‘O melhor exército do mundo não é o melhor caça do mundo mais alabardas’

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Decisão do Departamento de Defesa Suíço pelo Gripen repercurte na mídia suíça e sueca. Parlamento sueco também discute o desenvolvimento de dez Gripens E/F, que são as novas versões do caça

A foto acima, tirada há pouco mais de um mês no Vaticano, talvez estivesse mais à vontade no site das Forças Terrestres, ao invés do Poder Aéreo. Mas a imagem do sonolento integrante da famosa “Guarda Suíça” apoiado em sua tradicional alabarda, combina melhor com as palavras pronunciadas pelo ministro da Defesa da Suíça do que a foto de qualquer caça, seja ele considerado o melhor do mundo ou não.

A frase do ministro da Defesa da Suíça Ueli Mauer (na verdade chefe do Departamento Federal de Defesa, Proteção Civil e Esporte – DDPS), que colocamos no título, foi pronunciada na coletiva de imprensa realizada na quarta-feira, em que foi confirmada a intenção do Governo Suíço em adquirir 22 caças Gripen, da sueca Saab. A coletiva e a nota oficial a respeito repercutiram em diversas mídias entre ontem e hoje, e trazemos aqui para os leitores do Poder Aéreo alguns trechos de matérias. A frase destacada no título é do Swiss Info.

O sueco The Local destacou outra frase de Mauer, que para alguns leitores do Brasil, talvez os de mais idade, deve trazer algumas lembranças de frase similar dita por autoridade brasileira há muitos anos (embora num contexto totalmente diferente e referindo-se a outra nação): “O que é bom para a Suécia e outros países deve também ser bom para a Suíça“. De acordo com Mauer, foram as qualidades e o preço, assim como as relações industriais com o o Grupo Saab de Defesa que resultaram na decisão.

Mauer também afirmou que “a compra do Gripen pode não significar que teremos o melhor avião de caça na Europa. Mas teremos uma aeronave que atende às nossas expectativas – e não estamos planejando quebrar nenhum recorde mundial nessa área.”

Críticos à decisão alegam que o Gripen não se saiu bem em dois dos testes realizados na Suíça. Os defensores do caça sueco argumentam que a aeronave, anteriormente, se saiu melhor, e que é o desempenho geral que conta. Porém, os críticos concordam que o preço foi o fator preponderante.

Mas o The Local também traz a repercussão da notícia entre os suecos, numa matéria com o título “Suécia deve desenvolver super jatos”, referindo-se às novas versões E/F do Gripen.

Segundo o jornal, caso a compra suíça se concretize, a Suécia deverá desenvolver dez unidades do novo e avançado modelo E/F, conhecido como  “Super-Jas”, de acordo com uma proposta do comitê de defesa (na foto acima, o demonstrador NG das futuras versões do Gripen, fotografado na Suécia pelo Poder Aéreo). Cecilia Widegren, parlamentar do grupo moderado e que está à frende dessa proposta, diz que “a decisão será levada ao comitê em 15 de dezembro”, sendo que a maioria do comitê chegou a um acordo a respeito, na condição de que “o Brasil ou qualquer outro país” faça uma encomenda do caça.

Assim, o Governo Sueco deverá decidir em 2012 sobre o desenvolvimento dessas dez aeronaves, no caso da encomenda suíça se encaminhar com sucesso. Porém, o Partido Verde sueco quer que o país modernize os caças Gripen existentes e arqumenta que o novo modelo E/F seria muito caro.

O porta-voz do partido para assuntos de defesa, Peter Rådberg, disse que é bem capaz que um “Super-Jas” seja o que a Suíça quer, o que influenciaria a decisão sueca sobre sua futura defesa aérea. Ele acrescenta que a Suíça está pagando 22 bilhões de coroas suecas (3,29 bilhões de dólares) pela encomenda, o que indicaria um custo de um bilhão de coroas suecas por caça. Para Rådberg, “isso é muito mais caro (que as aeronaves existentes). Cálculos anteriores estimaram por volta de meio bilhão (de coroas suecas) por aeronave, portanto isso indica que eles (os suíços) estão pedindo por modelos E/F, mas precisamos checar. Não temos todas as informações no momento. O desenvolvimento de dez aeronaves vai custar grandes quantias aos contribuintes.”

Por outro lado, parlamentares do Partido Social Democrata têm uma visão positiva sobre o desenvolvimento de dez super caças, caso a encomenda suíça se concretize. “Conseguir a encomenda, nesse momento, é bom para a Suécia. É importante para as Forças Armadas e para a Suécia como nação. Mostra que o Gripen é um caça e um sistema de defesa que ganhou respeito internacional, disse o social democrata Peter Hultqvist, que está à frente do Comitê de Defesa.

