Polícia Federal abate avião de contrabandistas na decolagem
“Vou bater na asa, vou bater na asa. Não atira, não”, disse o motorista. Na sequência, em meio à poeira, uma cena digna de filmes de ação, com a picape S10 blindada da Polícia Federal (PF) atingindo a asa esquerda de um monomotor no meio de um canavial em Pontal (SP), na região norte do Estado, perto de Ribeirão Preto. Foi assim que policiais federais impediram anteontem a decolagem de uma aeronave que havia acabado de aterrissar com produtos contrabandeados, avaliados em R$ 200 mil. Cinco pessoas foram presas.
A manobra foi premeditada. De acordo com o delegado Edson Gonçalves de Souza, responsável pelo setor de comunicação da PF em Ribeirão Preto, o motorista foi treinado e tinha perícia suficiente para atingir o avião sem colocar em risco os agentes.
“É um dos mais experientes condutores de viatura do Brasil e já havia conversado com pilotos sobre a melhor forma de interceptar um avião em uma decolagem. Ele dá uma ordem de comando (pedindo para o colega não atirar). Sabia o que ia fazer.”
O delegado federal também destacou a determinação dos agentes no caso. “É claro que não há treinamento ou ação premeditada que resolva se não houver ação e coragem.”
Investigação. A PF investigava o grupo havia 30 dias. O mesmo avião que transportava anteontem notebooks, impressoras, circuitos de vigilância, câmeras e bicicletas foi usado um mês antes por traficantes para levar drogas ao sul de Minas. Aviões são usados por quadrilhas para os dois fins.
Na ação de terça, dez agentes foram direcionados para canaviais para encontrar o bando. Já se sabia data e horário aproximados em que o avião deveria pousar, mas não o local exato.
Ao lado da pista, os policiais encontraram uma picape Silverado branca e uma Toyota Hilux preta, que receberiam a carga. O motorista da última conseguiu fugir, mas foi identificado.
Souza diz que o foco era a aeronave. “Pegar o avião e o piloto é sempre mais importante, porque quebra a logística da quadrilha”, explica.
Além do material apreendido no avião, os policiais encontraram na casa de um dos contrabandistas mais produtos eletrônicos e cosméticos.
Segundo a polícia, a região de Ribeirão Preto é propícia para aviões clandestinos. “É plana, com canaviais, com muitos desses corredores no meio das plantações. O barulho dos nossos carros chega antes e eles enxergam a poeira à distância”, diz Souza.
Para o chefe substituto da Divisão de Comunicação da PF em Brasília, Josiel Brito, a ação de anteontem mostra a importância de se investir em treinamento e tecnologia.
“É por isso que não adianta erguer um muro de Berlim na fronteira do Brasil. É preciso investir nos policiais. Mais da metade da droga não passa pela terra. Vem pelo ar.”
FONTE: O Estado de São Paulo, via Notimp