mãos por até 40 anos.
Repercussão. Diante da polêmica, a Dassault se recusou a comentar a declaração do ministro. Mas nem a empresa e nem o governo tem consigo evitar comentários na imprensa francesa ridicularizando a falta de capacidade do país de vender seus aparelhos. Programas de humor falam sobre o problema do Rafale, enquanto cartunistas usam os aviões não vendidos para atacar a falta de competitividade da indústria francesa.
Nos últimos meses, porém, o governo francês insiste que foi a capacidade militar do Rafale que garantiu que os ataques da OTAN sobre a Líbia tivessem resultados positivos.
FONTE: Estadão (reportagem de Jamil Chade, correspondente de O Estado de S.Paulo)
NOTA DO EDITOR: a reportagem traz um encadeamento interessante de se analisar, em relação aos acontecimentos, mas exagera um pouco a importância de uma encomenda brasileira para a Dassault, pois os contratos realmente significativos que a empresa disputa estão na Índia e nos Emirados Árabes Unidos. Trocando-se “Brasil” por “Índia” ao longo do texto, o ponto principal da matéria fica mais evidente e as declarações do ministro da Defesa Francês ganham em impacto quando se leva em conta que uma decisão indiana é esperada para meados deste mês.