Emirados jogaram ducha fria no Rafale, segundo o jornal La Tribune

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Matéria do jornal francês La Tribune diz que os Emirados Árabes Unidos, frustrados com a confusa gestão francesa (da oferta do Rafale) aumentaram as apostas, convidando a BAE Systems para concorrer com seu Eurofighter à oferta da Dassault Aviation

 

No domingo, o Rafale e a França receberam uma ducha fria no primeiro dia do salão aeronáutico Dubai Airshow. Os Emirados Árabes Unidos (EAU), que vinham mantendo negociações exclusivas com a Dassault Aviation para a aquisição de 60 caças Rafale, a um custo estimado entre 6 a 8 milhões de euros, revelou que pediu uma oferta comercial (RFP – Request for Proposal – pedido de proposta) ao consórcio Eurofighter (BAE Systems, EADS e Finmecannica). O anúncio, segundo o jornal La Tribune, pegou completamente desprevenidos os industriais e autoridades francesas presentes ao evento.

As discussões entre Abu Dhabi e a BAE Systems sobre a proposta comercial do consórcio Eurofighter aos Emirados começaram há menos de um mês. O grupo britânico apresentou a aeronave Eurofighter Typhoon aos Emirados no último dia 17 de outubro e estes, na sequência, solicitaram à BAE Systems que formulasse um RFP.

Autoridades e industriais franceses, entrevistados pelo jornal La Tribune no Dubai Airshow, minimizaram o fato, dizendo que é somente mais uma tática de negociação dos EAU para baixar o preço do Rafale, considerado muito caro. De fato, em 2010 os EAU requisitaram informações técnicas do F/A Super Hornet, o que não teve prosseguimento.

O ministro da Defesa, Gérard Longuet, confirmou que “esse pedido de cotação aparentemente surgiu como uma medida para animar o processo”. Ele ainda acredita que a França está próxima “do ponto final de uma negociação muito bem encaminhada.” Ele ainda disse que “cada mexida de sobrancelha ou careta pode significar o acréscimo ou corte de centenas de milhões de euros”.  Uma coisa é certa: se Abu Dhabi escolher o Eurofighter, não poderá contar com a França para retomar os 60 Mirage 2000-9 que os Emirados cogitaram vender em caso de acordo para compra do Rafale.

As luzes vermelhas se acenderam para o avião de combate da Dassault. Para um empresário, essa decisão de colocar o Eurofighter na disputa é “um sinal enviado à Dassault Aviation” O fracasso do Rafale no Marrocos aparentemente foi esquecido muito cedo.  Mas aconteceu em 2007, há relativamente pouco tempo, quando então Sarkozy decidiu constituir uma equipe francesa unida, para falar uma só voz nas grandes ofertas internacionais de equipamentos civis e militares, e em particular do Rafale. Para que o avião de combate “tricolor” (referência à bandeira francesa) finalmente conseguisse uma venda a um país estrangeiro, Sarkozy nomeou um piloto de confiança: Claude Guéant, então secretário geral do Palácio do Eliseu (Élysée, sede do Governo Francês). Foi instituída uma “sala de guerra” para essa “equipe da França”. Nesses cinco anos, os resultados foram variados, mas ao menos a França passou a falar uma só voz com seus interlocutores.

Mas o “piloto”  Claude Guéant foi para o Ministério do Interior, e a “equipe da França” ficou sem um capitão, voltando à sua cacofonia. Abu Dhabi relançou as negociações e manteve o ritmo em pleno Ramadan, ouvindo vez após outra as qualidades do Rafale da boca dos visitantes. Para a França, o assunto era mesmo julgado “menor” em face às grandes catástrofes que vinham se abatendo na zona do Euro, e o caso foi parar com Benoît Puga, oficial da Legião Estrangeira e chefe do estado-maior particular (gabinete) do Presidente da República (um dos mais altos cargos da hierarquia militar francesa). Mas o general, que se destacou por seu papel na intervenção militar francesa na Líbia (operação Harmattan) não foi considerado a melhor pessoa para a tarefa, na opinião de observadores.

Já em Abu Dhabi, a incompreensão só cresceu, a ponto de enfurecer o príncipe herdeiro, o Cheikh Mohamed bin Zayed Al Nahyan. Este ficou com a impressão de que os franceses não escutam muito bem, após fazer uma visita de algumas horas a Paris em setembro, para encontrar-se com Nicolas Sarkozy no Eliseu. A visita foi mal preparada e, ao invés de colocar as coisas em ordem, não conseguiu avançar um centímetro na venda do Rafale. Pelo contrário, o chefe de estado foi mal “brifado” (termo que designa a preparação para uma ação ou reunião), e pensava que a venda já estava enfim acertada, e abordou o encontro do ponto de vista da política regional, falando da questão Palestina, entre outras coisas. O Cheikh Mohamed partiu de Paris sem as respostas que esperava, especialmente sobre a grande diferença de preço que queria tratar. E era justamente um preço razoável uma das três demandas pessoais que ele tinha com Sarkozy. As duas outras eram um avião com desempenho melhor que o Mirage 2000-9 e que a França financiasse uma parte dos custos “não recorrentes” do Rafale.

Segundo um observador, “o ‘debriefing’ (relatório pós-reuniao) da visita do Cheikh Mohamed ao Eliseu foi violento”. Em consequência, dias depois Sarkozy decidiu confiar a missão de vender o Rafale aos EAU para o ministro dos Assuntos Estrangeiros (Relações Exteriores) Alain Juppé, para “colocar essa venda de volta aos trilhos”. Tarde demais? Os EAU, mal-humorados, devem ter achado que levou-se muito tempo para encontrar um novo chefe para as negociações. E resolveu testar os franceses chamando o consórcio Eurofighter.

Do lado francês, especialmente na opinião de Gérard Longuet (Ministro da Defesa, fotografado acima no Dubai Airshow 2011), a aposta agora é de um anúncio em 2 de dezembro, quadragésimo aniversário da federação dos EAU. E, em homenagem a esse aniversário e a mais esta expectativa de anúncio, o Poder Aéreo encerra esta matéria com uma imagem do Rafale soltando flares, ou melhor, fogos.

FONTE: La Tribune (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)

FOTOS: Força Aérea Francesa (Armée de l’air)

Colaborou: Grifo

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