A Saab preparou propostas tanto das versões C/D quanto E/F do Gripen para a Suíça. De acordo com a agência TT, citada pelo The Local, foi a versão E/F que se discutiu na coletiva de imprensa suíça da quarta-feira.

Já a Radio Sweeden destacou que um referendo suíço poderá parar o processo de venda dos caças suecos. Isso porque diversos dos maiores partidos de oposição, incluindo o Partido Verde e o Social Democrata pretendem coletar as 100.000 assinaturas necessárias para garantir um referendo nacional sobre a venda. O porta-voz Social Democrata Evi Alleman disse à rádio que “nós não precisamos de nenhum avião de guerra novo, é um luxo desnecessário” (nota do editor: pelo visto, há dissenções no próprio partido, que tem um social democrata encabeçando o Comitê de Defesa da Suécia, segundo o The Local). Mas outros partidos de oposição deram seu apoio ao acordo, que deverá custar bilhão de dólares a menos que as ofertas dos competidores Eurofighter e Rafale.

O Swiss Info e o 24 heures citaram outros meios para destacar outras críticas ao jato sueco.

Uma das maiores críticas ao jato, mostrada nos jornais de ontem e hoje mas que vem de longa data, é que o caça ainda está na fase de protótipo, e pode não conseguir clientes em número suficiente para garantir que esteja (assim como suas peças) disponível quando necessário. Matéria do jornal Tages-Anzeiger, citada pelo Swiss Info, opina que um país fica “atado a um fabricante por 40 anos quando adquire uma aeronave. Mas o Gripen pode ser descontinuado se houver muito poucas encomendas.”

O jornal Der Bund, ecoando as preocupações do Tages-Azeiger, diz que “ainda que sejam resolvidas as questões parlamentares, é incerto que os 22 caças Gripen cheguem um dia a pousar na Suíça.”

O jornal La Liberté chegou a publicar uma charge mostrando Maurer perdido em meio a ferramentas, instruções e caixas de componentes do Gripen, dando a entender que os jatos poderiam não ser a pechincha que aparentam (veja abaixo). O Le Temps publicou uma charge similar.

O Le Temps descreveu Maurer como hábil pela decisão de selecionar a opção mais “modesta e módica”, destacando que o Rafale teria sido abatido por seu preço “excessivo” e devido aos “ataques verbais e à arrogante atitude de líderes franceses em relaçao à Suíça”.

Na coletiva de imprensa de quarta-feira, Maurer disse que o Gripen foi, de longe, a opção mais barata entre os três competidores, com um custo da frota de 22 aeronaves ao redor de 3,1 bilhões de francos suíços (3,4 bilhões de dólares). Sem questionar as capacidades dos outros dois caças, Maurer destacou que os custos extras dos mesmos deixariam pouca margem de manobra no orçamento de defesa como um todo, que também tem que cobrir a operação de um exército de 100.000 militares e a modernização do equipamento. Ele disse que “o melhor exército do mundo não consiste no melhor caça do mundo mais alabardas’

O Governo Suíço pretendia vetar a compra dos caças enquanto procurava por um método para financiá-los, mas ficou sob pressão do parlamento para tomar uma decisão.

Maurer disse que o Gripen foi escolhido não porque fosse o “mais recente e mais avançado caça”, mas porque era o que “mais se encaixava” para a Suíça. Mas ele acrescentou que, nas avaliações realizadas, o Gripen se saiu melhor em algumas áreas do que os outros competidores, sem dar detalhes – o Governo não pode divulgar esses dados devido a um acordo feito com os três fabricantes da disputa.

Apesar de se dizer que o Gripen que a Suíça vai comprar só existe no papel, ele será desenvolvido com base nos jatos já existentes, e é possível que a linha de montagem final seja estabelecida na Suíça.

Os que se opõem a qualquer compra de caças querem que a decisão seja levada aos eleitores suíços. Se necessário, os pacifistas do  “Grupo para uma Suíça sem um Exército” (Group for Switzerland without an Army – GSoA) e os Verdes lançarão uma iniciativa para declarar uma moratória à compra.

Uma declaração do Partido Verde alega que é “um segredo aberto” que o Gripen era o último da lista para a maioria dos membros da Força Aérea Suíça. Segundo o partido, “é concebível que o Governo, que não deseja comprar qualquer caça no momento, tenha escolhido o Gripen porque é a opção menos favorecida no parlamento.”

FONTES: The Local, Radio Sweden,Swiss Info, 24 heures, La Liberté, Le Temps, Tages-Anzeiger, Der Bund (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

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