Novo cenário abre brecha para Brasil rediscutir propostas

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Análise: Roberto Godoy

A possibilidade de a Dassault suspender a produção do caça Rafale muda as posições na escolha F-X2, da Força Aérea Brasileira, para compra de 36 supersônicos avançados – a rigor, o primeiro lote de um pacote muito maior, da ordem de 124 aeronaves, a ser produzido em etapas, pela indústria nacional. A proposta francesa é cara, chega aos US$ 7 bilhões, mas é a única que oferece transferência irrestrita de tecnologia, o fundamento máximo do processo. Os outros dois concorrentes, o sueco Gripen NG, da Saab, e o americano F-18 E/F Super Hornet, da Boeing, carregam diferentes dificuldades. O Gripen é o mais barato, sai por US$ 4 bilhões, mas é um projeto em desenvolvimento. O F-18 empolga os caçadores da FAB e contabiliza uma gigantesca folha de combate – todavia, há restrições do governo dos EUA à entrega do conhecimento sensível que o Brasil precisa. O preço é o intermediário alto, fica na faixa dos US$ 6 bilhões.

A declaração do ministro da Defesa francês, Gerard Longuet, abre para o governo brasileiro a oportunidade de rediscutir as linhas mestras do F-X2, como o prazo de carência para o início do pagamento principal, o acesso à tecnologia e, claro, uma significativa redução nos preços envolvidos. Simples assim.

Isso se o Rafale, o preferido do ex-presidente Lula, ainda mantiver a posição na administração de Dilma Rousseff. Bem informada, na última reunião do Planalto em que o assunto foi tratado a presidente levantou um ponto pertinente: o conjunto tecnológico oferecido pela Boeing, definido pelo governo americano como o mais amplo negociado com um país cliente, não seria o adequado para atender as necessidades da Aeronáutica? A encomenda dos Super Hornet facilitaria outro negócio, a venda do turboélice de ataque leve Super Tucano, da Embraer, para a aviação dos Estados Unidos. A aeronave brasileira é a única qualificada na escolha LAS, a Light Attack Air Suport, para fornecimento de 15 a 20 unidades destinadas a dar suporte nas ações da tropa terrestre no Afeganistão.

A transação é estimada em US$ 250 milhões, todavia, pode chegar a muito mais que isso – o plano de longo prazo do Pentágono abrange números maiores, é avaliado no patamar de US$ 1 bilhão cobrindo mais de uma centena de Super Tucanos. Um modelo de demanda pronto para ser afinado com a F-X2.

FONTE: Estadão

FOTO: Armée de l’air (Força Aérea Francesa)

NOTA DO EDITOR: essa questão do “timing” para rediscutir propostas do F-X2, levando em conta não só as necessidades da FAB mas também o cenário de selvagem competição do mercado de caças em meio a uma crise e a decisões iminentes, está também numa análise feita pelo Poder Aéreo: Depois do fim da Copa e das Olimpíadas, 2017 será o começo do fim da FAB?. O ponto principal é que o F-X2 está se tornando um programa em que o Brasil, com tanta demora em decidir, acaba largando “a faca e o queijo” que normalmente está nas mãos dos compradores e, com o envelhecimento da frota da FAB, acaba ficando mesmo é com o pires na mão. As decisões de algumas concorrências internacionais no final deste ano (como foi o caso da Suíça e, espera-se, seja o caso da Índia e do Japão) onde concorrem caças que também participam do F-X2, assim como algumas declarações desastradas aqui e ali (como a do ministro francês) podem abrir uma janela de oportunidade interessante para um programa que, na nossa opinião, já perdeu seu “timing” ideal. Mas que pode ainda ter algumas últimas chances de chegar a um bom termo, independentemente do escolhido (desde que sejam bem aproveitadas as oportunidades de negociação).

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