Como o Super Tucano freou o ‘bombardeio de drogas’ na República Dominicana

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Revista Time, em sua edição da última semana de agosto, destaca a ação dos aviões produzidos pela Embraer, adquiridos a pouco mais de um ano pelo país caribenho

Cartéis de drogas muitas vezes lançam seus produtos a partir de aeronaves de pequeno porte para ser pego por traficantes no solo. Os pacotes de cocaína “caíam do céu” no interior da República Dominicana de forma tão frequente que um motorista de táxi dizia parecer “presente de Deus”, porque os moradores descobriram que podiam vender para traficantes de drogas a um preço bastante atraente. “Eles pagam melhor do que qualquer outro tipo de trabalho”, diz o taxista, que perdeu o emprego e está separado de sua esposa por causa da dependência de drogas, resultado da exposição à cocaína.

Mabel Feliz Baez, chefe do Conselho Nacional Anti-Drogas da República Dominicana, disse que a nação caribenha “estava sendo bombardeada por estes carregamentos de drogas.” Em 2007 pelo menos 200 aviões de drogas, sobrevoaram o país, lançando milhares de quilos de cocaína. Mesmo sabendo que a maior parte seguia para os EUA, os funcionários dominicanos não encontraram muita ajuda de Washington para combatê-los.

Em seguida, a República Dominicana voltou-se para um parceiro aparentemente não envolvido na luta contra as drogas: o Brasil.

Naquele ano, o presidente dominicano, Leonel Fernandez tomou emprestado US $93,7 milhões do gigante sul-americano e comprou oito aeronaves Super Tucanos, produzidos pela brasileira Embraer.

Fernandez foi bastante atacado por isso“, disse Eduardo Gamarra, um assessor do Presidente baseado nos EUA. “Isso é muito dinheiro para o país”, diz ele.

Hoje o ataque ao presidente dissipou-se: o investimento no Super Tucano provou ser uma arma excepcional na guerra anti-drogas. A partir da entrega dos aviões em 2009, a Força Aérea Dominicana afirmou que esses voos de drogas foram desviados para outras áreas e eles não entram no espaço aéreo do país.

Outros países latino-americanos, incluindo a Colômbia, que têm utilizado o Super Tucano para atacar rebeldes marxistas envolvidos no tráfico de drogas, e Peru, onde o avião abateu diversos voos não autorizados e que transportavam drogas, obtiveram sucesso com a aeronave.

Isso transformou o Super Tucano em uma esperança na luta contra o tráfico, algo bastante incomum nesta guerra. O Chile comprou o Super Tucano para treinar seus pilotos e a USAF planeja adiquirir 20 dessas aeronaves para uso no Afeganistão.

À primeira vista, o Super Tucano não parece ser um herói do combate às drogas. Com uma boca pintada no nariz e uma carlinga em forma de bolha para dois ocupantes, este avião mais parece uma relíquia da Segunda Guerra Mundial.

Mas “foi projetado para missões de combate às drogas e insurgentes”, diz Bill Buckey, um ex-piloto de caça e vice-diretor do antigo comando americano na base aérea da OTAN na província de Kandahar, no Afeganistão, que agora é o Vice-Presidente da Embraer para a América do Norte.

Talvez a principal vantagem do Super Tucano seja sua velocidade e sua agilidade no ar frente à maioria das aeronaves utilizadas pelos traficantes. Pilotos menos experientes podem dominar o avião. Também pode ser facilmente ajustado ao acompanhamento e uso de dispositivos. E suas duas metralhadoras 0,50 podem ser complementadas com outras armas como mísseis ar-ar ou, como no caso da Colômbia, armas de ataque ao solo. E, no entanto, diz Buckey, um Super Tucano “pode ​​operar em aeródromos distantes e com um mínimo de apoio.”

A aquisição do Super Tucano por países da América Central que possuem um orçamento modesto e são fortemente assolados pelo problema das drogas, como Guatemala e Honduras, deveria ser efetivada. Cerca de 15% de todos os carregamentos de cocaína que tinham como destino os EUA no ano passado, foram feitos através do meio aéreo, de acordo com a Casa Branca. Muitos destes voos vieram da América Central. Na verdade, na região norte de Petén, Guatemala, foram tantos os voos clandestinos que lá existe um verdadeiro ferro-velho de aviões abandonados e em ruínas. Traficantes de drogas removeram grandes áreas de floresta tropical protegida para construir pistas de pouso.

A ascensão do Super Tucano não foi sem controvérsia.

Em 2005, a Venezuela negociou com a Embraer a compra de pelo menos 24 dessas aeronaves. Mas temendo que o presidente da Venezuela Hugo Chavez, esquerdista e anti-americano, se armasse, o Ministério de Relações Exteriores dos EUA freou o negócio, não fornecendo permissão do uso de peças americanas. (Cerca de 70% das peças do Super Tucano e seus componentes vêm de EUA).

No ano seguinte, de acordo com documentos vazados pelo WikiLeaks, as autoridades brasileiras tentaram mudar a opinião de Washington, oferecendo suporte para um grupo anti-Chávez chamado ‘Súmate’. A Embaixada dos EUA em Caracas, de acordo com o wikileaks, rejeitou a oferta do Brasil.

Mas a oposição dos Estados Unidos em vender equipamentos que combatem o tráfico de drogas teria feito alguma diferença, especialmente para um país como a Venezuela que possui uma capacidade anti-drogas fraca e é considerada pelo Escritório sobre Drogas e Crimes das Nações Unidas como fonte de 41% de todos os carregamentos de cocaína para a Europa no ano passado?

Críticos de Chávez dizem, com tudo, que isso não teria feito muita diferença, mesmo que autoridades venezuelanas neguem. O traficante de drogas da Venezuela chamado Makled Walid reconheceu que diversos voos de drogas foram feitos pagando-se propina para comandantes do Exército e da Marinha da Venezuela.

Funcionários da República Dominicana, que trabalham no Comando Sul dos Estados Unidos, em Key West (Flórida), informam a Força Aérea Dominicana quando aeronaves suspeitas de transportar drogas são detectadas no radar se aproximam do país caribenho.

Eles afirmam que muitos dos voos utilizados para “bombardear” o país com pacotes de cocaína tiveram origem na Venezuela, mas isso começou a mudar depois que o Super Tucanos começaram a operar.

Em 2008, cerca de 73 toneladas de cocaína passaram pela República Dominicana, mas em 2010 o número tinha caído para 13 toneladas, de acordo com as informações fornecidas pelo Escritório da Casa Branca de Política Nacional de Controle de Drogas. A redução deve-se muito à melhoria da proteção do espaço aéreo do país caribenho.

No entanto, o sucesso do Super Tucano é também um lembrete de que a guerra contra as drogas tem um “efeito global” (quando a proibição ocorre em uma parte do tráfego mundial, as drogas simplesmente mudar para outro lugar).

“Nosso problema agora”, diz Roberto Lebron, porta-voz do Escritório Nacional de Controle de Drogas da República Dominicana, “é que os traficantes estão se infiltrando nas nossas costas por via marítima. Conseguimos cortar vôos, mas isso criou outros problemas para nós.”

Agora, ao que parece, alguém terá que desenvolver um barco anti-drogas. Seria o “Super-Golfinho”?

FONTE:
Time

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