Os aviões turbo-hélices já foram estrelas nos céus, nos tempos românticos da aviação comercial brasileira. Até a década de 1980 era comum ver aeronaves como o Bandeirante e o Brasília, da Embraer, riscando os céus do País. Os Lockheed Electra foram os reis da ponte aérea Rio-São Paulo e mesmo aparelhos como o japonês YS-11 – apelidado de Samurai – e os britânicos Avro 748 e Handley-Page Dart Herald deixaram suas marcas. Esses astros foram se apagando ao longo dos últimos 30 anos, à medida que os velozes jatos dominaram os ares. Mas agora uma nova geração de aparelhos movidos a hélice vem conquistando as companhias aéreas brasileiras. Quem está tornando possível esse retorno é a franco-italiana ATR, a maior fabricante de turbo-propulsores do mundo, fundada em 1981. Com 50 aviões em operação no Brasil, ela quer dobrar a sua presença por aqui nos próximos anos. Há 48 novos aviões encomendados, no valor de US$ 1,1 bilhão.

Existem ainda opções de compras de outros 32. “O Brasil é uma economia em ebulição, que está expandindo fortemente as suas conexões aéreas regionais”, disse Filippo Bagnato, CEO mundial da ATR, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “As empresas aéreas regionais que voam no País precisam de aviões com baixos custos de operação para se manter rentáveis.” Entre 2010 e 2011, mais de 20% das vendas da ATR vieram do Brasil. Trata-se de um resultado impressionante para uma empresa que tem clientes em 94 países. As responsáveis pelo avanço da empresa nos céus brasileiros são a Trip Linhas Aéreas e a Azul Linhas Aéreas. Esta recebeu, em outubro, a primeira de suas 30 encomendas de aparelhos modelo ATR 72-600, com capacidade de até 74 passageiros. Ela ainda tem opções de comprar outras dez unidades. Já a Trip vai mais longe. Ela acaba de superar a American Eagle, empresa de voos regionais da American Airlines, como a maior frota de aeronaves da ATR em todo o mundo, ao assinar, em setembro deste ano, a compra de 18 aviões do mesmo modelo.

Com isso, ela terá 51 unidades nos ares, contra 39 da aérea americana. Não é difícil entender a repentina volta do interesse das brasileiras por aviões propulsionados por hélices. Com o preço das tarifas em queda e a demanda da nova classe média por viagens crescendo, as aéreas de menor porte notaram potencial para atender cidades menores, deixadas de lado por TAM e Gol. Para estruturar essas rotas com baixos custos, elas escolhem a opção mais econômica. “Quando aumenta o custo do combustível, o turbo-hélice se torna muito vantajoso para voos de curto alcance em comparação aos jatos”, diz Jorge Leal Medeiros, professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da USP. A ATR promete custos de operação 35% menores e economia de 40% de combustível diante dos jatos. A nova geração de turbo-hélices também chama a atenção por sua alta tecnologia, idêntica à das mais avançadas aeronaves do mundo. A ATR até compartilha a sua fábrica em Toulouse, no sudoeste da França, com a Airbus. Ambas fazem parte do mesmo grupo, o gigante europeu Eads – no caso da ATR, em parceria com a italiana Finmeccanica.

Mesmo os pontos fracos dos aviões movidos a hélice não prejudicam a disputa pelo mercado que desejam explorar. A menor velocidade e a autonomia de voo tornam esses modelos inviáveis apenas na competição por longos trajetos. “Em rotas curtas, de até 500 quilômetros, a velocidade não é um fator essencial”, diz Bagnato. “Um jato faria o mesmo percurso entre dez e 15 minutos mais rapidamente, mas com custos muito superiores.” A ATR ainda se beneficia da falta de competição em seu nicho de atuação. A única forte concorrente é a canadense Bombardier, com o Q400. Dessa forma, a ATR voa com poucas resistências pelo mercado global. Neste ano, ela registrou o seu recorde de vendas mundiais – superando o resultado de 2007 –, com 145 pedidos firmes e a opção de compra de outros 72 aviões. Com isso, a ATR garantiu vendas de US$ 3,2 bilhões e a possibilidade de chegar a US$ 4,8 bilhões. Apenas as encomendas garantidas fazem com que detenha 80% do mercado de aeronaves com capacidade entre 50 e 90 assentos.

FONTE: Isto É Dinheiro

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